Entrar no salão de festas em um vestido digno dos contos de princesas para dançar valsa. A cena norteia o pensamento de meninas que aspiram comemorar os 15 anos como debutantes. Algumas garotas trazem o desejo desde a infância e planejaram, por meses e até anos, concretizar o sonho em 2020. Mas, nenhuma delas imaginava que os planos seriam interrompidos por conta de uma pandemia.

Diante de um cenário imprevisível, a alternativa encontrada pelas adolescentes e familiares foi adiar a festa. Grande parte estava com todos os detalhes acertados, da decoração às atrações surpresas. As gêmeas Mariana e Maria Carolina Marra passaram pela situação dois dias antes da data marcada.

O baile das irmãs iria ocorrer no sábado (14/03). Porém, na noite da quarta-feira (11/03), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, assinou um decreto suspendendo a realização de eventos com público superior a 100 pessoas. A ação fazia parte de uma série de medidas para conter o avanço da Covid-19 na capital.

Não houve opção e foi necessário adiar a comemoração planejada, minuciosamente, pela família desde maio de 2019. Elas começaram a sonhar com a festa de 15 anos ainda quando crianças e a meta o sonho se fortaleceu com o baile da irmã mais velha, Maria Luiza Marra, em 2012. As gêmeas participaram dos preparativos da festa da primogênita do início ao fim.

 

“Foi bem inesquecível o aniversário da Malu [apelido da irmã]. Foi um grande passo para a gente querer ter a nossa festa”, recorda Maria Carolina. Ela foi quem mais se emocionou com a mudança da data. “Me entristeci e chorei muito quando tivemos de dar a notícia aos convidados”, lembra a adolescente. Ao contrário da irmã, Mariana contou ter ficado chateada com a decisão, todavia, entendeu sobre o perigo de colocar vidas em risco.

“Após conversa com meus pais, aceitei e compreendi que era o melhor a ser feito”, frisa a jovem. De acordo com a mãe das meninas, Anna Caroline Marra, o veredito de adiar foi necessário, visto que parentes e amigos a prestigiarem o baile teriam tido contato com recém-chegados do exterior. “Realmente, corríamos o risco de ter uma disseminação entre convidados e fornecedores”, revela a matriarca.

Além da noite de debutante, as garotas tiveram de cancelar outras atividades previstas em questão de horas. Na sexta-feira (13/06), haviam programado uma missa de ação de graças pelo aniversário em que teria a entrega de brownies. Familiares residentes em outros estados estavam com viagem marcada para Brasília e tiveram de reagendar. Os amigos das meninas também ficaram magoados, pois acompanharam a emoção das irmãs com os preparativos da festa.

Uma das questões mais sensíveis em um evento remarcado é o contrato com fornecedores. Quando souberam do decreto governamental, a mãe e o pai das meninas, Fabrício Marra, fizeram reuniões com os profissionais envolvidos. Nas conversas, deixaram claro sobre adiar e não cancelar. Para alívio de ambas as partes, todos concordaram com a decisão por prezar a saúde.

Nova data

Ao serem obrigados a adiar a comemoração, a família estudou novas datas. Esperançosos, não imaginavam a proporção que a pandemia alcançaria no Brasil. Eles estipularam celebrar os 15 anos em 16 de maio. “Pouco tempo depois da remarcação, percebemos que o número de casos só iria aumentar”, justifica Mariana. Analisando possíveis datas, definiram como segunda escolha 31 de outubro, ainda sujeito a novas mudanças. “Tem de continuar a acompanhar o quadro”, argumenta Anna Caroline.

A jovem Maria Luiza Lim também estava com a festa praticamente pronta para o dia 18 de abril. No entanto, o evento tomou outro rumo. Receosos com o avanço da Covid-19, a comemoração foi transferida e ocorrerá em 2021. A adolescente e seus pais, Danielle Lim e Maurício Valim, pensaram que poderiam transformar o sonho em realidade em 19 de setembro. Com a proximidade e a quantidade de casos da doença, desistiram.

Desde setembro de 2019, a família Lim Valim esquematiza os preparativos do aniversário de 15 anos de Maria Luzia. Ao contrário de algumas garotas, ela não trazia o desejo de ser uma debutante desde a infância: “Sempre fiquei em dúvida se faria ou não, com receio de me arrepender depois amadureci a ideia.”

