Quarentena na Quaresma: religiosos veem tempo de renascimento
Padre Clóvis Cavalcanti e as missionárias do Convento Rosa Mística refletem sobre os dois momentos que pedem olhar o próximo com amor
atualizado
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Em tempos de quarentena, tanto os líderes religiosos quanto os fiéis precisaram se adaptar. Assistir às missas por meio de plataformas digitais é a recomendação dos padres, que têm incentivado os cristãos a fazerem do lar uma extensão da igreja. Em meio às turbulências do momento, se fortalecer na fé surge como um antídoto contra o medo e um raio de esperança de dias melhores.
Assim aconselham padre Clóvis Cavalcanti, do Instituto Bíblico Divino Mestre, e as pequenas missionárias de Maria Rosa Mística. Na tradição católica, a Quaresma é marcada pela reflexão dos passos de Jesus, que pede, na leitura bíblica do evangelho de João, “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”.
Segundo o sacerdote, a atualidade nunca foi tão propícia a vivenciar e colocar em prática o ensinamento.
“Se nós sairmos dessa fase com a capacidade de olhar para o próximo, de pensar e sentir o que o outro está sentindo, certamente seremos muito melhores. Devemos ser mais sensíveis, nos reconhecermos irmãos ou, pelo menos, mais fraternos”, ressalta o padre.
O problema, segundo o líder religioso, é que algumas pessoas continuam com o individualismo. “Ir ao mercado comprar álcool para estocar em casa e sentir-se protegido por ter o produto à vontade é um pensamento medíocre e egoísta”, enfatiza. O que vale, para ele, é arregaçar as mangas, dar as mãos e unir forças a fim de ajudar quem está desempregado, sem-teto e com fome.
“O que nós podemos fazer pelos outros? Nós temos casa, bem-estar e uma vida ‘ok’. Se fizermos essa reflexão justa, a quarentena será muito boa para a conversão”, convida o sacerdote.
As missionárias de Maria Rosa Mística acreditam ser o tempo de interiorizar, avaliar os erros e renascer como um ser humano melhor: “Todo este momento tem levado as pessoas a refletirem mais profundamente em suas vidas: na relação pessoal com Deus e com o próximo”.
Entre os projetos dentro e fora do convento onde moram, há atividades de evangelização das famílias e catequese. Em partilhas sobre como enfrentar as dificuldades, até antes da quarentena, as freiras destacam a importância da fase de crescimento espiritual rumo à mudança. “No cristianismo, as tribulações são sinônimo da oportunidade de conhecer e experimentar a misericórdia de Deus”, contam as missionárias.
Na visão de padre Clóvis, olhar a atualidade é ter consciência da fragilidade humana. Achar que é poderoso e autossuficiente não contribui na sobrevivência em tempos do “inimigo invisível”, o novo coronavírus. Em meio à difícil situação de ficar trancado em casa, aproveitar a família e o lar estão entre os conselhos dos líderes religiosos, principalmente na Páscoa: “Independentemente da quarentena, a ressurreição de Jesus merece ser comemorada com júbilo e alegria”.
Pároco do Instituto Bíblico Divino Mestre, localizado na 601 Norte, Clóvis sugere celebrar a festa cristã com algumas atividades de comunhão: ler o relato da ressurreição de Jesus nos Evangelhos, dividir um momento de prece com cada um dos familiares à mesa ou acender uma vela para representar o renascimento de Cristo.
Enquanto não volta a abençoar os fiéis presencialmente, “saudade” é palavra mais ouvida frequentemente pelo padre e freiras. Elas deram continuidade aos instantes de oração nas lives, ferramenta do Instagram. Com as ações de evangelização por meio das redes sociais, as missionárias passaram a receber, diariamente e em maior número, testemunhos de fé em mensagens.
Os fiéis têm entrado em contato com o sacerdote e partilhado as angústias sobre o confinamento domiciliar. Após servir de ombro amigo, o padre costuma dizer palavras de consolo e de estímulo. “Aguenta firme. Jesus nunca nos abandona. Precisamos passar pelas dificuldades sabendo que não estamos sozinhos”, ressalta.
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