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A cidade moderna que tem 330 terreiros de umbanda e candomblé

Os templos de umbanda e candomblé chegaram com os primeiros candangos, mas Brasília segue intolerante com as religiões de matriz africana

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Terreiro de umbanda incendiado no DF
1 de 1 Terreiro de umbanda incendiado no DF - Foto: Facebook/Reprodução

O ataque a um templo de umbanda de Planaltina, na madrugada do dia do nascimento de Cristo, é uma boa hora para relembrar a história dos terreiros das religiões de matriz africana na capital do segundo maior país em população negra do mundo – o primeiro é a Nigéria.

Os terreiros de candomblé e de umbanda chegaram a Brasília com os primeiros candangos. O Templo Umbandista Cabocla Jurema, atacado na noite de 25 de dezembro, fará 50 anos em janeiro de 2020. Mesmo sem os atabaques (furtados), sem as roupas de santo e sem os objetos do ritual religioso (incendiados), o templo fará a festa para Iemanjá, na última noite do tenebroso ano de 2019. “O importante é a festa. Os orixás entendem”, disse Mãe Maria de Oxum.

Os orixás não apenas entendem como se fortalecem na luta que dura mais de 500 anos, desde que os primeiros negros chegaram ao Brasil para ajudar a construir um novo país com a força, a religião, a música, a comida, o afeto e a resistência dos escravos. E a violência sexual de que foram vítimas milhões de escravas ao longo de três séculos.

Quem olha para os palácios de vidro e mármore da cidade mais moderna do mundo não sabe que nos arredores do Plano Piloto existem 330 terreiros de religiões de matriz africana. Muitos outros tiveram de deixar o quadradinho por conta da especulação imobiliária e da intolerância religiosa.

Ceilândia é a cidade com maior número de terreiros, 43. Planaltina tem 25. Gama, Sobradinho 1 e 2, respectivamente; Samambaia e Santa Maria têm, em média, 25 terreiros cada uma. A maioria deles, 88%, fica dentro das cidades. O restante, nas zonas rurais. Mais da metade, 57,8%, é de umbanda. Um terço, 33,5%, de candomblé. Os demais, 9%, abrigam as duas religiões.

Pouco antes da chegada deste governo nefasto e anticivilizatório, o então Ministério da Cultura lançou, com a Fundação Palmares, o Mapeamento dos Terreiros do Distrito Federal, de onde foram retirados os dados acima. “Por sua complexidade e diversidade, o mapeamento é a cara do Brasil”, disse o professor Rafael Sanzio, da UnB, durante o lançamento da pesquisa. É a cara do Brasil como a população brasiliense é a cara do país, síntese de todos os brasis que para cá vieram e continuam a vir.

Os terreiros são a face mais resistente do patrimônio cultural brasileiro dada a ininterrupta perseguição de que são vítimas desde a chegada do primeiro navio negreiro. Só em 1984 o Iphan aprovou o tombamento do Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, um dos mais antigos do país.

Território de contradições, aclamada por ser uma cidade mística, Brasília aceita o Vale do Amanhecer e trata com evidente desprezo as religiões de matriz africana. Mais da metade da população brasiliense é parda/preta. Quanto mais pobre é a satélite, mais negra ela é. Quanto mais rica, mais branca. Tão branca que no Lago Sul e no Noroeste não há nenhum negro autodeclarado, segundo a PDAD/2018.

Queremos ser místicos, mas não queremos ser pretos.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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