Maria Flor fala sobre relação com a maconha: “Muito poderosa e bonita”
Atriz destacou que a cannabis não é uma droga da violência: “Você não vai ouvir: ´Ele fumou um baseado e bateu na mulher´”
atualizado
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A atriz Maria Flor viveu um momento de pausa para ter seu bebê e, em novembro, retorna à TV na nova novela das seis da Globo. Prestes a completar 41 anos, a artista deu uma entrevista a Revista Breeze e falou sobre a maternidade real e o trabalho na televisão.
Além disso, Maria Flor abordou a sua relação com a maconha e como foi evoluindo ao longo da vida de uma “adolescente muito maconheira” à mãe careta. A entrevista completa vai ao ar nesta quinta-feira (29/8), mas a coluna Fábia Oliveira teve acesso a alguns trechos do bate-papo com exclusividade.
“Quando eu comecei a beber, eu parei de fumar [maconha]. E eu acho a bebida uma droga muito perigosa. Muito. É muito rápido o quanto você vira dependente daquela quantidade de álcool. E o quanto você rapidamente duplica, triplica e vai indo, infinitamente, numa compulsão mesmo pro álcool. Porque o álcool, ele também te dá uma anestesiada, mas ele faz muito mal pro organismo. Você pode pegar um carro e matar alguém, você fica agressivo com o álcool, que é uma coisa que não acontece com a maconha, realmente. A maconha não é uma droga da violência. (…) A maconha é da calma, de pensar na sua vida, nas suas coisas, de sensibilizar os seus ouvidos, o seu olfato, o seu olhar. A maconha é uma substância muito poderosa e muito bonita”, contou ela.
“E hoje em dia, eu faço um consumo muito pontual. Mas sempre numa intenção de relaxamento e de baixa de ansiedade. Eu percebo que o álcool, por exemplo, quando eu consumo, no dia seguinte, eu fico muito ansiosa. O álcool me traz muita ansiedade. Tenho familiares com problemas com álcool e tenho muitos amigos com problemas com álcool. O álcool deveria ser uma droga muito mais controlada do que ela é. No Brasil somos muito viciados em álcool. Muitos acidentes acontecem por conta de álcool. Os homens bebem muito mais, e acho que no Brasil isso também gera uma série de outros problemas, como o feminicídio, como a violência doméstica. Acho que o álcool é muito gatilho pra isso, coisa que a maconha não é, de jeito nenhum. Você não vai ouvir: ´Ele fumou um baseado e bateu na mulher´. Isso não vai acontecer. ‘Ele fumou um baseado e ele bateu de carro e matou uma pessoa’, eu nunca vi no jornal isso”, completou.
Questionada se a maconha ajuda a relaxar a “Flor pistola”, a atriz disparou: “Eu acho que a gente está tão ansioso, assim, por conta das redes sociais e dessa pressão, essa aceleração do mundo. Você ter que dar conta de tanta coisa e de repente você só precisa de algo que te faça parar. Peraí, deixa eu olhar pras coisas de um outro jeito, e eu acho que a cannabis proporciona isso, você olha as coisas de outro jeito”, disse ela.
E continuou: “Eu penso coisas com a cannabis e eu acho que ela tem essa dimensão de abertura da cabeça, do pensamento, que me ajudam na minha vida cotidiana, no meu entendimento da existência mesmo. E é uma coisa que também não tenho com o álcool. O álcool pra mim é uma coisa que eu tento cada vez mais beber menos. Mas é difícil. O álcool é muito difícil porque é uma droga muito social, tá em todo lado. Você é convidada, vamos tomar um chope, vamos tomar um vinho, vamos tomar sei lá o que, e quando você vê, você passou o fim de semana todo bebendo”.
Sobre o uso de cannabis na rotina pós-parto, Maria Flor contou que não fez uso, mas descobriu outras formas.
“Eu não inclui a cannabis na minha rotina pós-parto porque ali no pós-parto me falaram que não era legal fumar durante a amamentação, foi bem dito pra mim isso, que não era recomendado mesmo nem fumar, nem beber porque tudo vai pro leite. Na adolescência fui super maconheira. Na adolescência mesmo, na escola. Quando eu tinha um namoradinho, aquela coisa, né? A gente ficava na praia tocando violão, uma coisa bem hippie. E depois eu fui aproveitando outras formas da cannabis. O THC, o óleo, o CBD”, contou.
