Vilão? Especialista diz tudo o que você precisa saber sobre o cortisol
“Em níveis adequados, o cortisol é essencial para a nossa vida”, frisa o nutricionista ortomolecular Alessandro Palatucci Bello
atualizado
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Popularmente conhecido como o “hormônio do estresse”, o cortisol ainda não foi, de fato, desmistificado. Muitos acreditam — até hoje — que esse hormônio produzido pelas glândulas supra-renais seja um vilão. Mas, em conversa com a Coluna Claudia Meireles, o nutricionista ortomolecular Alessandro Palatucci Bello assegura que não é bem por aí. “Em níveis adequados, ele é essencial para a nossa vida”, lança.
Afinal, qual é a importância do cortisol ao nosso organismo e o que precisamos saber, realmente, sobre ele? A seguir, o profissional esclarece dúvidas em relação ao assunto para que não haja mais engano a respeito do famoso “hormônio do estresse”:
De início, o especialista lembra da típica frase de que “tudo em excesso ou em baixa produção faz mal”. E, com o cortisol, não é diferente. Fabricado pelas glândulas supra-renais, localizadas logo acima dos rins, esse corticosteroide vai controlar os níveis de estresse no corpo. “Em níveis de normalidade, ele vai fazer a redução dos processos inflamatórios e regular o nosso humor”, cita.
Alessandro acrescenta que o hormônio ainda funciona como um importante regulador do sistema imunológico, além de ajudar a manter o nível de açúcar no sangue constante e controlar a pressão arterial.
No que diz respeito ao estresse, o nutricionista explica a ação do cortisol com a seguinte ilustração:
“Imagina um cachorro raivoso vindo para cima de você. Nesse momento, o que o seu corpo tem que fazer? Ou você se prepara para lutar com aquele animal ou você vai sair correndo. De qualquer forma, você vai precisar de energia, principalmente nos músculos — para sair correndo ou lutar. E a glicose é a forma mais rápida que o nosso corpo tem de produzir energia (ATP), porque ela é uma molécula altamente oxidativa. Como nosso organismo é muito rico em oxigênio, ela só precisa disso para se quebrar e produzir níveis energéticos. O corpo, então, vai identificar que está vindo um perigo, e vai aumentar os níveis de cortisol, e sinalizar para que se retire a nossa reserva de glicose hepática e jogue na corrente sanguínea. Por isso, que o cortisol, inclusive, controla os níveis de açúcar no sangue. A glicose será transformada em energia para você poder entrar em ação. Com isso, seu corpo vai ter energia suficiente para ter contração muscular. Ao mesmo tempo, vai expandir os níveis de noradrenalina, para ter um aumento da frequência cardíaca. Isso permite que se possa levar oxigênio de forma mais eficiente para a musculatura e transportar a glicose para os músculos de forma mais rápida também, o que aumenta a pressão arterial”.
De acordo com o profissional, o cortisol, ainda, modula a nossa resistência à dor. ”Por isso que, quando nós passamos por um estresse rápido, como um acidente, não sentimos dor. Mas quando o ‘sangue esfria’, ou seja, os níveis de cortisol diminuem, você começa a sentir os efeitos relacionados ao ocorrido”, justifica.
Alessandro destaca que, no momento do perigo, o hormônio realiza um bloqueio que eleva a resistência à dor, a fim de que a pessoa tenha uma reação, podendo lutar ou correr de um animal, por exemplo.
Outras funções atribuídas ao corticosteroide são o fortalecimento da musculatura cardíaca — quando ele está controlado — e o manejo das gorduras, carboidratos e proteínas do corpo. “Então, ele não é o vilão da história. Nunca foi”, reitera.
O motivo da “má fama”
O que acontece, segundo Alessandro, é que estamos em um mundo altamente estressante. “Hoje em dia, estamos muito mais ansiosos do que os nossos avós eram, justamente porque o mundo está mais competitivo. Nos preocupamos mais com dinheiro e saúde, por exemplo. A Covid-19 ainda gerou mais medo. Vemos muitos assaltos nos jornais, e isso tudo aumenta o nosso estresse”, faz a reflexão.
