Bailarina desabafa e revela conversa com Ratinho após “piada” racista
Cintia Mello, que pediu demissão depois de uma “brincadeira” feita pelo apresentador, se manifestou sobre o episódio e deu novos detalhes
atualizado
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A bailarina Cintia Mello, que pediu demissão do programa do Ratinho, do SBT, após ser vítima de uma “piada” racista do apresentador, se manifestou e desabafou sobre a situação. Segundo a moça, ela chegou a conversar com o comunicador depois do ocorrido para explicar o problema da fala, mas não obteve sucesso.
Na ocasião, Ratinho “brincou” com o cabelo de Cintia e disse que ela tinha piolho. A cena logo viralizou nas redes sociais.
Em entrevista à Quem, a bailarina desabafou. “No início daquela cena, eu não imaginava o que estava por vir. Nós tínhamos liberdade para brincar e sempre foram brincadeiras saudáveis, pois eu estava ali como bailarina, logo para ser reconhecida pela beleza e pela dança. Eu já estava em um dia atípico, porque enquanto eu estava trabalhando, a minha filha estava no hospital, então eu não estava muito bem”, lembrou.
Ela continuou: “Quando o meu cabelo foi relacionado ao ‘piolho’, eu não soube mais como reagir. A partir dali, fiquei realmente no automático por ter ficado constrangida”, recordou.
Cintia Mello trabalhava ao lado de Ratinho há nove anos. Segundo ela, depois do momento, ela foi conversar com o apresentador.
“Após toda repercussão, busquei conversar com o próprio [Ratinho] e foi uma conversa realmente amigável, em que expliquei a ele alguns pontos sobre a situação, e o quanto eu estava chateada e desestabilizada com tudo aquilo. Tive resposta por um tempo, mas depois o diálogo acabou, porque não recebi mais respostas”, afirmou.
A dançarina comentou as declarações preconceituosas feitas por Ratinho, que não são de hoje.
“Todos já sabemos quantas polêmicas já foram levantadas por conta de algumas falas dele, e em algumas delas o próprio depois esclareceu. E foi o que achei que aconteceria comigo. Nunca levantaria falso contra um patrão que é realmente querido por seus funcionários, mas que, infelizmente, como comunicador, precisa se reconstruir e ressignificar alguns pensamentos e falas”, contou.
Cintia revelou que não denunciou o apresentador por racismo. “Eu já sabia que aquela ‘brincadeira’ tinha sido péssima, mas realmente levei em consideração que depois poderia falar com ele para que a fala fosse consertada, porque o racismo estrutural faz isso, normaliza falas racistas a ponto de quem as falam acharem que não fizeram nada”, disse.
E acrescentou: “Afinal, na televisão brasileira, por décadas, o racismo recreativo foi tão usado e normalizado, mas quem sofria as consequências disso éramos nós, que por diversas vezes, em ‘brincadeiras’, éramos diminuídos e excluídos na infância. Agora estou concentrada em me reestruturar, emocionalmente e financeiramente. Estou buscando novas oportunidades, voltei aos estudos e estou mais preocupada com o meu destino e o da minha filha”.
Segundo Cintia, ela ainda foi hostilizada nos bastidores do programa.
“Não recebi sequer um: ‘Cintia você está bem?’. Não tive nenhum apoio, nenhuma ligação, realmente nada. Na verdade recebi um abraço de uma camareira que foi extremamente importante para mim”, contou ela na entrevista. “Depois do meu desligamento, recebi uma ligação dizendo que as portas estariam abertas, o que, na realidade, depois do que eu passei nos bastidores, sabia que seria impossível, porque só eu sei o quanto fui hostilizada por algumas pessoas da equipe”, completou.
A bailaria também pontuou que está se reerguendo emocional e financeiramente após o episódio.
“Tive que realmente parar para cuidar do meu emocional, estou fazendo terapia e estudando bastante sobre todos os temas que envolveram o episódio. Tenho o apoio de pessoas maravilhosas. Sou mãe solteira, moro sozinha com a minha bebê, por isso, mesmo sofrendo diversos ataques, preciso estar forte por ela. Mas tive que realmente virar a chave. Eu continuo trabalhando fora da televisão, estão aparecendo aos poucos algumas oportunidades. É claro que o início é desesperador, mas eu acredito que nada em nossas vidas acontece por acaso. E preciso seguir”, disparou.