Sargam Shook sobre coronavírus: “Uma oportunidade de crescimento”
O fundador do Santuário Osho Lua, na Chapada dos Veadeiros, conversou com a coluna sobre as vantagens da yoga e meditação durante a pandemia
atualizado
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O Santuário Osho Lua, situado na Chapada dos Veadeiros, é uma alternativa conhecida para quem deseja fazer um retiro com o objetivo de se desconectar do universo digital e “se aproximar da verdadeira essência do ser”. Em meio a um cenário de natureza farta, o indivíduo mergulha em experiências que envolvem trilhas, fogueira, cachoeira, yoga, meditação e comida vegetariana.
Sargam Shook, fundador do santuário, lidera os grupos de retiro há mais de 20 anos. Ele tem conhecimento na arte de autocura e xamanismo, além de yoga e qigong, terapias holísticas, nutrição, saúde e bem-estar.
Ao conversar com a coluna Claudia Meireles, o idealizador do projeto deu sua opinião sobre as mudanças que poderão ocorrer na sociedade após a pandemia de coronavírus e falou sobre os ensinamentos para afastar a ansiedade e preocupações da mente.
Veja:
O que mais te encantou na Chapada e que provocou a mudança para lá?
Após um ano e meio morando na Índia, recebi da vida a clara mensagem que eu deveria voltar para o Brasil e começar um centro de autoconhecimento, desenvolvimento sustentável e cura. Esse tempo no país oriental foi de profunda transformação e me reconectou com a magia e o esplendor da vida. Senti uma total entrega em fé no meu destino.
Em junho de 1991, vim para a Chapada dos Veadeiros, um lugar ainda selvagem, muito preservado e quase sem impacto humano. É o ponto mais alto do Planalto Central brasileiro e com fartura de água pura e cristalina.
Chegando aqui, imediatamente senti uma vibração elevada, o encantamento da pureza do lugar e a confirmação de que era onde deveria estar. Senti uma conexão inexplicável com a terra e, assim, a força da vida me levou para o Santuário Osho Lua.
Como está a sua rotina na Chapada? Tem meditado, feito yoga e outras atividades com qual frequência?
Depois de uma busca genuína e com total entrega, mergulhei profundamente na dimensão do espírito através da meditação. Descobri que não há divisão entre matéria e espírito, o externo e interno. Após o descobrimento de si mesmo, tudo o que acontece surge e passa. É uma oportunidade de dançar a sua expressão primordial. Assim, yoga e meditação foram incorporadas como parte da minha vida cotidiana.
Quais são os benefícios de tirar um tempo para meditar e fazer yoga durante os dias de isolamento?
Uma pausa é uma bênção para a humanidade, quebra drasticamente a rotina excessivamente ocupada. A complexidade da vida – com preocupações trazidas por nós mesmos –, vai nos afastando daquilo que é realmente importante, que só pode ser reconhecido no presente momento, aquilo que está sempre conosco, que relevamos por estarmos sempre preocupados e correndo atrás de uma lista interminável de coisas para fazer.
Esta é uma oportunidade de colocar em prática aquilo que é adiado constantemente por falta de tempo, que deixa de lado a riqueza de viver plenamente o momento presente, independentemente do que estiver acontecendo. Olhar ao redor sem o filtro de julgamentos, expectativas, e trazer a pureza do olhar como um redescobrimento.
Muito se fala, neste período, que as pessoas estão aprendendo a conviver consigo mesmas. Qual é a sua opinião sobre isso? É um processo doloroso?
A dor vem da resistência. Do medo do desconhecido. Muitas pessoas têm o hábito de preencherem a vida com ocupações para evitar o vazio, o silêncio e assuntos que não serão resolvidos enquanto não for dada total atenção ao que surge na consciência. Deve-se olhar com a mente e coração abertos, com total presença, para transmutar o que aflige e se abrir para a inteligência primordial da vida.
Apesar de todos os danos do coronavírus, você acha que, de alguma maneira, esse choque de realidade era necessário para a humanidade desacelerar e se voltar para dentro?
