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Aguinaldo Silva sobre influenciadores nas novelas: “Não funcionam”

Em entrevista à coluna Splash, do UOL, o autor ainda falou sobre o tema diversidade nas produções e as chances de voltar a escrever

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Aguinaldo Silva posa de look preto para a capa de seu livro - Metrópoles
1 de 1 Aguinaldo Silva posa de look preto para a capa de seu livro - Metrópoles - Foto: Instagram/Reprodução

Hoje em dia é muito comum ver influenciadores em novelas e até apresentando programas de TV. Acostumado com os bastidores da novela, Aguinaldo Silva soltou o verbo a respeito da nova prática das emissoras de TV.

Em entrevista à coluna Splash, do UOL, o autor opinou sobre a presença dessas pessoas nas tramas, falou sobre diversidades nas produções e as chances de voltar a escrever para a televisão.

“Eu tenho visto muitas novelas que os personagens são entregues a influencers. Não dá para escalar influencer para fazer novela. Essas pessoas não são atores e não funcionam. Numa novela que você precisa construir um personagem e dar credibilidade a ele, se você não for um bom ator, você não consegue”, afirmou ele.

Em seguida, ele analisou um dos enganos das empresas: “Um erro da TV é querer agradar os públicos das redes sociais. Se tivesse que escolher uma influencer para ser Nazaré, quem seria? É impossível. A preocupação da TV convencional com essa coisa fluida da internet é um erro. O público da TV está em casa e o que eles querem ver é um folhetim com bons atores”, declarou.

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Aguinaldo Silva também seguiu o mesmo caminho em 2020
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E continuou: “A TV vai se dar conta que é preciso de uma reviravolta no atual cenário das novelas, que é um gênero muito produtivo do ponto de vista financeiro. Quando decidem fazer remake de Vale Tudo, isso já é uma forma de afirmar que as novelas boas eram as de antigamente, que tinham ritmo e bons diálogos”, disse.

Aguinaldo Silva falou também sobre os temas atuais que fazem parte das tramas: “Nas minhas novelas, sempre procurei falar sobre temas de diversidade. Em Duas Caras (2007), abordei o racismo e tinha um trisal, que hoje em dia é moda, com um detalhe de um deles ser gay. Eu sempre falei de temas muito delicados, mas não chocava as pessoas”, contou, antes de completar:

“Quando você faz política em vez de mostrar o drama humano, aí você não vende o seu peixe, coloca um tema para debate. Hoje em dia, as histórias são muito panfletárias. Você pode falar de tudo, mas precisa saber como falar”, aconselhou.

O autor ainda contou se há chances de ele voltar a escrever para a TV: “Eu escrevi 16 novelas. A maior parte da minha vida foi ocupada com isso. Eu sinto que existe uma certa tendência a pensar em autores que talvez tenham sido excluídos da TV antes do tempo. Não posso dar detalhes, mas o que posso dizer é que minha carreira como novelista ainda não terminou! Onde, quando e como eu vou voltar são perguntas para os jornalistas fazerem”, relatou.

Questionado se trabalharia com produções para o streaming, ele foi categórico: “Sou viciado em streaming, mas não gosto do método de trabalho deles. As produções deles demoram três anos para se concretizar. Nesse período, mudam os executivos e cada executivo tem um método de trabalho, quer algum tipo de projeto. Para eu trabalhar no streaming, não teria paciência”, analisou.

No fim da conversa, ele revelou que já recebeu uma proposta do tipo: “Um executivo entrou em contato comigo e perguntou se em seis meses eu conseguia produzir uma sinopse e seis episódios. Seis meses? Eu só trabalho no calor da hora. Faria isso em menos de um mês. Perde-se muito tempo no streaming e quando a série estreia, o mundo já é outro, os assuntos são outros. Além disso, no streaming tem umas pessoas que julgam seus projetos e você não sabe de onde esse povo saiu. Que experiência tem essas pessoas para avaliar um projeto?”, encerrou.

Bastidores da demissão da Globo em livro

Um dos novelistas mais consagrados da TV Globo, Aguinaldo Silva conta em seu novo livro, Meu passado me perdoa, os bastidores de sua saída da emissora, selada no começo de 2020.

Na obra de 400 páginas que será lançada em 10 de julho pela Todavia, Aguinaldo relata ter recebido uma ligação de um funcionário subalterno da Globo às 8h do dia 1º de janeiro de 2020. O autor estava dormindo em um hotel de luxo em Portugal, depois de passar a noite em um “réveillon ensandecido”. Acordado pelo telefonema, o novelista conta ter sido informado que, após o dia 29 de fevereiro, data do fim de seu contrato, ele estaria fora da emissora.

Aguinaldo Silva viu no modo como a ligação foi feita – nas primeiras horas do Ano Novo – uma tentativa de arrancar dele “uma reação de choque ou escândalo”. Segundo o novelista, sua resposta foi pedir que o funcionário da Globo ligasse no dia seguinte, a partir das 11h, o que foi feito.

Vinte minutos depois da nova ligação, diz Aguinaldo, um escritório de advocacia português enviou à casa dele, em Lisboa, um documento a ser assinado, aceitando o fim do contrato.

No livro, Aguinaldo chama de “justiça divina” o fato de entre 2020 e 2021, mesmo demitido, ter visto dois de seus folhetins, “Fina estampa” e “Império”, serem reexibidos na Globo em razão da pandemia de Covid-19, que interrompeu as gravações das produções da emissora. O autor celebrou o fato de ter recebido quase mais dois anos de pagamentos.

“Ao saber dessa notícia, mesmo de máscara e com o vidrinho de álcool em gel a postos, confesso que saí pelos corredores da minha casa a dançar o mambo. Três meses tinham se passado desde que o tal sujeito me ligara às oito horas de um dia 1º de janeiro para dizer que a emissora não estava mais interessada no meu trabalho, ou seja, me mandando à merda. E lá estava eu de novo no horário nobre!”.

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