“Ele acabou com minha vida”, diz Lilly Martins sobre irmão de Virginia
Ela conversou com a coluna enquanto aguarda as investigações contra William Gusmão, após o Ministério Público devolver o caso para a polícia
atualizado
Compartilhar notícia
Há dois meses, a vida de Lilly Martins virou de cabeça para baixo. O que era para ser uma noite de curtição e festa ao lado da esposa, Juliana, terminou na delegacia. Acontece que a bombeira civil acabou acusando o irmão de Virginia Fonseca, William Gusmão, de importunação sexual. De acordo com a denúncia feita por ela, o empresário colocou as mãos dentro de suas roupa várias vezes.
Em um bate-papo exclusivo com esta colunista que vos escreve, Lilly abriu seu coração, relatou que o caso a fez recordar de abusos sofridos na infância, relatou como está se sentindo após toda a confusão e revelou detalhes da fatídica noite, que foi parar na Justiça.
Veja a entrevista completa:
Quando você saiu naquele dia, imaginou que passaria algo assim? Ou só queria se divertir?
Jamais passou pela minha cabeça que eu iria passar por isso. Nós saímos pra nos divertir — eu, a Juliana (esposa de Lilly). A cunhada da Juliana mora em Jussara, na roça, e nós íamos muito pra lá, muito mesmo. Aí, uma vez que nós fomos, eu vi escrito Revoada (nome da festa). Então, eu falei: ‘Ju, vamos’. E ela: ‘Como nós vamos? Não conhecemos ninguém’. Comprei o ingresso e tenho guardado até hoje. Saímos de Goiânia pra ir na festa. Fomos pra nos divertir. Jamais, na minha vida, eu iria imaginar que esse homem estava lá. E como eu o vi ele lá e sabia que ele era irmão de uma influenciadora que eu seguia, resolvi pedir pra tirar uma foto com ele. E aconteceu o que aconteceu.
O que aconteceu no momento em que você foi filmada com o William?
Quem filmou foi a Juliana, minha esposa. Por que que ela filmou, Lilly? Porque, simplesmente, já era a segunda vez que ela enfiava a mão nas minhas partes íntimas, na minha b*nda. A primeira foi quando eu tava fazendo o bumerangue e outra vez foi quando ele saiu me puxando pra procurar o amigo dele, que eu nem sabia quem era. E, aí, a Juliana queria dar uns tapa nele e eu falei: ‘Ju, não faz isso porque a gente vai sair como errada’. E foi quando ela pegou meu celular pra filmar. Na hora que ela começou a filmar, eu não aguentei: já fui pra cima dele falando umas boas pra ele. No vídeo, você vê que eu bato no meu peito e falo: ‘Não é porque você é irmão da Virginia e você tem dinheiro, que tem que ser a mão das minhas partes íntimas’. E no outro vídeo eu falo que eu vivia na delegacia denunciá-lo.
Você já o conhecia? Sabia que ele era e que era casado?
Eu já conhecia ele por conta dos stories da Virginia. Além disso, eu também seguia ele e a Melody, esposa dele. Ainda segui achando que ele era uma pessoa do bem, que respeitava a mulher que estava com ele. Mas não, me enganei completamente.
No dia da gravação, você estava acompanhada na festa. Ainda continuam juntas? Como ficou o relacionamento?
No dia da festa e da gravação, eu estava acompanhada da minha esposa Juliana, com quem sou casada há 6 anos. E nós continuamos juntas, sim. Por quê? Porque ela sabe quem eu sou, sabe da minha orientação sexual e ela viu a minha cara na hora que esse homem enfiou a mão nas minhas partes íntimas. Depois que ele rodou a festa comigo, saiu me puxando e me abraçando, falando pra procurar o amigo dele, ele repetiu o ato e ela viu com os próprios olhos dela. Então, ela chegou por trás dele e falou: ‘E, aí, até que horas você vai ficar colocando a mão dentro da roupa dela?’. Aí, ele perguntou quem ela era e ela se identificou. Nesse momento, tive que puxar a Juliana, senão ela ia partir pra agressão e eu não queria que a gente perdesse a razão. Então, continuo casada com a minha esposa porque ela viu tudo, ela sabe quem eu sou. Nós temos 6 anos juntas e, se Deus quiser, vamos ficar juntas por muito mais tempo ou pro resto da vida.
Depois da repercussão do caso, como foi tomar a decisão de denunciar?
