Sessão em 4K de Deus e o Diabo na Terra do Sol lota o Cine Brasília no Dia do Cinema Nacional
O produtor Lino Meireles e a cineasta Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha, restauraram o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol
atualizado
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A capital federal comemorou o Dia do Cinema Nacional, nessa segunda-feira (19/6), com uma sessão especial do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, obra máxima de Glauber Rocha, no lotado Cine Brasília. Quem compareceu ao prestigiado evento teve a oportunidade de assistir pela primeira vez a projeção do longa-metragem na tecnologia 4K. O processo de restauração passou pelo olhar criterioso da cineasta e pesquisadora Paloma Rocha, filha de Glauber, e do produtor Lino Meireles.
Antes de conferirem a versão em 4K do filme de 1964, os presentes — a exemplo da ministra da Cultura, Margareth Menezes —, ficaram por dentro de cada passo da restauração da produção de Glauber Rocha. Na ocasião, houve um bate-papo comandado pelos dois responsáveis diretos pela revitalização da obra. Doutora em história, a professora Miriam Silvestre também colaborou com a conversa, que teve tradução em Libras.
De acordo com Meireles, o audiovisual brasileiro é muito rico e bem preservado na Cinemateca Brasileira. Com vontade de assistir ou ter acesso a produções de Glauber Rocha que não estavam disponíveis em DVD, ele conversou com Sara Rocha, neta do icônico cineasta, e em seguida, conheceu Paloma. A partir de então, mais precisamente em 2018, passaram a falar a respeito da restauração de Deus e o Diabo na Terra do Sol.
“Foi o primeiro filme restaurado e por ser o primeiro, obviamente, tiveram alguns processos que ainda estavam se acertando. Havia uma necessidade de ainda restaurar esse filme, que já tinha sido restaurado e, por isso, era um pouco mais difícil”, explicou Lino Meireles. Eles deram início ao trabalho em 2019, entretanto, a pandemia da Covid-19 atrapalhou os planos da dupla.
Até chegar às mãos de Paloma, Lino e outros renomados profissionais, o longa-metragem “repousava” em cinco latas de negativos de fita 35 milímetros na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Conforme o produtor detalhou, o material recolhido de 118 minutos precisou ser fotografado em 4K frame por frame. “Não é assim: vai passando o filme e vai fotografando. É passa um frame e ‘clac‘”, salientou.
Lino revelou que o processo rendeu três semanas de escaneamento individual de cada frame de imagem e som que, depois, precisaram ser separados. Segundo Paloma, um restauro desses costuma durar em média 18 meses. Desde o início, ela pediu ao produtor para o projeto ser feito em 4K por não dispor de “interferência digital nem de marcação de cor”.
“Tem um novo negativo digital em 4K, que está armazenado na Cinemateca Brasileira, é algo assim ‘do futuro’. Lembrando que o restauro começou em uma projeção de uma sala de cinema com a sua melhor cópia reunida. Foi restaurado e o negativo está preservado em 4K. Depois minha neta ou alguém daqui a duas ou três gerações queira mexer de novo, vai ter a sua oportunidade”, enfatizou Paloma, filha de Glauber.
A revitalização foi estreada no ano passado. Durante a conversa, Paloma frisou que o trabalho de conservação da Cinemateca Brasileira e o restauro possibilita as produções de Glauber Rocha continuarem vivíssima. “A obra dele não vai morrer. Está toda preservada e é um feito mesmo. Eu agradeço à minha avó de ter colocado essa semente em mim e ao meu pai por ter permitido que tudo isso fosse feito”, sustentou.
“O meu desejo é que a obra dele precisa disponibilizada em breve, todos os originais, porque é inédita. Ninguém sabe esse lado documental do Glauber, as pessoas não conhecem, eu faço votos que nestes próximos quatro anos nós consigamos fazer isso”, almeja Paloma Rocha. Ela deu início ao projeto de restauração do material em 2003. A cineasta descreveu o pai como uma “pessoa muito organizada”, razão para os conteúdos estarem em bom estado.
Ministra
Ministra da Cultura, Margareth Menezes marcou presença na sessão de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Em discurso, ela teceu elogios aos dois principais nomes envolvidos no restauro, ou seja, Lino Meireles e Paloma Rocha. “Uma vitória da cultura neste dia especial! Reforça também a importância do trabalho de preservação e de difusão das obras para os estudiosos e os amantes do cinema, que será feito aqui pela Cinemateca Brasileira”, festejou a gestora da pasta.
Importância
Em entrevista à Coluna Claudia Meireles, a doutora em história Miriam Silvestre destacou que exibir Deus e o Diabo na Terra do Sol no Cine Brasília é uma forma de reverenciar o Dia do Cinema Nacional. “Data que deve ser lembrada todos os anos”, pontuou. Para a professora, o audiovisual brasileiro tem produções que são “grandes referências” e a obra de máxima de Glauber Rocha entra no rol.
“Deus e o Diabo na Terra do Sol está no patamar das grandes referências da nossa cinematografia. Por exemplo, Eles Não Usam Black-tie, do Leon Hirszman. É um filme fantástico. Mais recentemente tem Bacurau. Algo impressionante. Que Horas Ela Volta. Alguns filmes do Mazzaropi. Chega a ser difícil a gente lembrar de tantos, mas esses são alguns títulos que quando me veem com referências. Outro do Glauber, como Terra em Transe”, elencou Miriam.
Confira os cliques de quem passou pelo evento:
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