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O estranho homem que criou a “equação do amor”, a tatoo dos amantes

Dirac tem uma espécie de percepção filosófica e quase mística de que o segredo está guardado na beleza

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Conceição Freitas/Arquivo pessoal
Imagem colorida de dois antebraços com tatuagem em forma de fórmula matemática - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de dois antebraços com tatuagem em forma de fórmula matemática - Metrópoles - Foto: Conceição Freitas/Arquivo pessoal

Já se disse que se ele fosse um compositor, seria Mozart; que ele encontrou equações matemáticas comparáveis a sonetos de Shakespeare; que ele é o homem mais estranho do mundo. O cara é tão astronomicamente famoso que a equação dele está tatuada na pele da moçada do lado ocidental do planeta. (Impossível reproduzi-la aqui porque o teclado não contém os símbolos matemáticos do alfabeto grego e latino). Paul Dirac, o homem que descobriu as profundezas do universo, é um dos mais importantes físicos teóricos de todos os tempos.

Britânico, um dos mais jovens ganhadores do Nobel de Física, percorreu quase todo o século 20, do nascimento, 1902, à morte, 1984. De personalidade um tanto exótica, mereceu uma biografia lançada em 2009 e aclamada em críticas, resenhas e prêmios. O título da obra é bom de venda, mas diz muito pouco sobre o biografado: The Strangest Man (O homem mais estranho do mundo, em tradução livre), do também britânico Graham Farmelo, ainda não foi publicada no Brasil.

O que me derreteu e tem derretido cientistas e não-cientistas no mundo todo é a beleza estética das equações de Dirac (no meu caso, é o que se diz sobre elas). Ele consegue ser ao mesmo tempo preciso, conciso, belo e elegante nas descobertas e nos escritos. Mais até do que um talento estético, Dirac tem uma espécie de percepção filosófica e quase mística de que o segredo está guardado na beleza.

É tanto que o físico italiano Vincenzo Barone reuniu artigos do genial físico numa coleção à qual deu o nome de Beleza como método. Sobre essa coletânea, o biógrafo de Dirac escreveu: “A coleção de Barone apresenta deliciosamente a estética matemática de Paul Dirac, um aspecto crucial de seu pensamento sobre a maneira como deveríamos pensar a natureza”.

Dirac ainda não tinha 30 anos quando resolveu um dilema entre a teoria da relatividade e a mecânica quântica, enigma que descabelava os físicos, entre eles, claro, Albert Einstein. A célebre (e poética) equação resolveu a pendenga ao prever a existência da antimatéria, conceito extraordinário que mudou o modo como entendemos a natureza e o universo.

“Excêntrico, de pouquíssimas palavras, muito focado, tinha pouquíssima empatia e um pensamento linear” – assim o biógrafo descreve o biografado no documentário Tudo e Nada (acessível em serviços de streaming).  O físico da antimatéria falava tão pouco que os amigos criaram, de chacota, uma medida chamada “um Dirac” que correspondia à menor quantidade de palavras que alguém poderia usar, no período de uma hora, sem deixar de fazer parte de uma conversa.

Estranho e generoso

Embora casmurro no convívio social, Dirac se expressava muito bem em palestras e conferências. Era generoso o estranho homem. Ao receber o Prêmio James Scott, em 1939 (O Nobel foi em 1933), ele não apontou para si, apontou para Einstein: “A teoria da relatividade introduziu a beleza matemática em uma extensão sem precedentes na descrição da natureza”. Referia-se à mais famosa equação do mundo: E = mc².

Dirac tinha uma percepção visual da física e da matemática. O que explica por que gostava tanto de 2001: uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, obra-prima do cinema, um deslumbre de imagens numa concisão de palavras.

Seu biógrafo diz: “Como um soneto de Shakespeare, a equação de Dirac condensa um significado em poucas palavras, de forma complexa e bela”. A cada nova leitura da equação é possível encontrar mais e mais sentidos e elegâncias. “Você olha pra equação e não para de encontrar coisas que não eram óbvias à primeira vista”. Surpreso com a própria descoberta, Dirac comentou certa vez: “Ela [a equação] expõe mais do que aquilo que eu imaginava que havia nela”.

No universo infindo da internet, é considerada a “equação do amor”, dada a analogia romântica que permite: o físico encontrou uma fórmula para descrever a existência, dentro do elétron, da matéria e da antimatéria, e de que, num jogo cósmico quase poético, uma anula a outra. O amor entre duas pessoas, sugere o mundo intergaláctico da internet, pode ser tão absoluto que, mesmo os amantes estando separados, eles seguem conectados nos mistérios do universo.

Na lápide sobre o túmulo do estranhamente poético Paul Dirac, no cemitério Roselawn, na Flórida, está inscrita na pedra uma frase dele: “…because God made it that way” (… porque Deus fez assim).

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