Montadoras de carros faturam tanto que só o lucro da Ford foi de R$ 30,2 bilhões
Enquanto isso, os brasileiros pagam US$ 37.636 por um Toyota Corolla, segundo o especialista Joel Silveira. O norte-americano, apenas US$ 15.450
atualizado
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O Brasil está ladeira abaixo. A China (mesmo crescendo 6,9% no passado) está quase quebrada. A Alemanha, coitada, cresceu 1,7%. O PIB da Rússia caiu 3,7%.
Você certamente ouviu ou leu essas notícias pessimistas. Ou “constatou” que o mundo quer mais transporte público, menos carros nas ruas e exige mais igualdade social. Será mesmo? Não tem algo estranho por aí? As montadoras de automóveis, por exemplo, lucram e lucram – e cada vez mais.
A Ford, por exemplo, quintuplicou (sim, é isso mesmo) o lucro líquido, aquele que se desconta impostos e taxas. Este ano, em função do desempenho no ano passado, ela vai oferecer aos seus acionistas ganhos de US$ 7,4 bilhões. Em 2014, foram singelos US$ 1,23 bilhão.
A empresa atribui o desempenho (em parte) à alta margem de crescimento no segmento de utilitários esportivos nos Estados Unidos, segundo comunicado enviado à imprensa. Antes do desconto, o lucro foi de US$ 10,8 bilhões.
Nesse mesmo relatório, a Ford garante: os 53 mil trabalhadores da empresa ligados ao UAW, o poderoso e cabuloso sindicato dos metalúrgicos nos Estados Unidos, terão participação no lucro e levarão para casa, em média, US$ 9,3 mil.
Vale ressaltar que, na América do Sul, houve prejuízo: US$ 832 milhões, menor do que a perda os US$ 1,16 bilhão no ano anterior (2014).
E a Fiat? Quer dizer, a associação da Fiat, Chrysler, Dodge, Ferrari (que resultou na poderosa Fiat Chrysler Automobiles, a FCA)? Que por sinal, não especula – investe e produz – no Brasil.
As vendas globais da companhia ficaram estáveis (4,6 milhões de unidades, segundo o site especializado Automotive Business). O faturamento cresceu 18%: de 96,1 bilhões de euros em 2014 para 113,2 bilhões de euros em 2015. Motivo: o desempenho na América do Norte.
A Jaguar Land Rover triplicou os resultados desde que foi comprada pelo grupo megabilionário indiano Tata: fabricou mais de 500 mil carros dos 1,5 milhão fabricados por todas as demais do Reino Unido.
A marca do carro preferido da rainha Elizabeth emprega, hoje, 35 mil trabalhadores – o dobro que tinha há cinco ano. Os investimentos globais, incluindo o Brasil, chegaram a 11 bilhões de libras esterlinas, ou quase R$ 65 bilhões – e 11 novidades foram lançadas.
Aí, você olha para o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do brasileiro, medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV): ele cresceu 2,5 pontos entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016 e agora está em 67,9 pontos – ou dois pontos a mais do que em dezembro.
Ok, tem notícias ruins para os investidores estrangeiros no Brasil – e até quanto isso pode ser ruim, já que não é nossa vocação trabalhar para especuladores endinheirados da Europa e dos Estados Unidos, principalmente?
O Estadão publicou, na semana passada, que a remessa de lucro das montadoras para as matrizes despencou 70%. Mesmo assim, foram US$ 271 milhões.
O tamanho da remessa, segundo o BC
2006 – 1,3 bilhão
2008 – 5,6 bilhões
2010 – 4 bilhões
2013 – 3,3 bilhões
2015 – 271 milhões
Bem, Joel Silveira Leite, veterano e respeitado jornalista da área automobilística, escreveu um artigo há duas semanas sobre a disseminação, há décadas, da tese de que a causa do alto preço do carro no Brasil é o imposto.
Ele lembra que o mantra pegou – e, por isso, passou a ser senso comum que a carga tributária é que faz o brasileiro pagar o carro mais caro do mundo. Além, é claro, do custo Brasil, aquelas dificuldades estruturais e burocráticas, falta de qualificação profissional e estrutura logística cara, insuficiente e arcaica.
Será? Nem impostos nem o custo Brasil justificam os US$ 37.636,00 que o brasileiro paga por um Corolla, lembra Silveira. O norte-americano, por exemplo, paga US$ 15.450,00. Na Argentina, continua ele, o Corolla também custa US$21.658,00.
E Joel Silveira vai mais além: no Paraguai, o consumidor paga pelo Kia Soul US$ 18 mil, metade do preço no Brasil. Ambos vêm da Coreia. “Não há imposto que justifique tamanha diferença”, ressalta ele.