Após ele enfiar a mão nas minhas partes íntimas, eu já sabia que eu ia denunciar ele. Não tinha Polícia Militar no momento que ele fez a importunação sexual comigo. Ele enfiou a mão dentro minha roupa por duas vezes e eu não tive reação nenhuma, como eu não tenho reação de muitas coisas impactantes que acontecem na minha vida. Parada eu fico, parada eu eu continuo. A partir daquele momento que eu me senti estuprada, que ele enfiou a mão lá ‘dentrão’, eu juro pra você que eu pensava: ‘Eu tenho que ir na delegacia, tenho que denunciar esse homem’. E, mesmo assim, ele ficou me perseguindo na festa. Só que a delegacia de lá só funciona de segunda a sexta-feira pra denúncias.
Como se sentiu ao chegar na delegacia?
Eu e a minha esposa nos sentimos humilhadas na delegacia, as pessoas trataram a gente com descaso. Cheguei lá e a moça já me reconheceu porque os vídeos já estavam rodando. Aí, eu falei ‘vim fazer uma ocorrência’. Ela: ‘Por assédio?’. E eu confirmei. Ela então entrou em uma sala, fechou a porta, saiu e foi pra outra sala onde ficou uns 50 minutos com outro moço. Depois, disso, voltou pra sala dela e ficou rindo com as amigas olhando o celular. Quando estava dando o meu depoimento, ela falou: ‘Uai, mas no vídeo você beija’. Eu falei: ‘Moça puxa esse vídeo. Ele realmente vem pra encostar a boca em mim e eu saio. Porque ali eu estou discutindo com ele’. Eu me senti humilhada, maltratada, as pessoas trataram a mim e a Juliana como indiferença. Ela já sabia de tudo porque o William lá em Jussara ele deixa claro que ele é famoso e que é irmão da Virginia. Eu fiquei sabendo disso depois que ocorreu essa situação toda comigo e as pessoas de lá mesmo me mandaram mensagem.
Você fechou os comentários das suas redes sociais. Foi por conta dos ataques? Como você recebeu tudo isso?
Fechei os meus comentários porque as pessoas estavam me xingando. Elas não estavam ali falando do assédio, só falavam da minha aparência, do meu cabelo, da minha barriga, do meu nariz, que eu era gorda e que eu era feia. Me xingavam de p*ta, vag*bunda, interesseira, biscoiteira, macaca, preta, entre milhares de xingamentos. E, aí, como aquilo tava me atacando, me ferindo, me fazendo ter crises de ansiedade, quase entrando em depressão, resolvi fechar. Porque a psicóloga falou pra eu me fechar, não ficar vendo esses ataques nem respondendo nada no direct porque ia me fazer mal.
Além dos ataques, teve quem te apoiasse nesse momento difícil?
As pessoas que me apoiaram foram: a minha esposa Juliana, a minha mãe e a minha irmã. Porque elas me conhecem, sabem quem eu sou e sabem que jamais eu iria inventar qualquer tipo de situação. Elas acreditam em mim. E teve o advogado que me apoiou, me escutou. Quem me conhece realmente sabe como eu sou, que nem de mentira eu gosto. Eu não tive apoio da polícia e de mais ninguém. De resto, só xingamento.
Quais são as suas expectativas para essa nova investigação determinada pela Justiça?
Minhas expectativa é que ele seja indiciado, que a polícia veja a verdade, que pague por todas as minhas noites maldormidas, por todos os choros meus e da minha família, que ele pague por tudo, principalmente pela importunação sexual, pois ele fez voltar ao meu trauma de quando eu tinha sete anos e fui abusada. Por conta disso, tive que voltar a tomar remédio. Que a polícia faça a investigação certinha, da forma que deveria ter feito e o delegado não quis fazer, como escutar as testemunhas que estavam presentes. Quero muito que a Justiça seja feita. Eu acredito, primeiramente, na justiça divina e, depois, na Justiça da terra. Porque tarda, mas nunca falha. Eu quero que ele seja indiciado e aprenda uma coisa: a gente jamais coloca a mão dentro das partes íntimas da pessoa se ela não permitir. Vieram várias pessoas, vítimas dele, falando: ‘Nossa, ainda bem que você teve coragem porque eu não tive, ainda bem que você está fazendo Justiça por nós todas’. Então, ele tem que pagar por tudo o que ele me fez e pelas outras pessoas.
Você disse que a atitude do William te fez recordar de abusos que sofreu na infância. Pode nos contar o que aconteceu e como isso te afeta até hoje?
