Regina Casé: vivendo o “amor de mãe” na vida real e na ficção
No ar como a protagonista Lurdes na novela da Globo, atriz fala sobre a maternidade em entrevista exclusiva para a Coluna Claudia Meireles
atualizado
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Rio de Janeiro (RJ) – Uma das maiores surpresas da novela Amor de Mãe, da TV Globo, foi a escalação de Regina Casé para o papel de Lurdes, uma das três protagonistas ao lado de Vitória (Taís Araújo) e Thelma (Adriana Esteves). Afinal, embora tenha feito breves participações especiais em Ciranda de Pedra (2008) e Cheias de Charme (2012), desde As Filhas da Mãe, de 2001, ela não atuava em uma novela durante toda a exibição da trama.
Além de viver uma matriarca que luta com unhas e dentes por seus filhos na ficção, a atriz e apresentadora faz o tipo mãezona na vida real. Com Benedita, de 30 anos, sua filha biológica com o artista plástico Luiz Zerbini, ou Roque, de seis, que adotou em 2013 com seu atual marido, o diretor Estêvão Ciavatta, os cuidados se assemelham aos que Lurdes têm com os rebentos no folhetim.
Nesta entrevista exclusiva para a Coluna Claudia Meireles, Regina fala sobre as dores e delícias da maternidade, e Amor de Mãe, é claro.
Confira!
Como você define a Lurdes?
É uma mulher como a maioria das brasileiras e nordestinas, principalmente, cuja vida é trabalhar e defender os filhos. Tenta dar a eles dignidade, princípios, exemplos de honestidade. É uma personagem que não pode ter nenhum momento racional. Ela é só emoção e coração.
Você se inspirou em alguém em especial?
A personagem é muito rica, complexa e bonita. Eu comecei a viajar com o Asdrúbal Trouxe o Trombone (grupo de teatro) nos anos 1970 e passei pelos lugares mais ermos e afastados do Brasil mais profundo. Então, quando penso numa inspiração, penso em umas 100 mulheres que vi nessa longa caminhada. Se eu conseguir, vou colocar todas compondo a Lurdes.
O que te motivou a voltar às novelas?
A qualidade do texto, que é maravilhoso, a fotografia do Walter Carvalho e a direção artística do José Luiz Villamarim, profissional com quem eu sempre quis trabalhar.
Atualmente, a ficção é uma maneira mais suave e doce para chegar e conversar com as pessoas. Elas estão muito arredias, não conseguem se ouvir. Por meio da emoção e do amor de mãe na ficção, acho que é mais fácil ser uma ponte entre as diferenças, algo que sempre fiz.
Você se adaptou bem nessa volta à teledramaturgia?
Eu estava morrendo de medo, pois não convivia com isso há anos. Quando eu tinha meu programa (Esquenta, entre 2011 e 2017), era “a atração da Regina”, com “o maquiador da Regina” e aqui tem outro jeito de conviver em equipe, com muitos profissionais em volta. Eu tinha medo da readaptação, mas está sendo um sonho. Fui recebida da maneira mais carinhosa possível.
A Maria Bethânia canta Onde Estará o Meu Amor?, música-tema de Lurdes. Foi sugestão de um seguidor no Instagram? Como foi isso?
Quero agradecer muito a ele. Uma pessoa com quem eu nem conversava, que apareceu na minha rede e me mandou uma mensagem dizendo: “Vi que você vai fazer a novela Amor de Mãe. Sabe qual música eu acho que poderia ser a sua? Aquela, Onde Estará o Meu Amor?. Combinaria tanto com a personagem procurando seu filho!”. Quando deu meia-noite, mandei essa sugestão para o Villamarim com o link da música e trinta minutos depois estava aprovada.
Agradeço muito a ele. A ideia foi linda, e quando escuto, essa canção me ajuda. Sou louca pela Maria Bethânia, uma das pessoas que mais insistiu para que eu voltasse a atuar. Ela sempre me disse que amava meu programa, mas queria me ver como atriz. Essa música me embala, me carrega e puxa minha emoção.
O público cobra por sua volta aos programas de TV?
Cobra muito. Em alguns lugares, como na Bahia, eu quase apanho (risos)! Sempre pedem para voltar com o Esquenta.
Como é conciliar seu filho pequeno e um neto com as gravações?
Esse lado tem sido “brabo”, no entanto, me programei muito. Foi tudo pensado. Eu estava com um novo programa engatilhado, quase pronto para entrar no ar em outubro do ano passado, quando fui convidada. Fiz a escolha, quis me dedicar a isso e conversei em casa que iria “sumir” (risos).
Ter um filho pequeno hoje é muito diferente da época em que você teve a Benedita?
É diferente porque o mundo é mais apavorante. Como será o mundo do Roque, que tem apenas seis anos? Isso se tivermos um mundo ainda para ele viver. Dizem que a natureza é sábia, mas às vezes acho que, de início, ela é um pouco burra. Hoje sou uma mãe muito melhor para ele do que fui para a Benedita, já que eu tinha muitos medos e inseguranças. Ficava apavorada. Acho que ser mãe mais velha é bem mais legal.
Como é ser avó do pequeno Brás?
Fico apaixonada pelo neto e pela filha! Vê-la virar mãe foi uma maravilha. Não sou o tipo de avó que deseduca, que dá doces escondidos. Sou firme e brinco muito com ele. Temos uma caverna feita de cobertores. Brinco dizendo que ali só tem os bichos que saem de noite, como morcegos, corujas e cobras, e ele fala que vai colocar a zebra na caverna. Eu digo que não, mas três dias depois ele aparece dizendo que vai colocar a zebra na caverna. Temos uma relação de brincadeira e proximidade muito grandes.
E com seu filho, o Roque?
Já meu filho está numa fase difícil, achando que tem dezesseis. Um dia desses, ele sumiu no churrasco da Mangueira e disse que tinha ido ao banheiro. Perguntei por que não me chamou e ele respondeu: “Eu teria que ir no banheiro de mulher e queria ir no de homem. Então, fui sozinho, lá longe”…
A Gloria Maria disse que levou as filhas em um aniversário na sua casa e as meninas saíram encantadas porque encontraram “pessoas mescladas”. Foi assim?
Foi ainda mais bonito! Não queriam ir ao aniversário porque não gostam dessas festas. Elas são negras, e quando os negros migram de classe social, sempre são os únicos em festas, aniversários e outros ambientes.
Quando chegaram lá, encontraram pessoas de todas as cores e classes. Às 21h, não queriam ir embora. Gloria as questionou: “Mas vocês nem queriam vir!”, e elas responderam: “Ah, mãe, mas aqui veio todo mundo!”.
Sua personagem, a Lurdes, tem um ponto em comum com você: a adoção. Fale sobre isso.
Sim, sempre digo que amor de mãe é uma droga poderosíssima. É possível ver e sentir coisas que não sentia antes. Ser mãe por adoção é o contato direto com o mistério. É como colocar um plugue no sagrado. Eu não conhecia o Roque em um dia, e no outro eu o amava tanto quanto amo a Benedita. Era igual. Eu achava que seria uma construção, mas não foi. É um troço estranho que vem de um lugar maluco (risos)!
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