Ex-hacker Daniel Nascimento sobre João Guilherme em filme: “Surreal”
O ator foi o escolhido para dar vida ao ex-hacker no filme O Rei da Internet; empresário conversou com a coluna, com exclusividade
atualizado
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Daniel Nascimento se destacou como um dos maiores hackers do Brasil e sua história vai virar um filme, previsto para ser lançado em 2025. O empresário conversou com exclusividade com a coluna Fábia Oliveira e falou sobre o projeto.
Em O Rei da Internet, quem interpretará Daniel será João Guilherme. O longa-metragem é dirigido por Fabrício Bittar e ele também assina o roteiro ao lado de Vinícius Perez, e baseado no livro DN pontocom: A Vida Secreta e Glamourosa de um Ex-Hacker, de Daniel Nascimento e Sandra Rossi, que retrata a história real do ex-hacker.
“O elenco do filme é fantástico, o diretor é fantástico, enfim, toda a programação do filme foi algo muito bem. O protagonista, que é o João Guilherme Ávila, eu achei perfeito para o Daniel da época”, declarou ele à coluna. “João Guilherme foi uma escolha incrível. Surreal”, falou.
Atraído pelo deslumbramento de carros, mulheres e poder, Daniel Nascimento mergulhou no mundo virtual e se envolveu com criminosos. Além de ter feito parte de uma organização criminosa que movimentou milhões de reais, ter vivido intensamente uma vida de ostentação, o ex-hacker foi alvo de uma operação da Polícia Federal. Tudo isso antes de completar 17 anos.
“Eu não me arrependo de nada do que eu fiz. Não tenho arrependimento nenhum. Não lesei ninguém, não roubei ninguém, não fiz mal pra ninguém, sabe? Muito pelo contrário, fiz bem pra muita gente”, afirmou Daniel.
Nascimento ainda revelou o que tem achado do filme, contou como contribuiu para o projeto e abriu o jogo sobre a principal lição que a sua história deixou para ele mesmo.
Confira a entrevista completa com Daniel Nascimento:
Pode contar um pouco da sua historia para quem não conhece?
A minha história é de um garoto comum que acabou sofrendo um pouco de bullying, que não teve uma boa aceitação social, o que reprimiu esse menino, no caso eu quando mais novo. Foi indo, eu acabei me isolando porque eu não tinha vocação para muitas coisas, nem para esporte, nem pra nada. Eu ia mal na escola, enfim, era um péssimo aluno. Aí eu comecei a me conectar com o computador. Eu ganhei o meu primeiro computador nos anos 2000 e comecei a me dedicar ao computador. Mas tem um porém: sempre, sempre, sempre, quando eu tive acesso ao computador, eu já queria ser um hacker. Esse sempre foi um sonho que eu tive.
Como é ter um filme inspirado na sua história?
Olha, é surreal, né? O elenco do filme é fantástico, o diretor é fantástico, enfim, toda a programação do filme foi algo muito bem. O protagonista, que é o João Guilherme Ávila, eu achei perfeito para o Daniel da época. E todo o time teve um preparo, até carro a gente capotou… Foi demais! Demais mesmo!
Pra mim, ter um filme é uma realização, é uma forma de e deixar minha marca no mundo, sabe? Eu acho que eu estou conseguindo fazer isso, né? Com meu livro, com os meus trabalhos, agora com o filme. Eu estou conseguindo deixar uma marca. E também uma mensagem de conscientização para os outros garotos que estão perdidos e podem seguir uma carreira, podem se inspirar nisso. Como eu já inspirei muitos garotos, espero esperar mais para um trabalho, para uma coisa saudável, uma coisa sadia.
De quem partiu a ideia do filme? Como chegaram até você e como foi pra você essa ideia?
Bom, nós lançamos o livro, né? Um livro que foi polêmico, muito polêmico, no seu início. Eu lancei em dezembro de 2014 e, dois meses após o lançamento do livro, em março de 2015, eu fui convidado a ir ao programa do Danilo Gentilli. O Danilo já tinha lido o livro junto com o Fabrício Bitar, que é diretor de cinema, e o Fabrício se apaixonou pelo projeto, ele comprou o projeto.
Recebi a proposta dele, tive outras inúmeras propostas, várias reuniões com o passar dos anos a respeito disso, mas o Fabrício é um diretor que entende aquilo que aconteceu. Ele sabe colocar pra fora, administrar exatamente aquilo como foi. Apesar de outros diretores serem renomados, essa qualidade de filme, na minha opinião, não seria a mesma se não fosse o Fabrício.
