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É verdade que o amor romântico está com os dias contados?

Pergunte. Dos autores clássicos aos poetas, músicos, pintores, sambistas e cantores. Pergunte a todos

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Imagem colorida do quadro Abraço, obra de Egon Schiele, 1917 - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida do quadro Abraço, obra de Egon Schiele, 1917 - Metrópoles - Foto: Divulgação

Pergunte aos poetas, ao Cântico dos Cânticos, aos sonetos de Shakespeare, a Dom Quixote, a Riobaldo, a Frida, Clarice, Camões, Cazuza.

Pergunte aos sambistas e aos sertanejos, à MPB, ao hip-hop e ao funk, a Chico, Gil, Bethânia (Caetano não sei dizer). A Roberto e Erasmo, a Odair José, Lupicínio Rodrigues, Cole Porter, Edith Piaf, Amy Winehouse, Marília Mendonça. Cito a esmo, tantas e tantos os românticos e as românticas com suas epifanias de amor.

Pergunte às coisas mais belas já escritas e cantadas. Às loucuras mais loucas e, sim, às dores mais fundas.

Pergunte aos medievais Tristão e Isolda; a Florentino e Fermina, dos tempos do cólera; aos modernos Maria Martins e Marcel Duchamp. A Salvador Dali.

Pergunte a uma das mais românticas lendas indígenas amazônicas, a do surgimento do Rio Amazonas, que teria nascido do amor entre o Sol e a Lua. A amada satélite, quando percebeu que jamais encontraria o amado estelar, chorou tanto e tanto que as lágrimas caíram nas montanhas da Terra e correram para o mar. Por soberba ou inveja do amor, o oceano rejeitou o choro da Lua. Então, a força das águas lunares abriu um imenso vale na floresta e assim nasceu o maior rio do mundo.

Pegunte a um dos mais espantosamente belos amores da literatura brasileira, o do jagunço Riobaldo pelo também jagunço Diadorim. Amor que surge, contido e desconfiado, na brutalidade do grande sertão e amolece nas águas líricas das veredas. “Gostava de Diadorim, dum jeito condenado – diz Riobaldo sobre aquele jagunço/jagunça –; nem pensava mais que gostava, mas aí sabia que gostava em sempre.”

Pergunte ao próprio Guimarães Rosa: O amor está em toda a obra do cordisburguense – amor das prostitutas, dos ambíguos, das velhas, dos velhos, das novas, dos novos, das nem velhas nem novas, das recatadas, das impudicas, amor, amor, amor.

Pergunte aos amores entre corpos biologicamente nascido iguais e igualmente rejeitados por séculos e séculos de imposição hétero. Amores escondidos, contidos, disfarçados, amaldiçoados.

Pergunte a Carlos Drummond de Andrade, para quem amar o perdido/deixa confundido/este coração./Nada pode o olvido/contra o sem sentido/apelo do não./As coisas tangíveis/tornam-se insensíveis/à palma da mão./Mas as coisas findas,/muito mais que lindas/essas ficarão.”

Ou a Clodo Ferreira, autor da letra de Revelação, consagrada na voz de Fagner. O compositor piauiense/brasiliense morto recentemente responde, no mesmo diapasão amoroso, ao poema de Drummond. E diz que as coisas findas não apenas ficarão, elas voltam a incomodar: “Quando a gente pensa de toda maneira dele se guardar, sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar”. (Mais informações sobre como Clodo compôs Revelação, leia no Blog do Severino Francisco).

Pergunte a Nelson Rodrigues, ele sabe muito sobre o amor. Leia Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo, coletânea de respostas que o anjo pornográfico dá às leitoras e aos leitores de sua coluna no Diário da Noite, na qual ele atendia sob o pseudônimo de Mirna. Ele diz: [No amor] “não escolhemos nem certo nem errado, porque simplesmente não escolhemos”.

Pergunte a Clarice e ela responderá de muitos modos. Um deles: “Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca”. Sim, aqui ela parece tratar do amor universal, mas vale também para o romântico. (Nunca consegui ler A paixão segundo G.H., tenho medo de me perder e nunca mais voltar).

Termino com @gilbertogil que, no último Dia dos Namorados, escreveu: “[O amor] sempre nos arremessa ao plano do divino, nos arremessa fora da atmosfera do real terreno para a estratosfera do além divino”. Pra mim, é isso.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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