Daniel Cravinhos procura o irmão de Suzane von Richthofen, diz jornal
Acusado pelo assassinato dos pais de Andreas von Richthofen, o ex-cunhado enviou uma carta para o rapaz por meio de um amigo em comum
atualizado
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Já imaginou reencontrar a pessoa responsável por matar seus pais? Essa é uma situação pela qual Andreas von Richthofen vem passando. Um dos condenados pelos assassinatos de Manfred e Marísia von Richthofen, Daniel Cravinhos, vem tentando contato com o ex-cunhado desde que saiu da prisão.
E foi o próprio Daniel quem confirmou a informação, durante uma entrevista a Ullisses Campbell, do jornal O Globo. De acordo com ele, sua família tem uma chácara próximo ao local em que Andreas está morando, mas ele tem medo de procurá-lo diretamente.
“No passado, antes do julgamento, Suzane tentou encontrá-lo, e ele foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra ela. Tenho esse medo”, recordou Daniel.
Para não ir direto ao local onde Andreas está vivendo, o ex-cunhado enviou uma carta para ele por meio de um amigo em comum, pedindo uma chance de conversa: “Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos, mas compreenderei se preferires não olhar na minha cara”, escreveu Cravinhos em uma carta para ao ex-amigo, à qual a coluna de Ullisses Campbell teve acesso.
Ainda de acordo com o jornalista, esse mesmo amigo já teria tentado intermediar uma conversa entre Daniel e Andreas, mas o irmão de Suzane Magnani, ex-Richthofen, teria ficado bastante abalado ao ouvir Daniel no viva voz.
No texto, Daniel lembrou que os dois, que eram amigos antes do crime, tiveram momentos bons juntos, falou em arrependimento e pediu “misericórdia” ao rapaz, que foi diretamente afetado pelas mortes dos pais.
Leia a carta na íntegra
“Querido Andreas,
Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.
Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.
Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?
Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?
Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.
Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.
Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.
Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?
Daniel Cravinhos”.
Andreas se afundou em dívidas e processos
Andreas von Richthofen, irmão de Suzane von Richthofen, virou assunto após vir à tona que ele acumula diversas dívidas e processos. O homem, de 36 anos, ficou com a herança milionária que herdou dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, avaliada em quase R$ 10 milhões. A lista de bens incluía carros, terrenos, imóveis e dinheiro em contas correntes e aplicações.
O rapaz teve direito a ficar com tudo dos pais após uma batalha judicial com Suzane. Na época, ele entrou na Justiça para impedir que a irmã, condenada pelo assassinato de Manfred e Marísia, recebesse metade dos bens da família.
Segundo o jornalista e escritor Ullisses Campbell, da coluna True Crime, do jornal O Globo, hoje, 20 anos após a tragédia, Andreas enfrenta 24 ações na Justiça de São Paulo por dívidas de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e condomínios atrasados, somando aproximadamente R$ 500 mil.
Conforme levantamento do jornal, duas das seis casas herdadas por Andreas chegaram a ser invadidas por “falsos sem-teto” – pessoas que entram nas casas sem arrombar portas e portões, reformam o local e passam a morar de graça até o proprietário reivindicar o imóvel.
O irmão de Suzane von Richthofen chegou a perder o título de uma das residências para invasores por usucapião – previsto na Constituição Federal, a ação possibilita a aquisição de imóvel por meio da posse prolongada, pacífica e ininterrupta. O tempo dessa posse pode variar entre 5 e 15 anos.
Outro imóvel da família von Richthofen também corre risco de ser invadido: uma casa geminada no bairro Brooklin Paulista, em São Paulo, onde ficava a clínica da mãe de Andreas e Suzane. O jovem chegou a morar lá entre 2005 e 2015.
Usucapião não é o único canal que pode levar Andreas a perder as propriedades herdadas dos pais. As prefeituras da cidade de São Paulo e do município de São Roque o processam por dívidas de IPTU. Segundo o site, a casa da Barão de Suruí, no bairro Flores, acumula R$ 48.524,07 em tributos atrasados.
Ainda de acordo com o jornal, Andreas está vivendo isolado em um sítio de São Roque desde a época da pandemia. Oficiais da Justiça tentam localizá-lo para notificá-lo sobre os processos, mas sem sucesso. Isso porque Andreas está “quase incomunicável”, vivendo sem telefone e internet. A propriedade também é de difícil acesso.