Você participa/participou de alguma etapa do filme? Entrevista, roteiro, filmagens, aparece no filme, dá dicas…
Sim, eu participei de uma parte da leitura e de algumas correções no roteiro, né? Lembrando que o diretor é o Fabrício Bitar, então eu não tenho nenhum direito de alterar alguma coisa. Então, o que eu posso fazer, na realidade, é opinar, mas a decisão final é dele.
O filme foi gravado da forma que ele quis, que ele enxerga, claro, baseado na minha história, porém eu não me meti na gravação, nem em nada. Muito pelo contrário, eu fui até um pouco afastado, porque o maior interessado em divulgar o filme sou eu, né? É meu filme, a minha história, então eu entendo o Fabrício, ele me tinha no filme como a pessoa mais perigosa. Por que perigosa? Porque eu podia vazar o filme. Eu sou o maior interessado nisso. Então tem essa questão. Mas sim, participei dessas etapas, participei de etapas com o João Guilherme, enfim, sempre estava conectado com todos os atores.
O João Guilherme foi o escolhido pra viver você no cinema. O que você achou disso?
João Guilherme foi uma escolha incrível. Surreal! É o João Guilherme. Hoje, na minha opinião, dos atores jovens, pessoal de 20 e poucos anos, o João é o melhor.
O João tem características minhas, do meu passado, quando eu era garoto. O João incorporou o personagem, se dedicou ao projeto. Para mim, eu não tenho o que falar. O João é o cara, eu respeito muito e eu me sinto honrado de ter ele no filme.
Você deu alguma dica pra ele, bateram algum papo para a preparação dele nesse papel?
Não, eu não dei muita dica pra ele não. A gente conversou algumas vezes, mas o João é um cara rápido, não precisa de muita oficina. O João pega rápido as coisas, já pegou roteiro, já colocou peruca, já colocou o cabelo igual meu cabelo como era antes. Enfim, o João é bom, é bom no que faz, não adianta.
Olhando pro passado hoje, o que você diria para o hacker Daniel Nascimento daquela época?
Eu acho que um pouco mais de controle, um pouco mais de serenidade. Seria bom. Eu não me arrependo de nada do que eu fiz. Não me arrependo. Não tenho arrependimento nenhum. Não lesei ninguém, não roubei ninguém, não fiz mal pra ninguém, sabe? Muito pelo contrário, fiz bem pra muita gente. Agora, talvez você um pouco mais pragmático, mais leve, não tão eufórico como eu era antes. Mas normal, né? Um garoto tem tudo na vida, do nada cai tudo na sua mão, o garoto se vislumbra.
A previsão é que a estreia do filme aconteça em 2025. Você vai querer assistir o resultado no cinema, como um telespectador mesmo?
Eu vou na pré-estreia. Eu tenho o costume de não assistir entrevistas que eu faço ou coisas que eu faço assim, não gosto de ver. Eu nunca li minha biografia, eu nunca li meu livro. Ele foi escrito, fechado e eu não sei até hoje o que está escrito lá. Eu sei o que eu vivi. Então, eu imagino o que está escrito lá. Mas eu não li.
Então assim, eu vou na pré-estreia do filme, que é mais oba-oba, vai estar o pessoal, mas eu vou como telespectador, como anônimo. Isso eu vou fazer.
Qual é a principal lição que a sua história deixou para você mesmo?
São tantas lições, né? Acho que é tão difícil você elencar uma lição… Família, proximidade da família. Humildade, muita humildade, pós-história, né? Dar mais valor à vida. Não a vida material, mas a vida como ela é. Hoje eu vivo uma vida tão tranquila, tão sem luxos. Eu era viciado em luxo, viciado em carro, viciado em locais nobres, viciado em tudo que é isso. Hoje nem carro eu tenho, eu não estou nem aí, sabe? Não que eu não tenha condições de comprar, mas eu não quero. Eu não quero mais, entendeu? Chega. Acho que é isso.
E a proximidade com a família, né? Porque eu saí muito cedo de casa e acabei vivendo parte da minha vida fora de casa. Então, hoje eu estou próximo da minha família e isso pra mim é muito importante. Uma das coisas mais importantes, se não a mais importante, é a família. Você curtir seus pais, curtir esse tempo, porque ele não é eterno, né? E se eu continuasse naquele ritmo, eu nunca ia fazer isso. Então, eu acho que é isso.