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Cancelar o FAC é uma chantagem perversa. É a arquitetura da destruição

A decisão do secretário de Cultura traz embutida uma escolha de classe e um desejo de constranger e de silenciar o pensamento e a crítica

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As fotos da manifestação de quinta-feira (16/05/2019) no Teatro Nacional têm a potência de uma verdadeira obra de arte feita com o corpo e com a arquitetura. É Athos, Brasília, teatro, concreto armado, homens, mulheres, cartazes, textos, tudo junto denunciando uma chantagem perversa – o que é uma redundância, porque toda chantagem é perversa, mas nesse caso a hipérbole é necessária.

Há uma maldade cínica na decisão de tirar os recursos destinados aos projetos culturais alegando a necessidade de reformar a Sala Martins Penna. Há um evidente desejo de constranger os brasilienses que transformam a insipidez do concreto armado, como bem disse o dramaturgo Sérgio Maggio, numa cidade que tem febre de arte, de cultura, de cidadania, de afirmação de vida.

E é uma escolha de classe: reformar o teatro é mais importante do que investir o dinheiro público na arte em movimento, nas expressões culturais e artísticas que se realizam em todo o DF, na arte que vai aonde o povo está. Quantos dos 3,5 milhões de brasilienses já pisaram no Teatro Nacional? Os milhares de profissionais envolvidos nos projetos do FAC levam a alma brasiliense para o lado de fora das salas de espetáculo, cujos preços, cuja imponência e cuja dificuldade de acesso são proibitivos para quem mora nas cidades-satélites.

É evidente que reformar a Sala Martins Penna do Teatro Nacional é importante. Mas, entre dar de comer a uma obra arquitetônica e distribuir comida para os famintos de todo o DF, a segunda escolha é inegavelmente mais democrática. Vale lembrar que o Catetinho e a Catedral, depois de anos de espera, foram restaurados com o dinheiro de grandes instituições privadas.

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Não é difícil perceber, na decisão do secretário de Cultura, Adão Cândido, uma evidente represália a quem pensa por si só, a quem indaga, ironiza, lê, escreve dança, canta, protesta, reivindica, a quem não se deixa subjugar pelo poder, seja ele qual for. Ao governo interessa alimentar a manada, a subserviência, o jogo político do toma lá dá cá. Mas, como é preciso de algum modo ficar bem no retrato, então que se decida reformar a Sala Martins Penna “para os 60 anos de Brasília”, outra chantagem perversa.

Uma cidade não se faz de arquitetura. Somos nós, os que habitamos e animamos Brasília, que damos sentido à arquitetura e à cidade. Uma sala de espetáculos vazia não é nem uma ruína, porque até as ruínas precisam de quem dê sentido a elas. Um teatro vazio é uma pedra na Lua. Não há ninguém para confirmar que ele existe. Um teatro reformado às custas do silêncio de 269 projetos culturais inscritos e de milhares de desempregados é a negação da arte e da cultura, da vida em sentido absoluto. É a arquitetura da destruição.

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* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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