Quando uma pessoa da minha própria família abusou de mim, ela me colocava na cama, eu tinha de 6 pra 7 anos, eu ficava sempre virada pra parede e o abuso era sempre por trás. Com isso, eu não conseguia manter uma relação sexual com ninguém. Quando a minha primeira esposa, com quem fiquei por 5 anos, tocava em mim, eu pulava. E ela falava que eu era muito estranha. Aí, quando eu fiquei com a Juliana, que já tinha mais maturidade, aconteceu um episódio parecido e ela pediu pra eu ir na psicóloga pra eu saber o que era isso. E a psicóloga identificou que minha reação era por conta dos abusos e deu alguns conselhos. E foi assim que aconteceu com o William: quando ele colocou a mãe por dentro da minha roupa, não tive reação, fiquei parada e não sabia o que fazer. Do mesmo jeito que eu estava, fiquei. E as pessoas falando que eu estava rindo. Não! Foi porque eu não consegui reagir. Parece que, naquele momento, passou um filme na minha cabeça e eu não conseguia fazer nada. Chegou um ponto que eu só sabia chorar e pedi à Juliana pra me levar embora.
Passados dois meses do caso, como você está (a cabeça, o coração)?
Dois meses sem Justiça, sem nada, um monte de ataques e as pessoas me xingando. A minha cabeça está a mil, só consigo dormir a base de medicamento, não consigo viver se não tomar remédio contra crises de ansiedade. Estou semopre chorando e pensando: ‘Oh, Deus me ajuda, faz justiça. Que o Senhor coloque a verdade na frente desses policiais, do Ministério Público’. E Deus vem me horando. E o meu coração sempre fica aquela a palavra de Deus dizendo ‘eu vou te honrar, filha’. Estou vivendo à base de medicamento e de choro. Às vezes, bate um desespero ao pensar que não existe Justiça. Porque eu vejo várias pessoas me mandando mensagem falando moça que pra pobre não existe justiça, mas eu tenho que confiar que existe, sim. E eu vou até o final, de cabeça erguida. Porque o certo, é certo. A verdade sempre tem que prevalecer e eu acredito nisso. Mas, não vou mentir, estou passando maus bocados. Nunca tinha imaginado que eu ia voltar tudo aquilo que eu passei dos meus 7 aos 18 anos. Ao tratar com psicólogos que fui entender as coisas e, mais uma vez, eu com 28 anos, volta tudo por causa desse homem. Eu não consigo, mais uma vez, sorrir por causa de alguém que faz inferno na minha vida, que me machuca.
Você disse que está fazendo terapia. Isso tem te ajudado a recuperar a força e autoestima?
Estou fazendo terapia, tratando com psiquiatra e tomando medicamento. E vou te contar uma coisa: quando estou tomando um remédio, até que meio que eu esqueço um pouquinho das coisas e vou tentando pensar em outras coisas. Se eu paro de tomar o remédio, tudo volta: o choro, o desespero, as crises de ansiedade. Quando eu vou fazer terapia e alivia, mas quando chego em casa, tudo volta, principalmente ao entrar no Instagram e ver aquele monte de coisas, mensagens, esse homem debochando da minha cara: até de javali e de animal esse homem me chamou. As pessoas me mandam o que ele fica soltando, as mentiras. A advogada dele me perseguiu, mandou áudios pra mim, me ligou, telefonou pro meu trabalho pra eu perder meu emprego e ela perseguiu a mim e a Juliana de carro. Eu a denunciei e ela foi indiciada por perseguição. Ela tentou me comprar também. No momento, a terapia vai dando certo, mas quando saio de lá, tudo volta. Eu só quero Justiça. A justiça divina eu sei que nunca falha e a da terra também não vai falhar. Sobre a minha autoestima, nem me olho no espelho porque não consigo. Esse homem acabou com a minha vida, essa é a verdade.
O que você sentiu ao descobrir que o delegado é amigo da família de Virginia Fonseca?
Fico com medo em saber que as pessoas, ao invés de fazer Justiça, e elas agirem pelo lado da maldade. Por que não fazem o certo? Eu fui lá, dei meu depoimento, fiz tudo certinho. E as pessoas, só porque são amigos de fulano, de sicrano, que tem mais dinheiro, deixa a vítima isolada, cala a vítima. Eu vejo uma foto dessas (do delegado ao lado de Leonardo e Zé Felipe), me dá desespero em pensar que nada pode acontecer.