Dani Calabresa é condenada a indenizar colunista por homofobia
Marcelo Bandeira acionou a atriz, Bento e a extinta MTV Brasil por ofensa; O valor pedido passa de R$ 270 mil
atualizado
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Em agosto do ano passado, a Justiça paulista condenou Dani Calabresa, Bento Ribeiro e a MTV Brasil a indenizarem em R$ 15 mil o colunista de celebridades Marcelo Bandeira. A punição, segundo revelou Rogério Gentile, do “UOL”, é reflexo de uma piada contada pelos ex-comandantes do “Furo MTV”, da extinta MTV Brasil, em 2011.
Curiosamente, tal segmento não era dedicado à Bandeira. Os textos tinham sido escritos para satirizar Claudete Troiano, ex-colega do comentarista na TV Gazeta. Para quem não se recorda, a veterana parabenizou a angolana Leila Lopes, vencedora do concurso de Miss Universo, e engatou um recado para sua homônima, a falecida artista brasileira.
“Um beijo pra você, Leila Lopes. Por onde será que anda a Leila Lopes, a atriz?”, indagou. Coube a ele corrigir e avisá-la: “Ela faleceu, Clau”. “É mesmo? Não fiquei nem sabendo”, respondeu, visivelmente sem graça. O momento viralizou, rendeu uma série de memes na internet e até hoje é lembrado nas redes sociais.
Vale citar que tudo saiu de controle quando Dani e Bento repercutiram o episódio no “telejornal” e passaram a chamar Marcelo de “ajudante homossexual” e “a bicha que trabalha com Claudete”. Mencionando ter sido humilhado e ridicularizado, o rapaz ingressou com a ação e teve êxito depois de 11 anos.
Dani Calabresa afirmou que, na época dos fatos, “os conteúdos televisivos, em especial os de humor, que envolvessem a questão da orientação sexual eram comuns e aceitos em nossa sociedade” e “‘bicha’ era uma expressão totalmente permitida”, mas a juíza Daniela de Paula não acolheu a argumentação.
“Ainda que os réus aleguem que as falas seriam jocosas e não teriam intenção de ofender, os comentários direcionados ao autor constituíram notória ridicularização de sua identidade. A homoafetividade, historicamente marginalizada, deve ser protegida de comportamentos degradantes”, ressaltou a magistrada na sentença.
Em vista disso, a coluna, que tem amigos espalhados em cada canto do Brasil, descobriu que a apresentadora do “Cat BBB”, da Globo, resolveu recorrer da decisão por não concordar com o valor estabelecido, frisando que o considerou alto. Bandeira, que assina uma coluna no portal iG e está à frente de um quadro no programa de rádio de Paulinho Boa Pessoa, confirmou que ainda não foi indenizado.
Você ainda não recebeu os R$ 15 mil?
Não. Até onde sei, a Daniela não concordou com a resolução e interpôs um recurso.
Por que houve tanta demora para ter um desfecho?
Acho que as doutoras Andrea Tegão e Mariana Sobral podem te explicar melhor, mas parece que os oficiais não conseguiam encontrar nem um nem outro nos endereços indicados, e isso acabou dificultando.
Qual foi a sua reação assim que soube do resultado?
Passou um filminho na cabeça. Foi um mix de sentimentos! Permaneci calado por mais de dez anos e nunca ataquei o Bento ou a Daniela publicamente. Mas, quando li a notícia na coluna do Rogério Gentile, dediquei a vitória à minha mãe e lhe pedi perdão.
Por que perdão?
Minha mãe (já falecida) era do tipo leoa, mãezona, sabe? E, apesar de estar com quase 48 anos, sei que, se ainda estivesse por aqui, tentaria me proteger com a mesma intensidade. O “perdão” foi por tê-la deixado saber da sátira na TV e do desenrolar do que houve. Teve um dia em que, na ânsia de me defender, passou mal e foi hospitalizada com uma taxa altíssima de diabetes. A partir daí, a doença foi desandando com uma internação atrás da outra. Eu me senti meio responsável pela partida dela. E aquele “e se…” é frequente.
Como lida com esses temas atualmente?
Minha mãe faz uma falta tremenda, e não tem um dia sequer em que eu não pense nela. Quando bate a “bad”, me jogo no site, no rádio e fico mais recluso. Aliás, tem duas frases que me mexem muito comigo. Uma delas é: “Todas as pessoas enfrentam batalhas que você não sabe nada a respeito. Seja gentil sempre!”; e a outra: “Saudade é dor que nunca acaba, mas que o tempo espaça para deixar a gente tocar a vida”.
E a Claudete? Vocês têm mantido contato?
Nunca mais nos falamos, mas tenho respeito e carinho pela Clau. Aprendi demais trabalhando ao lado dela. Uma grande escola!
Agora, cá pra nós, ela não sabia mesmo da morte da Leila?
Pior que não! Ficou tão desconcertada após o término daquele “Manhã Gazeta” que veio pedir para eu confirmar que estava fora do país, caso viessem me abordar. Essa história, inclusive, nunca comentei com ninguém.
Você acompanha a carreira da Dani Calabresa?
Faz parte do meu ofício, principalmente na época do “Big Brother Brasil”. Mas não me refiro a ela como “a heterossexual da Calabresa”. Até porque respeito é bom e cabe em todo lugar!
Bento ressaltou que não tinha nenhuma ingerência sobre o conteúdo da atração, atuando meramente como apresentador daquilo que os roteiristas elaboravam, e também citou o direito de manifestar o pensamento.
Particularmente, considero deplorável quando comediantes fazem comentários ofensivos ou preconceituosos em veículos de comunicação de massa sob a justificativa de liberdade de expressão.
Para finalizar, os advogados de Dani destacaram que não houve discriminação. Quer acrescentar algo?
Estão exercendo o papel deles, que é blindá-la. No entanto, quando doeu, doeu em mim, na minha mãe, na minha família. Essa “descontração” que tanto alegam acabou respingando em quem não tinha nada a ver. É preciso delimitar e diferenciar a comicidade da afronta.