“Contadora de histórias”, afirma Milton Cunha sobre Rosa Magalhães
O especialista em Carnaval, que também é carnavalesco e cenógrafo, conversou com a coluna sobre a morte da maior campeã da Festa do Momo
atualizado
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A morte de Rosa Magalhães, na noite de quinta-feira (25/7), aos 77 anos, causou comoção entre os fãs e especialistas em Carnaval. E uma dessas pessoas é Milton Cunha, que carnavalesco e cenógrafo. Ele conversou com esta colunista que vos escreve e se emocionou em falar sobre a trajetória da companheira, que é maior campeã da Festa do Momo, contabilizando sete títulos.
Logo no início do bate-papo, Milton Cunha rasgou elogios à carnavalesca: “É uma carreira fulgurante, cheia de conteúdo, carreira intensa. Menina de zona sul, filha de diplomata, escritora, se joga, apaixona da pela arte popular, pelo batuque. E ela morreu dizendo: ‘O importante é o batuque, o samba, a música, a alegria do povo. O resto é perfumaria’. Então, essa é a boa lição dela: respeite a escola de samba, respeite o povo”, afirmou ele.
Em seguida, ele resumiu o percurso feito por Rosa Magalhães no Carnaval: “E, aí, desse aprendizado com os grandes mestres, ela parte pra fazer escola de samba com a grande amiga, Lícia Lacerda, contratadas do Império Serrano. Em 82, elas produzem um clássico: o Bum Bum Paticumbum Prugurundum já vira clássico ali, primeiro título dela”, lembrou, antes de completar:
“Depois, ela anda, anda e vai parar na Imperatriz e super se consolida como a grande mestra, a professora que dá aula enredos, arrasa nos acabamentos de figurino e alegoria, sempre com histórias inusitadas e muito boas”, elogiou.
Na sequência, Milton Cunha relatou as contribuições importantes da carnavalesca: “Teve uma carreira brilhante, ganhando depois na Vila Isabel. Incrível o legado dela, a quantidade de coisa boa que ela deixou. Como ela transformou o desfile da escola de samba no museu a céu aberto, exposições de obras de arte, de acontecimentos históricos fabulosos. Então, uma carreira coerente, uma artista completíssima, que flertava com a moda e com as artes plásticas, que trabalhava internacionalmente nos museus”, pontuou.
No fim, ele ainda recordou outros trabalhos e agradeceu ter convivido com ela: “A passagem dela pela Shakespeare Company, em Londres, foi uma coisa fabulosa. Que bom que a gente teve o privilégio de estar no mundo ao lado de mulher tão incrível, bem-humorada, contadora de histórias. Virava um copo de Prosecco de forma maravilhosa. Inesquecível, quality woman [mulher de qualidade,em tradução livre]”, encerrou.
A notícia e a causa da morte
A confirmação da morte de carnavalesca Rosa Magalhães, aos 77 anos, na noite desta quinta-feira (25/7), está repercutindo nas redes sociais. Chamada de “professora” no mundo do samba, ela sofreu um infarto e foi encontrada em casa, em Copacabana.
No Twitter, algumas agremiações resolveram prestar a última homenagem: “Não é só o samba que perde uma grande ícone do Carnaval, a cultura brasileira perde uma grande expoente. Em 1974, Brasil ano 2000, tivemos a honra de ter a Rosa em nosso solo. Deixará saudades. Vá em paz professora! 🖤”, desejou a Beija-Flor. “O samba se despede de uma de suas maiores artistas. É com imenso pesar que a Grande Rio se despede da carnavalesca Rosa Magalhães. Seu legado é marca fincada na história do nosso o Carnaval. Descanse em paz, eterna professora”, afirmou a Grande Rio. “Com tristeza, o Império Serrano recebeu a notícia do falecimento da carnavalesco Rosa Magalhães, aos 77 anos, nesta noite. No Império, Rosa foi campeã com histórico Bum Bum Paticumbum Prugurundum, em 1982, ao lado de Lícia Lacerda, e desenvolveu o enredo João das Ruas do Rio, em 2010. Fica aqui a nossa gratidão por tudo que você, Rosa, fez pelo Carnaval, pela contribuição na nossa história e à arte. Seja luz! Obrigado por tudo!”, agradeceu a Império Serrano.
Quem era Rosa Magalhães
Formada em artes plásticas, com três graduações — cenografia, indumentária e pintura —, ela é a maior campeã do Carnaval carioca, com sete títulos pelas escolas de samba Imperatriz Leopoldinense, Unidos de Vila Isabel e Império Serrano.
Ao todo, foram mais de 50 anos e foi muito respeitada por colegas, público e crítica. Ela começou a trabalhar na área em 1970, no Salgueiro, como assistente. Seu primeiro título veio en 1982 com a Império Serrano. Somente na Imperatriz, foram 5 títulos: 94, 95, 99, 2000 e 2001.
No ano passado, Rosa Guimarães, que é conhecida no mundo do samba como “professora”, assinou o desfile do Paraíso do Tuiutí, mas a escola ficou com o oitavo lugar. Este ano ela ficou de fora da Festa do Momo. O último título da carnavalesca foi em 2013, pela Vila Isabel.
Além de carnavalesca, ela foi foi professora, cenógrafa e figurinista. Foi responsável pela cenografia de espetáculos como a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio, em 2016. Entre seus prêmios também está um Emmy de melhor figurino, de 2007, pelo trabalho nos Jogos Panamericanos do Rio.
“Carnaval é uma cachaça. Mas daquela bem boa, lá de Paraty”, disse Rosa Magalhães em um de suas frases mais lembradas.
Até o fechamento desta matéria, ainda não havia informações sobre velório e sepultamento.
Vida contada no Festival de Vassouras
A carnavalesca Rosa Magalhães fez desfiles memoráveis no Carnaval carioca. Sete vezes campeã na Marquês de Sapucaí – a maior vencedora da era sambódromo – ela teve sua trajetória documentada no filme Rosa: A Narradora de Outros Brasis. A professora, como é conhecida no mundo do samba, falou sobre seus desfiles e sua carreira no teatro e na TV no documentário dirigido por Valmir Moratelli e Libário Nogueira.
O longa teve sua primeira exibição no Festival de Cinema de Vassouras, em junho do ano passado. Além de falar sobre carnaval, o filme também aborda assuntos como machismo e etarismo.