“Então eu acho que todas essas novas formas de consumir a cannabis, que é uma erva muito poderosa, muito ligada ao relaxamento, a calma. Eu descobri muito os óleos por conta do meu cachorro que foi diagnosticado com câncer. Porque ele entrou num momento paliativo. A gente tinha que só esperar e cuidar dele pra ele ter uma passagem mais tranquila, uma morte com menos dor. E foi aí que eu fui descobrindo os óleos, mas eu sou um pouco ignorante ainda, na verdade, em relação a isso. Mas foi aí que eu fui entendendo e entendendo como ele melhorava. E eu acho tão legal isso”, completou.
A atriz ainda criticou a não legalização da maconha no Brasil.
“E eu acho muito triste que o Brasil seja ainda esse país hipócrita que não legaliza a maconha. É muito reacionário mesmo por parte dos nossos governantes, e uma falta de entendimento do bem que isso poderia fazer para a política, para a sociedade, como isso diminuiria a violência, como isso diminuiria o tráfico de drogas. E tantas outras drogas são liberadas. Isso é uma coisa que também. Tanta gente viciada em ansiolíticos, que poderiam estar usando uma planta que talvez funcionasse muito melhor pra elas. Essas pessoas fossem ser muito mais saudáveis do ponto de vista psíquico, mesmo. E físico. Porque gera muito menos dependência”, falou ela.
Maria Flor também defendeu o uso: “Ela não é uma droga. A maconha é uma planta, e ela está ligada ao prazer, por exemplo, da alimentação. Pessoas que têm câncer e que consomem a cannabis, se alimentam por conta disso. E têm vontade de comer por conta disso. Várias vezes eu recebo abaixo-assinados ou sei de instituições fazendo experimentos de liberação do óleo pra crianças que sofrem vários tipos de doença. Agora a gente liberou o porte. Quem sabe as pessoas não vão mais ser presas injustamente nem serão assassinadas por conta de gramas de maconha”, disparou.
Sobre os psicodélicos, a atriz Maria Flor afirmou “ter muito medo”. “Tenho um medo terrível, acho que eu jamais terei coragem. Tenho um medo terrível. A cannabis te dá uma alteração, mas é uma alteração muito controlada, né? O máximo que pode acontecer com você é você dormir (risos). Esse negócio de passar mal, de ver cor, não quero ver coisa, não. Não quero ver coisa. De repente você ter uns insights com pessoas que morreram, também não quero. Não quero nada disso”, destacou ela.
Já sobre o cogumelo, ela pontuou: “Eu comi uma vez e eu acho que eu fiquei tão preocupada com o que eu ia sentir que eu comecei a ficar muito ansiosa e me deu muito bad vibe. Fiquei pensando: ‘Ah, eu vou ter alucinação. Ah, eu vou ter coisas’. Uma vez eu tomei uma gota de LSD, foi uma experiência muito dura, mas fantástica, de um entendimento da minha insignificância diante do universo e ao mesmo tempo da beleza de estar aqui junto com esse universo existindo”.
Carreira e volta à TV
Na entrevista, Maria Flor falou sobre os desafios em conciliar a maternidade, com cuidar da casa, marido e voltar ao trabalho.
“Esse eu acho que é o nosso maior desafio de ser uma mulher contemporânea e brigar por essa mulher, né? Porque é muito difícil e, ao mesmo tempo, às vezes, eu tenho vontade, tipo, cara, eu não vou fazer nada, sabe? Dane-se que não tem comida na geladeira. Tipo, eu não aguento mais. Eu não quero mais cuidar desse bebê, entendeu? Eu não quero brincar de bombeiro, eu não quero ler o oitavo livro antes de dormir”, disparou ela.
“Eu acho que essa pressão é muito nossa, é muito mais uma pressão minha comigo mesma, do que uma pressão, sei lá, da minha família, ou do meu companheiro, ou de quem quer que seja. Eu quero ser essa mulher múltipla, que é criativa e trabalha fora, e ao mesmo tempo é boa mãe, ao mesmo tempo cuida da casa, tem uma casa”, completou.
Maria Flor falou sobre o seu papel na nova novela das seis da Globo, que se trata de uma mulher da década de 1950. A atriz refletiu sobre as semelhanças que encontra nos pensamentos daquela época e nos dias de hoje.
“Você sabe uma coisa muito louca que eu estava pensando? Eu tô fazendo uma novela agora, que é uma novela das seis, tem uma personagem muito legal que chama Anita, por coincidência. Ela chama Anita, e ela é uma mulher… A novela se passa na década de 50, então ela é uma mulher dona de casa nos anos 50. E eu comecei a estudar como eram essas mulheres no Brasil, como eram essas mulheres nos anos 50, quais eram as ambições delas, quais eram os objetivos, quais eram as funções. E eu comecei a perceber como essas mulheres são próximas da gente, como a gente tem no nosso DNA, na nossa pele, na nossa carne, ainda essas mulheres dos anos 50”, refletiu.
