Saiba o que interfere, de fato, na eficácia da pílula anticoncepcional
Álcool? Antibióticos? A ginecologista e obstetra Luciana Côrtes esclarece de vez o que pode alterar o efeito dos comprimidos. Descubra!
atualizado
Compartilhar notícia
Muitas perguntas no que diz respeito às pílulas anticoncepcionais ainda circulam por aí. Dúvidas em relação à eficácia do medicamento, como também mitos e crenças, persistem entre muitas mulheres que recorrem à ferramenta como método contraceptivo.
Afinal, beber álcool ou fazer uso de antibióticos ou antidepressivos, por exemplo, de fato, interferem nos efeitos dos anticoncepcionais? A seguir, a ginecologista e obstetra Luciana Côrtes esclarece essas e outras dúvidas:
Métodos contraceptivos
De acordo com a profissional, a maioria das mulheres utiliza métodos contraceptivos rotineiramente, sendo a pílula anticoncepcional, ainda, o mais comum. No entanto, nos últimos anos, observa-se uma procura cada vez maior por outras alternativas, principalmente as de longa duração, como o DIU e os implantes contraceptivos.
“Segundo os estudos, os anticoncepcionais orais são muito eficazes quando usados correta e consistentemente, e garantem 99,7% de proteção. Porém, caso ocorra o uso inconsistente da pílula, a eficácia fica comprometida e a chance de falha aumenta em aproximadamente 7%”, destaca a médica.
Luciana afirma que os anticoncepcionais hormonais orais apresentam em sua composição estrogênio e progestogênio de forma combinada ou progestogênio em forma isolada, com a finalidade básica de bloquear a ovulação e impedir a concepção.
“Entre os métodos hormonais, também temos os anticoncepcionais injetáveis (mensais e trimestrais), os adesivos, o anel vaginal e os implantes subcutâneos”, conta a médica.
Os métodos de barreira, por outro lado, incluem as camisinhas masculina e feminina. Há, ainda, o dispositivo intrauterino (DIU), que age através de vários mecanismos distintos.
“Diante de tantas opções de métodos contraceptivos, a escolha deve ser individualizada, levando em consideração vários fatores, como: idade, se é tabagista, antecedentes clínicos, medicações em uso. Dessa forma, a mulher poderá ser aconselhada da melhor maneira possível e poderá escolher a opção que mais cabe ao seu caso”
Luciana Côrtes, ginecologista e obstetra
Para a especialista, as pílulas anticoncepcionais orais combinadas são contraindicadas nos seguintes casos: idade maior ou igual a 35 anos e fumante; hipertensão arterial sistêmica moderada ou grave; histórico de doença tromboembólica; cardiopatia isquêmica; antecedente de acidente vascular cerebral (AVC); enxaqueca com aura; câncer de mama atual; cirrose hepática; hepatite viral em atividade e tumores de fígado malignos ou benignos.
Uso correto das pílulas
O bom uso do medicamento, segundo a profissional, consiste em escolher um horário tranquilo do dia para não se esquecer de tomar a pílula. “Lembrando que um único dia sem tomá-la já pode alterar sua eficiência”, adverte.
Realizar pausa de maneira diferente da orientação prescrita pelo médico é outra prática capaz de interferir no efeito das pílulas.
Antibióticos e anticonvulsivantes
Os anticoncepcionais orais passam por metabolização no fígado e podem ter sua eficácia alterada com o uso concomitante de outras medicações, como os antibióticos e os anticonvulsivantes. “No caso dos antibióticos, como o tratamento costuma ser realizado a curto prazo, o ideal seria associar um método contraceptivo de barreira (camisinha) para garantir a eficácia da contracepção”, diz a ginecologista.
Já quem faz uso de anticonvulsivantes, seria interessante, na opinião da especialista, optar por outros métodos contraceptivos, por exemplo, os dispositivos intrauterinos.
Vômitos e diarreias
Também, vômitos e/ou diarreia em até quatro horas após a tomada da pílula podem influenciar na absorção da medicação, também sendo indicado o uso de método de barreira associado, conforme lembra a profissional.
Álcool
Luciana comenta que ainda não há dados na literatura médica que evidenciem a relação direta entre álcool e redução da eficácia do anticoncepcional. “Mas, sabe-se que é necessário que o comprimido seja integralmente absorvido para que faça efeito. Dessa forma, consumir bebidas alcoólicas logo após ingerir o comprimido pode acarretar uma reação química com dissolução da pílula e interferência na absorção”, considera.
O risco, segundo a médica, é menor para as mulheres que consomem bebidas alcoólicas eventualmente. “No caso dos anticoncepcionais com ação local, como os DIUs (DIU de cobre e DIU hormonal), o álcool não compromete o efeito e eficácia, dado que a ação é diretamente no útero”, acrescenta.
Antidepressivos
De acordo com a especialista, a maioria dos antidepressivos não interfere com a eficácia da pílula. Entretanto, alguns anticoncepcionais podem causar alteração do humor, principalmente nas mulheres que já possuem esse histórico. “É indispensável que ela informe ao ginecologista todos os medicamentos em uso, para que o médico, em conjunto com a paciente, possa optar pelo melhor método contraceptivo”, indica.
Outros remédios
Além dos anticonvulsivantes e dos antibióticos, as drogas antirretrovirais e fungicidas podem causar interação medicamentosa com os anticoncepcionais orais, segundo Luciana Côrtes.
Esteja atento!
Outros fatores não medicamentosos têm chances de interferir no efeito dos comprimidos, como a doença de Crohn, mencionada pela médica, visto que a inflamação intestinal pode alterar a absorção intestinal do medicamento.
A ginecologista alerta também para um caso especial, que é o das mulheres submetidas à cirurgia bariátrica. Segundo a FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), essas pacientes devem evitar anticoncepcionais orais, em razão do risco de absorção gástrica inadequada e menor eficácia.
Questionada sobre a possibilidade da interferência dos chás diuréticos nos efeitos das pílulas, Luciana confirma que esses chás, a exemplo dos de alcaçuz ou alfafa, podem, sim, prejudicar a absorção do anticoncepcional oral, se consumidos em excesso.
Outra hipótese levantada é a probabilidade da obesidade ou sobrepeso de atuarem na mudança do efeito da medicação. De acordo com a profissional, a obesidade por si só não contraindica o uso da maioria dos contraceptivos, sendo exceção os adesivos transdérmicos, que não devem ser utilizados em mulheres com peso maior ou igual a 90 kg, devido ao comprometimento da eficácia contraceptiva.
“É importante lembrar que há maior risco de eventos tromboembólicos em mulheres obesas usuárias de contraceptivo hormonal. Dessa forma, recomenda-se o uso de métodos hormonais não orais ou o DIU de cobre para esta população”, frisa.
Esqueci de tomar pílula. Como prosseguir?
Luciana fala que, como regra geral, ao se dar conta do esquecimento, vale a pena tomar o comprimido no momento que for possível. “Variações de até 12 horas não costumam resultar em problema. Após esse período, podem ocorrer alterações, dependendo da quantidade de hormônio da pílula utilizada”, alega.
No entanto, após 24 horas, preconiza-se a ingestão de dois comprimidos no horário regular e tomar o restante das pílulas de maneira habitual. “Nesses casos, o indicado é associar outro método contraceptivo de apoio, por exemplo, a camisinha”, finaliza.
Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.