O especialista continua: “Também, estamos com baixa qualidade de sono, quase não pegamos mais sol, temos menos férias, estamos alimentando mal, comendo muito fast food e comidas menos naturais. O tempo está escasso. Hoje, as pessoas estão mais focadas nas telas, fazendo menos atividades físicas ao ar livre, e quando juntamos todo esse quadro, temos o aumento do estresse, o aumento do nível do cortisol ou a diminuição desse hormônio, que também é muito prejudicial.”
Alguns fatores influenciam no nível de cortisol presente em nosso organismo, como sono, estresse intenso, ansiedade, má alimentação, sedentarismo, tabagismo e alcoolismo. “Temos de manter padrões saudáveis”, clama o profissional.
Em casos de taxas muito altas, Alessandro revela algumas medidas que podem auxiliar em sua redução:
- Boa noite de sono;
- Alimentos anti-inflamatórios;
- Atividades físicas;
- Atividade sexual;
- Caminhadas ao ar livre;
- Sol;
- Meditação;
- Ioga;
- Psicoterapia.
“Se o cortisol está desregulado, os nossos hormônios sexuais também se desregulam, o que resulta em baixa libido, menos energia e menos força”, ressalta o nutricionista.
Vale saber que taxas de cortisol muito altas resultam, ainda, na diminuição da função imunológica, na perda de massa magra, no aumento da inflamação e da gordura corporal, em problemas na tireoide e na elevação da pressão arterial, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
Por outro lado, o nível baixo do hormônio no organismo também é preocupante, conforme diz o especialista. “Como o cortisol regula o nosso sistema biológico, é ele que vai nos acordar. Uma pessoa com esse índice baixo, vai ficar cansada, se sentir fadigada, com falta de energia. E, também, começar a ter dores nos músculos e nas articulações, além de infecções frequentes, pois esse hormônio atua como anti-inflamatório, ele é como um corticoide natural do corpo. Febre baixa, anemia, falta de apetite e pressão baixa são mais sintomas desse quadro”, afirma.
Gordura abdominal e depressão
Alessandro menciona um estudo publicado no Journal of Obesity que mostra que os níveis elevados de cortisol estão associados ao aumento da gordura visceral que compõe a região abdominal. “O nosso corpo não tem distribuição por igual de receptores de cortisol e, na região abdominal, há uma maior concentração desses receptores. Então, o estresse realmente engorda, justamente por esse excesso de receptores nessa área”, assegura ele.
“É o caso de pessoas que fazem alimentação saudável e atividade física, mas são muito estressadas no trabalho. Ela acaba tendo uma dificuldade muito grande de perder a gordurinha da região do abdômen por conta disso. E é lá que vai ficar aumentada a produção de gordura altamente inflamatória”, conta o profissional.
O nutricionista também cita um estudo do The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism em que indivíduos com níveis elevados do hormônio apresentaram risco maior de desenvolver depressão. “O cortisol elevado demais afeta a nossa saúde mental, e tem ansiedade e depressão como sintomas”, acrescenta ele.
Medicamentos e suplementos
Além das sugestões dadas anteriormente pelo especialista para que as taxas de cortisol se regulem naturalmente, Alessandro esclarece que existem, também, medicamentos redutores do cortisol. Geralmente, se usa os ansiolíticos como tratamento.
No entanto, o nutricionista nomeia alguns suplementos poderosos para essa condição, a exemplo do Relora (combinação do honokiol com a berberina), da melatonina, da passiflora e de chás, como os de maracujá e mulungu.
Como saber as minhas taxas?
De acordo com o profissional, o nível de cortisol pode ser mensurado por meio do exame de cortisol sanguíneo, em que a pessoa faz a coleta, no máximo, 8h da manhã, após ficar em repouso por 30 minutos. “A meu ver, essa não é uma coleta fidedigna, pois, querendo ou não, você está aplicando uma agulha na pessoa. E muitas têm problemas com agulha. Só o fato de sentir dor, de machucar, já sobe um pouco os níveis de cortisol”, opina ele.
Portanto, Alessandro costuma indicar o exame de cortisol salivar, em que a pessoa coloca um algodão na boca, em casa mesmo, em horários específicos, a começar pela manhã, 30 minutos após acordar. “É nesse horário que os índices do hormônio têm de estar elevados. É o cortisol que aumenta a nossa resposta biológica para que possamos acordar”, fala.
Outros dois momentos do dia indicados para a realização do exame salivar são 16h e 22h30. “Considero essa opção mais assertiva”, conta o especialista.
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