Cacau Protásio desabafa sobre ataques racistas: “Ser preta é foda!”
A Justiça obrigou o Governo do Rio a indenizar a atriz em R$ 80 mil, após ela ser ofendida no quartel dos Bombeiros, durante uma gravação
atualizado
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Após a Justiça ordenar que o Governo do Estado do Rio de Janeiro indenize Cacau Protásio em R$ 80 mil, por conta de ataques e ofensas raciais que recebeu durante a a gravação do filme Juntos e Enrolados, a atriz usou as redes sociais para falar sobre preconceito. “Porra, ser preta é foda! Tenho que provar que sou boa todos os dias”, escreveu com trilha sonora da música “Nosso grito”, do grupo Fundo de Quintal.
Durante os registro do longa, feitos num quartel do Corpo de Bombeiros, começaram a circular áudios e vídeos em que bombeiros reclamavam e faziam comentários racistas, homofóbicos e gordofóbicos em relação à Cacau e ao restante do elenco. Na época, o Corpo de Bombeiros afirmou que não compactuava com qualquer ato discriminatório contra a atriz ou qualquer pessoa.
Inicialmente, de acordo com o G1, o ônus ao órgão público seria o pagamento de R$ 30 mil, porém a humorista recorreu. A ação corre desde 2019 e a última decisão foi deferida recentemente e divulgada pelo colunista Ancelmo Góis, do O Globo.
“Tenho que falar baixo senão sou chamada de agressiva ou barraqueira. Se sou injustiçada, ofendida, agredida… eu ainda estou errada. Pagam pra assistir a comediante branca, [mas] são poucos que pagam pra assistir a uma preta”, completou.
A comediante aproveitou para criticar a falta de oportunidades profissionais: “Eu sei fazer, eu sei interpretar muito bem, só preciso de espaço pra ser protagonista, pra ter um programa meu, é só vocês me abrirem as portas. Eu amo coisas boas, é só querer me convidar, me chamar pra partilhar. Se me derem espaço posso representar essas grandes marcas. Tô cansada”.
E prossseguiu desabafando: “Se não gosta de mim, não me segue. Parem de querer nos matar diariamente. A Justiça não pode ser favorável para uma preta. Se eu faço certo, eu estou errada. Se eu não faço, eu estou errada. Se eu estou errada, então eu sou massacrada. Que merda, gente!”.
Protásio ironizou e afirmou que se for para satisfazer os haters, ela até diz que mudou de cor. “Só quem é preto sabe do que eu estou falando. É foda! Vários de vocês adoram colocar nós pretos contra nós mesmo. Eu não vou cair nessa, eu não vou mais servir como isca de piranha. Se for melhor pra vocês, eu não sou preta, eu sou marrom pra agradar os racista”, frisou.
Cacau Protásio finalizou garantindo que seu relato não teria o número de compartilhamentos e nem de curtidas iguais os de suas piadas. “Sou mulher! Sou preta! Sou gorda! Deus, muito obrigada por me trazer assim no mundo. Agradeço por ser voz de vários e vários pretos que sofrem preconceito todos os dias! Não venham me chamar atenção de tantos palavrões, mas hoje eu precisei gritar com todas essas palavras”, concluiu.
Na época do caso, o Corpo de Bombeiros alegou ter identificado os dois agentes responsáveis pelos ataques e que eles foram punidos. Um deles, que gravou os áudios chegou a ficar detido por três dias. O outro, que compartilhou as ofensas, foi preso por 10 dias.
A desembargadora Ana Cristina Nacif Dib Miguel, relatora do caso, explicou que o valor da ação leva em consideração que o Estado é responsável pelas ações de seus funcionários, a gravidade das ofensas e a repercussão do episódio.