“Alertamos as autoridades portuguesas”, revela Jairo Magalhães
Em entrevista exclusiva, advogado da família do ator Jeff Machado avaliou a possibilidade de o autor do crime estar fora do Brasil
atualizado
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Com exclusividade, está colunista conversou com Jairo Magalhães, o advogado da família do ator Jeff Machado, morto em 23 de janeiro, cujo corpo foi encontrado somente quatro meses depois, dentro de um baú, enterrado e concretado.
Jairo, que acompanha bem de perto o caso desde 25 de fevereiro, revelou detalhes importantes das investigações, as possíveis motivações do assassinato e o perfil frio e calculista do produtor de TV, Bruno de Souza Rodrigues, suspeito de ser o mentor do crime, e que permanece foragido da Justiça.
O advogado falou, ainda, sobre a expectativa da prisão de Bruno e da possibilidade de que ele tenha fugido para fora do país.
Veja a entrevista completa:
O que se sabe, de fato, sobre o caso até o presente momento?
O que nós sabemos, de fato, até o presente momento, a respeito da investigação da polícia, é que Jeander Vinícius e Bruno, comprovadamente, estavam no momento do homicídio, onde toda a investigação demonstra que não existia outra pessoa. E ambos confessam a ocultação de cadáver. Isso até o presente momento. Mas sabemos que as investigações ainda continuam. Após a prisão do Jeander, ele prestou um novo depoimento. Então, não podemos afirmar que esses serão os artigos que teremos no relatório final da autoridade policial. A polícia ainda investiga a participação de outras pessoas e também o cometimento de outros crimes para ambos os investigados.
Qual era a verdadeira ligação entre o Jeff e os dois acusados do crime (Bruno e Jeander)?
Bruno conhece o Jefferson há cerca de três anos. Ele estuda a pessoa do Jefferson, se aproxima do Jefferson, faz amizade e se coloca como uma pessoa amiga, inclusive nas redes sociais. Ele vem com essa fraude de conseguir um papel numa novela de uma emissora de televisão. É importante esclarecer que ele já tinha sido expulso da emissora, exatamente pela emissora descobrir essa farsa, que é algo que efetivamente não existe.
Pelo que nós temos até hoje, que ainda está sendo investigado, Bruno também conhece Jeander e o chama para fazer um programa com Bruno e um namorado de Bruno — que é uma outra pessoa que prestou depoimento também. Depois, Bruno chama Jeander para fazer o buraco onde é encontrado o corpo do Jefferson. Bruno vai junto com Jeander para o local onde o crime acontece. Essas são as relações entre eles. É importante esclarecer que Jeander fala que não conhecia o Jefferson, o que também está sendo apurado pela polícia. Obviamente, nós percebemos que nem tudo que se fala é verdade. Percebemos muitas mentiras e criações desde o início, de todos os depoimentos de ambos os investigados.
Uma amiga do Jeff disse que Bruno tinha interesses amorosos em Jeff. Isso existiu mesmo?
Não existe efetivamente uma comprovação de interesses amorosos de Bruno com o Jefferson. O que a gente tem como confirmar é todo o estudo frio de uma pessoa má e calculista com interesses financeiros, que usou de toda a artimanha e de toda destreza para chegar aonde chegou, com intuito de enganar a família e os amigos do Jefferson.
A principal linha de investigação é um golpe financeiro. Existe alguma outra possibilidade para a ocorrência do crime?
Pelo que nós observamos até aqui, por todo trabalho técnico da polícia, todas as provas, diversos depoimentos e toda a conduta dos investigados, a gente entende que não tem outra linha a não ser interesse financeiro. É importante esclarecer que, além dos bens de Jefferson, eles também estavam de posse dos seus cartões e tentaram modificar as senhas para ter a posse única e, possivelmente, poder cometer outros crimes financeiros em nome do Jefferson.
A maneira como o corpo foi encontrado e a forma como foi amarrado dá sinais de que pode ter havido tortura antes da morte de Jefferson. Isso parece um crime executado com bastante ódio. Além disso, os criminosos fizeram questão de utilizar o baú da vítima, um objeto que ele gostava bastante. Isso não levanta a hipótese de crime passional?
Pela forma com que o corpo foi encontrado — com as mãos amarradas na parte de trás da cabeça — acreditamos que ele possa ter sido colocado no baú ainda vivo. Na verdade, claramente ele foi dopado. Em depoimento, Jeander revela que os cachorros foram dopados. Eu estive presente na casa, e vizinhos falaram que não ouviram barulho nenhum, e eles têm uma casa geminada ao lado.
Outro fato que chama a atenção é que o banheiro fica junto ao quarto. Então, não tem como o Jeander não ter ouvido nada e ser surpreendido com a morte. A gente não pode falar que tem sinais de tortura, mas a forma como foi colocado o corpo dele é exatamente para que, se ele despertasse e tentasse sair daquela posição, ele se autoenforcasse. Foi uma posição estratégica para, caso ele não estivesse morto, ele morreria com a própria movimentação de seu corpo.
