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Por que a Covid-19 ainda não chegou às cidades mais pobres do DF

O coronavírus também não chegou a duas satélites mais distantes. De algum modo, a segregação espacial tem protegido os menos protegidos

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Coronavírus: praça no DF fica cheia para disputas de dominó
1 de 1 Coronavírus: praça no DF fica cheia para disputas de dominó - Foto: Hugo Barreto/Metropoles

A lógica perversa do coronavírus está protegendo, com a ajuda da segregação sócio/econômica/espacial, os moradores das cidades mais pobres e mais distantes do Distrito Federal – as duas mais distantes e cinco das mais pobres.

Se a Covid-19 chegou ao Brasil no corpo dos que podem pegar voos internacionais, em Brasília com a especial contribuição dos que estiveram na comitiva presidencial que foi para Miami, o vírus com jeitão de mamona e amargo sabor de morte ainda não venceu os 42 km que separam Planaltina da Rodoviária do Plano e os 51 km que protegem Brazlândia, a cidade mais interiorana do DF.

Além de Brazlândia e Planaltina, estão na lista das cidades que ainda não têm casos notificados, Itapoã, Scia-Estrutural, Fercal, Riacho Fundo 2, Varjão, Candangolândia e Saan.

As sete cidades mais pobres do quadrado são (da mais pobre para a menos pobre): Scia-Estrutural, Riacho Fundo 2, Fercal, Paranoá, Varjão, Recanto das Emas e Itapoã. Vejam que dessas sete, cinco ainda não tiveram nenhum caso notificado de coronavírus. São cidades com renda per capita de R$ 570 a R$ 930. A maioria delas é pequena. O Riacho Fundo 2 tem 85 mil habitantes. Fercal e Varjão são minibairros: 8 mil habitantes cada uma.

A Estrutural (que inclui a Cidade do Automóvel, onde não mora ninguém) tem 35 mil habitantes. E o Itapoã, a menos pobre, tem 62 mil moradores. Apenas 22% dos moradores da Estrutural trabalham no Plano Piloto, o que ajuda a explicar a proteção anticorona. No Itapõa, um em cada três trabalhadores tem emprego no Plano Piloto de Brasília.

A Candangolândia é uma ilha cercada de córregos e matas ciliares, com apenas duas vias de acesso (uma delas, muito pouco usada). É também uma minicidade, com 16 mil habitantes e renda per capita de R$ 1,4 mil. Continua imune ao vírus, embora quase metade da população economicamente ativa trabalhe no Plano Piloto, 42%.

Mas a reabertura das agências bancárias pode estourar a bolha que, por ora, vem protegendo as cidades mais pobres (e as mais distantes) do vírus que ameaça a humanidade.

O Saan, Setor de Abastecimento e Armazenamento Norte, não é uma cidade. Faz parte do SIA. É aquela fileira de oficinas, galpões, pequenos prédios de moradia que se desdobra à margem da Epia Sul, ao lado da Rodoferroviária.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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