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Tem um Paulo Freire debaixo do nariz do ministro e um Villa-Lobos

Totem do inimigo número 2 deste governo segue, desolado, ao lado da sede do Ministério da Educação

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Placa em homenagem a Paulo Freire
1 de 1 Placa em homenagem a Paulo Freire - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Coisas sobre Paulo Freire que eu não sabia, embora seja da geração que tinha na Pedagogia do Oprimido um livro de iniciação para aqueles que, dadas as condições extenuantes de vida, perdem a noção crítica da própria existência. E abre clarões para a transformação da própria vida e do mundo em que vivem a partir do aprendizado do ler e do escrever.

As coisas:

1. Ele é um dos mais importantes pensadores de pedagogia do planeta.

2. A Pedagogia do Oprimido é uma das obras mais citadas em trabalhos acadêmicos na área de ciências sociais em todo o mundo. À frente de Vigiar e Punir, de Foucault, e O Capital, de Marx. E o único brasileiro na lista dos 100 autores mais citados.

3. No mundo acadêmico, é o brasileiro mais homenageado da história, com pelo menos 30 títulos de Doutor Honoris Causa, concedido por universidades europeias e americanas.

4. É filho de um capitão da Polícia Militar de Pernambuco.

5. Só estudou porque seus dois irmãos mais velhos largaram a escola para ajudar na manutenção da casa e assim permitir que o mais novo pudesse continuar os estudos.

6. Foi professor visitante de Harvard.

A primeira experiência de seu método e ensino revolucionário, em Angicos (RN), possibilitou que 300 cortadores de cana aprendessem a ler e a escrever em 45 dias. Naquele começo dos anos 1960, um em cada dois nordestinos era analfabeto.

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Estátua em homenagem a Paulo Freire em Brasília

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Basicamente, o método de alfabetização de Paulo Freire funciona assim: em vez de o aluno aprender a ler e a escrever com “o vovô viu a uva”, ele aprende a partir das palavras que traduzem a vida dele. Se for um pedreiro, vai começar a escrever “tijolo”, “cimento”, “brita”; se for a um trabalhador rural, “enxada”, “terra”, “chuva”.

Ao mesmo tempo em que desenha no papel a letra do seu viver, o aluno vai tomando consciência de que é o sujeito de seu fazer. Ele vai percebendo que não é apenas um assentador de tijolo ou um semeador de semente. Ele é a parte mais importante da feitura da casa ou da semeadura da plantação.

A alfabetização se dá de dentro para fora, como se o aluno tivesse ao mesmo tempo aprendendo a ler e a escrever a si mesmo.

Inimigo número 2 do atual governo, Paulo Freire está mais perto do atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, do que ele gostariaEle mesmo disse que um dos brasileiros mais respeitados no mundo é “feio de doer” e lamentou ter de ver a “carranca” dele todo dia. E tem mesmo. O educador/pedagogo/filósofo está desenhado em delicadas pastilhas num totem plantado ao lado da sede do Ministério da Educação. A peça é uma homenagem do então presidente Lula e do então ministro Cristovam Buarque.         

 

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Ao lado da homenagem a Paulo Freire, há um busto do compositor Heitor Villa-Lobos

Paulo Freire não está sozinho. Tem, ao lado, ombro a ombro, a luxuosíssima companhia de Heitor Villa-Lobos, o mais importante compositor, maestro, pianista, violonista e violocentista da música clássica brasileira. Vale lembrar que a sonoplastia do tenebroso vídeo do ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, era uma música de Wagner, antissemita declarado, maestro preferido de Hitler.

Personagens notáveis de um Brasil que se pretendia moderno e democrático, Paulo Freire e Villa-Lobos estão postados de frente para a entrada do Ministério da Educação. Por certo, acompanham, desolados, tudo o que nos acontece. Eles, provavelmente, estão no céu.     

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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