Apesar da morte do ator ter sido confirmada com a identificação de seu corpo, há uma teoria de que a polícia já considerava essa possibilidade desde o início das investigações. Isso é verdade? Se sim, a família também já imaginava que ele estivesse morto?
A família me contratou no dia 25 de fevereiro e, desde o meu primeiro contato com a delegacia, foi afirmado pelo inspetor responsável pelas investigações que o ator Jefferson Machado já estava morto e que a linha da investigação já era homicídio com ocultação de cadáver. No primeiro momento, eu preferi não passar isso para a família. Mas, uma semana antes do Dia das Mães, as autoridades policiais se reuniram comigo e o Diego (irmão do Jefferson) e afirmaram que, pelo relatório das antenas e pela quebra dos dados telefônicos, já poderíamos ter a confirmação da morte, apesar de não ter um corpo naquele momento. Eu jamais iria esconder isso da mãe. Então, liguei e conversei com ela a respeito.
Mas, no dia seguinte ao corpo ter sido encontrado, eu falei para ela que iria à delegacia, pois existia uma novidade. E ela imediatamente me falou: ‘Doutor Jairo, o senhor com certeza vai me ligar com uma notícia boa sobre meu filho’. Então, ela só acreditou que o filho estava morto quando eu falei que o corpo era do Jefferson. Até o último instante, ela acreditava que o filho estava vivo, mesmo eu falando que não tinha possibilidade. É uma esperança de mãe, né?
No total, quanto Bruno e Jeander conseguiram arrancar de Jeff Machado, até o momento em que viraram acusados da morte?
Foram gastos no cartão de crédito, gastos no cartão de conta corrente, além de diversas transações que o Jefferson fez para ele, no intuito de conseguir essa vaga (em uma novela), em que a família transferia o dinheiro para o Jefferson, e ele transferia para o Bruno, um total de 20 mil reais de apropriação indevida.
Como a família está recebendo os resultados das investigações? Estão satisfeitos?
O objetivo da família era, num primeiro momento, localizar o corpo. Em alguns momentos, a mãe do Jefferson me ligou e, no desespero de mãe, ela só queria localizar o Jefferson. Ela não queria nem saber o que tinha acontecido, apenas localizá-lo. Então, o nosso trabalho, junto à polícia, foi exatamente nesse sentido, na localização do Jefferson e também a punição dos autores desse crime. A família aguarda com serenidade o final da investigação e recebe o bom trabalho da polícia até aqui. Aguardamos que a polícia se empenhe para prender o principal mentor desse crime bárbaro (Bruno), cumprindo a ordem judicial.
O que eles esperam a partir de agora, visto que o Bruno ainda está foragido?
Tendo em vista que o Bruno está foragido, nós esperamos que o trabalho da polícia se intensifique na captura dele. A polícia e toda a equipe foram muito técnicas durante toda a investigação, fazendo um trabalho brilhante. Agora, o que a gente efetivamente espera, é que os outros artigos (do Código Penal) sejam investigados nesta parte final do inquérito, como a invasão das redes sociais (art. 154-A), deles se passarem e assumirem a identidade do Jefferson (art. 307), a questão do desaparecimento do seu telefone, do seu Macbook e dos pertences pessoais de sua residência (art. 155, §4, II). A questão dos maus-tratos aos animais (art. 32 da Lei 9.605/98), inclusive sua qualificação, tendo em vista que alguns animais apareceram mortos.
Qual o papel do advogado da família nesse caso?
Toda investigação é de poder exclusivo da autoridade policial. Então, o papel do advogado é levar informações para a polícia e trazer informações para a família. É fazer esse elo entre a família e a autoridade policial, para que as investigações sigam num tempo menor do que o esperado.
Jeander, o garoto de programa, acaba de mudar a sua versão e dizer que o Bruno era uma pessoa fria. Como vocês receberam essa informação?
Desde o primeiro momento em que entramos nesta investigação, no dia 25 de fevereiro, nós já tínhamos plena certeza de que o Bruno é uma pessoa má, fria e que faz tudo extremamente pensado. Ele analisa cada ponto de sua atitude, ele se passa pelas pessoas, ele quer enganar a polícia, atrapalhar as investigações, manipular as testemunhas e, agora, foge da Justiça e, mesmo com mandado de prisão, fica tentando criar versões, tentando despistar a polícia. Então é uma pessoa extremamente fria, perigosa e calculista.
Há a possibilidade de Bruno ter saído do país, já que ele tem passaporte português?
Nós fizemos um alerta e mandamos um e-mail para as autoridades portuguesas, diante dessa possibilidade. Mas a nossa Polícia Federal é extremamente ágil e já nos mandou a informação de que não houve nenhuma movimentação no passaporte do Bruno. Mas, por precaução, lembrando que ele é uma pessoa perigosa e articulosa, nós encaminhamos imediatamente a notícia desse crime bárbaro às autoridades portuguesas.