Sim. Atualmente, as pessoas estão tão viciadas em estar ocupadas que não sabem do prazer de estarem em paz consigo mesmas. O divino, o ser superior, faz parte da nossa própria essência, e não está distante de nós. Esse reconhecimento traz liberdade e independência dos assuntos externos para viver em plenitude. Qualquer crise vem junto à oportunidade de crescimento.
Você acredita que as pessoas e o mundo estarão diferentes quando tudo isso passar? Por quê? E como eles provavelmente estarão?
Isso depende das escolhas de cada um. De nada adianta ter um momento de iluminação se aquele aprendizado não for levado para a vida. É como ir a igreja, retiros, cerimônias. Nessas horas, vem uma abertura, um reconhecimento, um despertar.
Quando voltarmos à rotina, é necessário fé, determinação e força de vontade para abraçar o que a vida mostrou, sem se perder com distrações que nos afastam do nosso propósito maior de sermos felizes e lembrarmos de quem somos na essência.
Toda essa situação tem gerado ansiedade e estresse nas pessoas. Como fazer uma respiração para se aliviar nos dias mais complicados?
Ansiedade é uma projeção mental lutando com o que está acontecendo no momento. É a mente dizendo que as circunstâncias presentes deveriam ser diferentes. Ninguém tem controle do amanhã.
A respiração é uma ferramenta simples e poderosa para tranquilizar os pensamentos e reduzir a ansiedade e o estresse. Ajuda a acalmar os sentidos, o sistema nervoso, e tem efeitos benéficos imediatos na saúde. Sugiro o pranayama, um exercício simples e muito eficaz, que pode ser feito por qualquer pessoa e em qualquer lugar.
Que hábitos adotados durante o isolamento deveríamos levar para a vida?
Lembrar durante o dia de reconhecer e vibrar em um espaço de gratidão, pelo fato de estar vivo e de ser você. Nesse espaço, as possibilidades são infinitas. Quando soltamos a dúvida e o medo não nos limitamos através dessa lente de que há alguma coisa errada; ser um canal de evolução, através de quem você é; não alimentar a preocupação e se conectar com o esplendor da vida; fazer qualquer tarefa com total presença e atenção plena.
Independentemente do que estiver acontecendo, sempre há espaço para vibrar na gratidão. Alguns hábitos são fáceis de incorporar, como começar e terminar o dia agradecendo por pelo menos três coisas, parando alguns minutos para estar consigo mesmo.
Para meditar, não é necessário estar sentado de olhos fechados, basta estar em total presença. Pode ser fazendo uma caminhada, sentindo cada passo, ouvindo os sons ao seu redor e sentindo as sensações na pele não se deixando levar pelos pensamentos. É de extrema importância que se dedique um tempo para essa prática. Para ser realmente eficaz, sugiro que seja marcado um tempo de pelo menos 20 minutos sem nenhuma outra distração e ter esse compromisso como uma prioridade.
Fazendo uma avaliação geral, quais serão as consequências deste período para a população?
O que está acontecendo é um choque para muita gente, de diversas formas, e mudanças drásticas na vida das pessoas. Mas a humanidade já passou por diversas crises e profunda dor. Acredito que vai trazer um sentindo maior daquilo que realmente importa na vida: relações sadias, cuidado com o próximo, saúde, gratidão, reconhecimento de que estamos todos interligados e conectados com a vida independentemente das incertezas. Estamos todos tendo uma oportunidade de sairmos da zona de conforto, repensar os nossos valores e evoluirmos.
Você está fazendo alguma live ou curso on-line? Me conta um pouco sobre como é o seu trabalho com essas práticas.
Facilito cursos presencias há mais de 28 anos sobre diversos temas, como autoconhecimento, yoga, qigong, detox integral e meditação, explorando as sombras e mergulhando na consciência. Tenho um retiro anual no Santuário Osho Lua, a Jornada do Despertar. Facilito também alguns retiros durante o ano sobre revitalização da saúde de forma holística e integral. E estou, no momento, produzindo um curso on-line.
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