Ela continuou: “A gente ainda quer ter a casa perfeita, arrumada, bonita, a gente ainda quer comer com a família toda ali reunida, e eu amo fazer isso. Por mais que seja uma coisa um pouco… Ah, é careta, mas eu amo quando senta todo mundo na mesa à noite, eu, o Emanuel, o Martim, que é meu enteado de 10 anos, e o Vicente, de 2 e meio, na cadeirinha dele, e todo mundo come junto, e o Martim conta da escola. Então isso ainda tá… As coisas boas e as coisas ruins também, que é de uma certa perfeição, de uma certa… Ai, minha casa precisa estar impecável, linda, e precisa ter flores, e precisa, sei lá o quê. Isso eu acho que é uma coisa que eu tento um pouco me desapegar”.
“E eu acho que pra mim o Vicente foi muito importante nessa desconstrução também dessa minha vontade de perfeição, de ter tudo muito organizado e fazer milhões de coisas. Não, às vezes eu não vou conseguir fazer milhões de coisas, vou conseguir fazer duas coisas. O bebê, ele tá o tempo todo te colocando no presente. Eu quero comer agora, eu tô chorando agora, o meu mamá é agora. Então, é o presente o tempo todo. Então, isso é muito legal também de aprender com eles”, completou a atriz.
Sobre a expectativa do retorno à TV, Maria Flor pontuou que volta mais madura após a maternidade.
“Eu acho que eu amadureci. Meio cafona falar isso. Mas eu acho que eu amadureci muito com a chegada do Vicente. E agora, voltando pra televisão com essa bagagem. Então, de uma forma muito mais madura, muito mais focada no meu trabalho de atriz, de como eu posso construir para um melhor personagem. E sendo menos invadida pelo ambiente todo, da celebridade, do sucesso, que eu acho que é o que atrapalha um pouco o trabalho do ator. Então, eu acho que nesse momento eu tô construindo a melhor Anita que eu posso construir. E trabalhar nela, e fazer ela ser a personagem que ela pode ser”, desabafou.
Seguidores nas redes sociais
Ainda à Revista Breeze, atriz Maria Flor falou sobre a pressão pro seguidores nas redes sociais e a necessidade que todos os artistas também se tornem influenciadores.
“Eu acho uma loucura, né? Porque eu acho que, às vezes, você virou um pouco… Pra todo mundo, pra todas as profissões, virou um pouco. ‘Ah, eu vou num médico’. Aí você vai ver se o seu médico… O médico que a sua amiga te indicou, que alguém te indicou, você vai ver se ele tem um Instagram pra você ver a cara dessa pessoa. Ou pra você ver como é o reels que ele tá fazendo. Por quê? Se antigamente eu ia só no médico e ia encontrar aquela pessoa e ia falar: ‘ah, legal essa pessoa’. Ou não, não bateu essa pessoa. E eu acho que a gente deveria continuar sendo assim. Porque agora realmente a gente precisa ter esse espaço, que é um espaço de autopromoção o tempo todo, então você tá o tempo todo se autopromovendo pra você existir no mundo, pra que as pessoas te olhem, e pra que as pessoas venham até você. Você é um ator, você tem que tá lá existindo, dizendo: ‘eu tô fazendo isso, eu tô lançando isso'”, analisou ela.
Ela completou: “Eu acho uma maluquice que você, além de tudo que você tem que fazer pra ser um profissional no Brasil, e sobreviver do seu trabalho, você ainda tem que ser um empresário de você mesmo nas redes sociais, uma pessoa que fica se autopromovendo nas redes sociais, pra continuar existindo pras pessoas”.
A artista pontuou as dificuldades que sente em relação a ser ativa nas redes sociais. “Eu tenho tido muita dificuldade com o Instagram nesse momento, não tenho conseguido postar nada, não tenho conseguido falar nada. E sempre acho que é muito pouco o que a gente faz com a ferramenta. Eu não quero realmente me postar de biquíni, não que eu já não tenha postado. E acho que tem gente que quer postar, e posta, seja feliz, faça o que você quer. Mas eu não quero me postar de biquíni mais. Eu não tenho interesse nisso. Não é o meu corpo que eu quero que as pessoas queiram ver. Não tenho vontade de postar muito a minha família. Porque é a minha família, é o que eu tenho de mais precioso. Eu vou ficar expondo eles? Eu não sei se eu quero isso também”, destacou.
E acrescentou: “Nesse momento eu tô bem em crise com o Instagram e com as redes sociais, de uma forma mais abrangente porque eu não consigo entender como usar essa ferramenta pra que ela tenha algum sentido pra mim”.