Quem ama e mora no Gama deve ter conhecido o Assis. Não? Então conheça
Grupo virtual de moradores relembra um de seus personagens mais singulares, de um tempo em que se atribuía alma e identidade ao morador de r
atualizado
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Apartadas do Plano Piloto, as cidades-satélites têm uma riqueza urbana própria, personagens da rua que ficaram grudados na memória afetiva de quem cresceu longe da maquete perfeita, andarilhos que deambulam pelos mesmos lugares, todos os dias, e nos deixam mais próximos de nós mesmos, os humanos.
Alguém do grupo Nós que amamos o Gama, no Facebook, fez um post provocativo:
- “Diz que nasceu e se criou no Gama e não conheceu o Assis kkkkkk”
No sábado (24/08/2019), já havia mais de 150 comentários – de quem conheceu o Assis… que Assis!
. Me lembro muito do Assis. Era um cara bacana demais antes de incorporar algumas entidades diabólicas. Ele tinha legiões de demônios e uma força fenomenal. Para segurá-lo, eram necessários no mínimo dez homens. Era preciso chamar algum pastor abençoado pra orar por ele e expulsar os demônios. Depois que era exorcizado, virava um homem completamente dócil. Quando os bichos chegavam, ele mandava todos saírem de perto dele. Eu era adolescente, morria de medo.
. Ele fazia pedra assoviar…
. Alguém tem visto o Assis?
. Sumiu. Tem mais de ano que a família não tem notícia dele.
. O Assis dizia: ‘Boa noite, tem café? Se não tiver, pode fazer que eu espero’.
. Perdi as contas de quantas vezes levei o Assis para o hospital.
. Assis gostava de andar puxando uma garrafa de QBoa que tinha um saco de leite amarrado. Era o seu carro. Corria pelo Setor Sul e pela 36, sem falar que tinha uma pontaria (pedrada) certeira.
. Ele gostava de brincar de dirigir. Uma vez, eu estava vindo da casa da minha irmã. Quando chegamos ao semáforo, estava fechado. Ele parou do lado do meu carro e quando o sinal abriu saiu dirigindo. Foi muito engraçado.
. Ele parecia um carro de Fórmula 1
. Assis vagava pelo Gama fazendo imitações engraçadas e tomando cafezinho na casa das pessoas.
. Ele também lavava o carro dos professores e cobrava.
. Assis Cafezinho? Lógico que conheci. Eu gostava de dar cafezinho pra ele toda vez que passava na minha casa.
. A última vez que tive notícia do Assis foi de uma foto dele como desaparecido. Ele amava café e imitava a Gretchen para a criançada.
. Eu estava no Parque do Cine Itapuã, fui falar com ele e minha mãe me deu uns tapas porque fui falar com um desconhecido.
. Na casa da Mamainha, ele chegava pedindo café, tomava uma garrafa inteira.
. Ele chegava na casa da minha mãe e lavava a louça toda.
. Fez parte da minha infância. Um grande amigo que sempre vinha brincar e tomar café.
. Era um homem de bom coração que gostava de fazer imitações e girar o braço bem forte. Eterno Assis.
. Parece que bateram nele, ficou internado e morreu.
. Mataram ele em Santa Maria no ano passado.
. Fiquei sabendo que haviam encontrado um corpo em Santa Maria e que era o dele, depois desmentiram.
. Ele não fazia mal a ninguém.
Era um tempo em que as pessoas que vagam pela rua tinham nome, uma época em que os que tinham casa reconheciam a condição humana dos errantes que vagavam pelas cidades. Muitos no grupo não conheceram o Assis, mas conheceram o Chico Doido, o Sigura, o Índio da Rodoviária, o Bejoqueiro, o Mãozinha. Os bairros, as quadras, as ruas, seja lá que nome tenham os lugares da subúrbio, tinham seus gauches, almas errantes das cidades pra nos lembrar que somos assim, toscos, imperfeitos e ao mesmo tempo possíveis.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.