Veículos de luxo: vendas de 0km caem; as de seminovos, sobem
Taxa de queda do comércio dos novos foi de 17%, enquanto a dos usados subiu 23%. Fenômeno fez surgir novos empreendedores no segmento
atualizado
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O mercado de qualquer produto é dinâmico, mas imaginem a dos automóveis no Brasil – em que há pelo menos 10 grandes montadoras e marcas, modelos, versões e faixas de preços a granel. A escassez de microchips semicondutores nesta indústria afetou a produção, atrasou entregas, fez despencar o comércio de carros 0km. A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) constatou que a venda de novos caiu 17% somente em outubro, comparando-se com o mesmo período do ano passado.
No fundo, a pandemia transformou os hábitos dos consumidores, alterando a concepção do que é prioridade – principalmente para quem compra carros premium — com valores entre R$ 300 mil e R$ 1 milhão (ou mais, claro). Essas pessoas anteciparam seus planos futuros – e sonhos distantes (carros caros sem previsão de entrega) passaram a ser considerados e realizados.
Curiosamente, em cada dificuldade uma oportunidade: e até mesmo quem não era do ramo resolveu arriscar. Eduardo Bier, empreendedor dos setores da cerveja e de saúde, foi um dos que resolveu ingressar no mundo dos seminovos de luxo. “O mercado nacional de automóveis usados é gigantesco, totalizando R$ 600 bilhões”, comenta ele. O Brasil, na verdade, é o terceiro em usados no mundo, atrás de Estados Unidos e China, com 12 milhões de unidades por ano.
“Decidi investir no setor por entender que se trata de um negócio promissor e em franca expansão. Além do potencial de mercado, percebi que havia um belo espaço para atuar no segmento premium”, aponta Bier, que hoje é sócio do Grupo Casco, uma empresa de blindagens que trabalha com a venda de seminovos de luxo.
Segundo a Carbig Premium, a venda de seminovos de luxo cresceu 23% durante a pandemia – dado justamente conectado com o comportamento do público de alto poder aquisitivo que prefere — e pode — pagar a esperar. E para esse segmento, a tendência é apostar no digital. “A loja física possui uma atuação regional, a plataforma digital atende todo o território nacional”, destaca Alexandre Cassel, CEO da Casco.
Na verdade, ele apostou na montagem de um estúdio de alto padrão, para obter qualidade nas fotos e vídeos dos carros divulgados nas plataformas digitais da empresa. Unindo blindagens e vendas de carros, o Grupo Casco terá faturamento de R$ 40 milhões este ano e projeta crescimento de 50% para 2022.
Comprar importado é ”perda de dinheiro”, dizem as más línguas. Será? A alta cotação dos modelos usados teve como destaque exatamente os de luxo, com – segundo pesquisa da Mobiauto: nos nove primeiros meses do ano, a valorização média desse seleto grupo foi de 17,5%. A média do mercado geral foi de 13.4%.
Das marcas mais caras, tiveram melhor desempenho a Porsche (foto), com 25,3% de valorização; a Land Rover, com 17,8%; a BMW, com 17,3%; a Mercedes-Benz, a Volvo e a Audi, com elevação de 16%.
Como veículo importado premium tem preço definido pela variação do dólar, as altas constantes da moeda americana compensam a desvalorização provocada pelo tempo: um modelo com cinco ou seis de uso pode ser vendido pelo mesmo valor (em dólar) que foi comprado.
O levantamento da Mobi Auto, por exemplo, avaliou alguns modelos: o Mercedes-AMG GT 43 EQ Boost, sedã de alto desempenho, teve o preço elevado em 60,72% nesse mesmo período: de R$ 544.784 (janeiro) para R$ 801.200 (setembro).