Do glamour do Festival de Cinema de Cannes às batalha de Israel
Correspondente internacional da RedeTV!, a jornalista Érika Abreu vivenciou dois lados antagônicos da profissão
atualizado
Compartilhar notícia
No dinâmico e imprevisível mundo do jornalismo, Érika Abreu vivenciou duas realidades completamente distintas: de um lado, a brutalidade da guerra em Israel e, do outro, o brilho deslumbrante do Festival de Cinema de Cannes.
Esses extremos, entre o horror do conflito e o encantamento da arte, não só transformaram sua carreira, como também moldaram profundamente sua visão sobre o papel do jornalismo e a resiliência emocional necessária para enfrentar desafios tão contrastantes.
A chegada de Érika Abreu a Israel aconteceu em setembro do ano passado, inicialmente para participar de uma excursão turística e produzir reportagens sobre pontos emblemáticos do país. No entanto, em 7 de outubro, o cenário mudou radicalmente: eclodiu a guerra, surpreendendo tanto turistas quanto os locais.
Diante dessa nova realidade, enquanto muitos procuravam maneiras de retornar para casa, a comunicadora tomou uma decisão corajosa: permaneceu no país e começou a cobrir o conflito para a RedeTV!, onde trabalha desde 2014.
Sem experiência prévia como correspondente de guerra, Érika se lançou nessa missão, contando com o apoio de amigos e colegas de outras emissoras brasileiras que também cobriam o conflito. Os primeiros dias foram marcados por medo e incerteza, o que a levou a pensar em desistir várias vezes.
Um dos momentos mais aterrorizantes, de acordo com ela, ocorreu quando um foguete lançado pelo Hamas atingiu uma área a apenas 300 metros de onde estava. Essa proximidade com o perigo a fez repensar o papel do jornalista em zonas de conflito e o sentido da cobertura que fazia.
“Foi a esperança deles que me deu forças para continuar”, recordou Érika, antes de completar: “Ver pessoas de diferentes religiões se unindo para ajudar o próximo, sem barreiras, me trouxe a coragem que eu precisava”, afirmou, em um bate-papo com a coluna.
Após quase um mês no país, Érika retornou à Inglaterra, onde reside, mas as memórias da cobertura em Israel permaneceram vivas. Uma das experiências mais marcantes foi a entrevista com a mãe de Mia Schem, uma jovem israelense sequestrada pelo Hamas durante o Festival Supernova, no deserto israelense em 2023. A mulher, profundamente emocionada, demonstrou uma fé inabalável na libertação da filha. Quando Mia foi finalmente libertada, seu espírito de luta tornou-se um exemplo para todos.
“A coragem desse povo, tanto israelenses quanto palestinos, ficou gravada na minha memória. A dor é compartilhada por ambos os lados e a esperança pela paz ainda persiste, apesar de tudo”, apontou.
Com a experiência intensa e a proximidade constante com o perigo, Érika percebeu a necessidade de cuidar da sua saúde mental. Viver tão perto da destruição e da morte foi um enorme teste emocional. Isso a levou a buscar equilíbrio, enquanto processava os horrores que havia testemunhado.
Foi então que veio um novo desafio: cobrir o Festival de Cinema de Cannes. Esse convite foi um contraste absoluto com a realidade vivida em Israel. Passar de uma zona de guerra para o glamour do tapete vermelho de Cannes foi uma transição marcante. No evento, Érika teve a oportunidade de explorar um lado mais leve e criativo do jornalismo, destacando o valor da arte e da cultura.
Entre os destaques de sua cobertura, a jornalista entrevistou grandes nomes do cinema brasileiro e internacional. O cineasta Karim Aïnouz, figura constante em Cannes há duas décadas, retornou ao festival em 2024 com seu novo trabalho, Motel Destino. Ela também conversou com nomes como o ator Fábio Assunção e o renomado cineasta norte-americano Oliver Stone.
Vencedor de quatro Oscars, Oliver Stone apresentou em Cannes seu novo documentário, Lula, que narra a trajetória do presidente brasileiro desde sua infância em Pernambuco até as eleições de 2022.
“A mudança foi drástica, mas ver o Brasil em destaque no festival, com diretores e atores brilhando, me fez acreditar na importância de mostrar o lado positivo e inspirador da vida”, comentou.
Apesar de todo o glamour, a transição entre dois mundos tão distintos foi emocionalmente desafiadora para a jornalista. Contudo, ela enxergou essa experiência como uma forma de cura, uma oportunidade de equilibrar o peso da dor com a leveza da arte. Hoje, sua trajetória reflete o poder transformador das histórias – sejam elas de guerra ou de cinema – e a capacidade do jornalismo de conectar realidades opostas.
No dia 7 de outubro desse ano, exatamente um ano após o início do conflito entre Israel e o Hamas, Érika Abreu retornou a Israel, de onde continuou a produzir novas matérias para a RedeTV.
Desde o início dos combates, o número de vítimas só aumentou e a escalada do conflito com o Hezbollah no Líbano trouxe uma nova camada de complexidade e tensão para a região.
Durante esse retorno, Érika reencontrou famílias que conheceu e cujas histórias contou no início da guerra, um ano antes. A jornalista revisitou as vidas daqueles que viveram momentos de extrema dor e incerteza, mantendo uma ligação emocional profunda com a tragédia e a resiliência dessas pessoas. Para ela, esses reencontros trouxeram à tona a força e a resistência que emergem em meio ao caos, reforçando o impacto que essas histórias humanas têm no mundo.
Para Érika Abreu, os desafios são incertos, mas uma coisa ficou clara: seja em meio à destruição de uma guerra ou ao glamour do tapete vermelho de um festival, ela continuará contando histórias que tocam o coração das pessoas e provocam reflexões profundas.