Os pais de Malu (como é chamada pelos mais íntimos) a incentivaram a fazer o baile de 15 anos. “Especialmente, meu pai, Maurício”, afirma. Em meses de planejamento, ela se envolveu com a elaboração de cada detalhe e ao ver que teria de adiar a festança sentiu “um misto de emoções”. “Surpresa, tristeza e até um pouco de alivio, porque a saúde e proteção de todos vêm em primeiro lugar”, lembra a adolescente.

À frente da TJC Promotora de Eventos, o cerimonialista Túlio Henrique Lima teve dois bailes de debutantes adiados, sendo um das gêmeas. O outro está previsto para dezembro: “Aguardamos a evolução da pandemia e veremos se será adiado ou não”. Na avaliação do profissional, é complicado fazer um reagendamento devido à incerteza quanto ao pico do número de infectados da Covid-19.

Ele orienta os clientes a esperarem chegar o mais próximo da festa, em torno de dois meses antes, para uma nova remarcação. “A decisão final fica com o cliente. Lembramos sobre um evento possibilitar contato físico e aglomeração de pessoas. Temos de analisar para não quebrar os protocolos das autoridades”, reforça Túlio.

Como mãe, Anna Caroline se vê no papel de tranquilizar as filhas quanto à realização do baile de debutantes. “Temos até o dia 5 de janeiro para comemorar. Já falei para não ficarem preocupadas, pois iremos comemorar sim, nem que seja com 16 anos”, garante. Maria Carolina e Mariana completaram 15 anos em 6 de janeiro e optaram por celebrar em março, por não ter feriados nem estar no período de férias.

Segundo o estilista Fernando Peixoto, é comum as adolescentes comemorarem a chegada dos 15 anos meses depois. Na situação atual, de pandemia, isso se torna uma preocupação para algumas meninas, visto que não se sabe quando será seguro festejar. No quesito vestido de debutantes, Peixoto é o queridinho entre as jovens. Desde o início da quarentena, o profissional teve 16 bailes com novas datas previstas e acredita que o número irá aumentar.

“Tenho festas ao longo do ano e estou quase chegando em 20 festas de 15 anos que foram remarcadas”, revela o estilista.

Lado bom

Pode não parecer, mas também há o lado positivo da pandemia. A jovem Maria Luiza Lim viu a oportunidade para acrescentar novidades à festa. Já a família Marra olhou o período com otimismo e fizeram ajustes em alguns detalhes. “Aperfeiçoamos e colocamos mais surpresas aos convidados. Ficará até melhor do que ela seria”, ressalta Maria Carolina. De acordo com Peixoto, as comemorações que foram adiadas tiveram um upgrade.

Alguns pais viram a possibilidade de adicionar algo a mais ao evento, visto que o orçamento dedicado à festa estava totalmente comprometido. “Foi bom não só comigo. Os clientes reveram contratos e aumentaram a decoração, incrementaram um requinte a mais. Teve um lado de compensação com essas remarcações”, argumenta o estilista com mais de duas décadas de carreira.

O cerimonialista Túlio vê como benefício da pandemia o cuidado com o próximo: “Haverá uma maior conscientização até mesmo em caso de uma simples gripe, sendo responsabilidade de cada pessoa para não disseminá-la”, defende.

Sonhos

Por envolver sonhos, Fernando Peixoto precisou lidar com situações emotivas, principalmente das meninas e das mães. Ele sente uma apreensão por parte delas devido ao medo não poder realizar a festa na nova data estipulada e de ser necessário usar máscara de proteção. “Tem de estar tudo tranquilo para poder dançar, cantar com os DJs, abraçar e curtir com os amigos”, afirma o profissional.

Túlio acredita que os eventos voltarão à normalidade aos poucos, porém, por enquanto, será necessário se submeter a alguns protocolos de segurança: “Uso de máscaras, proibição de alimentação no local e número restrito de pessoas”.

Independente do cenário, Maria Luzia Lim e Mariana e Maria Carolina Marra aguardam ansiosamente para concretizar o tão sonhado baile de debutantes.

“Tenho certeza que a festa teria sido especial antes. Agora, devido à pandemia, será inesquecível e muito mais especial, porque envolverá o reencontro com amigos e familiares depois de tanto tempo”, idealiza Maria Carolina, gêmea de Mariana.

Já Maria Luiza pensa em uma cena de filme: “Imagino viver um dia de princesa, dedicado a mim sem me importar com que os outros pensam. Quero a felicidade e que todos se divirtam”, almeja.

 

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