Psicóloga ensina como identificar e se livrar de uma amizade tóxica
Reconhecer e encarar o problema pode não parecer fácil, mas a especialista afirma que é possível, e dá dicas valiosas
atualizado
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“Amizade tóxica” tem sido um tema bastante discutido nos últimos tempos, especialmente com a exibição do BBB21, em que Juliette e Viih Tube vivem uma relação nada estável. Nas redes sociais, o assunto vem à tona semanalmente, visto que elas se aproximam, afastam-se, e voltam a se falar novamente. Mas, afinal, o que define uma amizade tóxica? E como identificar e sair dessa situação?
A psicóloga Silvia Vasconcelos explica o que leva uma relação que deveria ser saudável a chegar nesse ponto e como isso pode ser resolvido. Reconhecer e encarar o problema pode não parecer fácil, mas a especialista afirma que é possível, e dá dicas valiosas.
Um estudo da Universidade de Harvard revelou que manter laços fortes de amizade aumenta a nossa vida em até 10 anos e previne uma série de doenças. A pesquisa, feita com voluntários de várias idades e perfis, prova que as aptidões sociais estão na frente da genética, condição financeira e alimentação, no que diz respeito a influenciar na saúde das pessoas.
Portanto, assim como um remédio deve ser tomado na porção correta, uma dose de amizade administrada de forma equivocada pode deixar de ser benéfica e se tornar prejudicial à saúde. Em outras palavras, uma amizade tóxica nada mais é do que uma relação que traz danos, ao invés de ajudar o indivíduo a manter uma vida saudável.
Segundo a psicóloga Silvia Vasconcelos, para perceber que uma amizade é tóxica, é necessário se atentar aos detalhes. A profissional, que aplica em seus atendimentos a Gestalt-Terapia (modelo terapêutico que defende a responsabilidade do indivíduo pelo momento atual e auxilia o paciente no desenvolvimento do seu potencial pleno), diz que, em primeiro lugar, se você está refletindo que uma relação de amizade pode ser tóxica, provavelmente tem com o que se preocupar. Ou seja: não é coisa da sua cabeça.
“Para identificar é preciso reparar se esse seu amigo te traz sentimentos confusos: insegurança, solidão, estresse, entre outros desconfortos. Estes sentimentos nocivos podem ser sutis, por isso, a identificação não é tão simples e não acontece da noite para o dia”, fala.
Para a especialista, um exemplo de amizade tóxica é quando você é desqualificado por suas opiniões, comportamentos, jeito de falar e de se vestir, causando uma sensação de mal-estar e impotência diante da situação. “Na maioria dos casos, a companhia deste amigo é até agradável, mas as ofensas acontecem nas entrelinhas, com demonstrações de superioridade, críticas repetitivas, egocentrismo, entre outros comportamentos que constantemente destacam seu amigo e te deixam em segundo plano”, informa.
“Uma vez ou outra é normal haver competição, ciúme, atrito, desencontro de opiniões, mas a repetição é sinal de amizade tóxica.”
Silvia Vasconcelos
Mas por que as relações de amizades tóxicas existem?
De acordo com a psicóloga, uma pessoa que se comporta de maneira tóxica em uma relação, geralmente, tem algum interesse, que pode consistir em adquirir um ganho financeiro, inflar o ego ou descarregar suas frustrações emocionais no outro. “Se você tem um amigo que te diminui frequentemente, zomba, faz pressão psicológica, fala de maneira desrespeitosa, inventa mentiras, faz fofocas, não demonstra alegria com seus ganhos, ele certamente precisa manter essa relação por ter algum interesse nela”, ilustra.
Segundo Silvia, não somos educados pelos nossos pais e nem incentivados pela sociedade a falar sobre emoções, mas, sim, a “varrer os sentimentos para debaixo do tapete”. “Isso traz uma certa paralisia quando precisamos resolver uma situação e a tendência é que deixemos chegar a um ponto crítico para tomar alguma atitude”, explica.
Como agir?
Silvia Vasconcelos instrui que o certo é impor limites, mas, para isso, é preciso desenvolver o autoconhecimento. “Saber claramente o que te incomoda, o que te faz mal, o que te atrapalha ao invés de ajudar, é um desafio que você deve se propor, fazendo perguntas a si mesmo que irão abrir sua mente e seus olhos para essa amizade”, cita.
Para ela, existem algumas perguntas que podem ajudar, como: “Se eu ficar sem esse amigo, vou me sentir rejeitado ou abandonado? Vale pagar o preço? Não estou me sentindo confortável a ponto de nem querer estar na companhia desse amigo? Não tenho confiança nele? Quero evitar a presença ou até falar com esse amigo para evitar conflitos? Essa relação me traz mal-estar e me sinto impotente, isso é saudável?”.
Não quero me desfazer dessa amizade. É possível consertá-la?
Na opinião da psicóloga, assim como em um relacionamento amoroso, a amizade precisa ter proporcionalidade de entrega e satisfação. “Para salvar uma amizade que vem se mostrando tóxica, ambos os lados devem estar dispostos a gerenciar suas emoções e mudar comportamentos, por meio do autoconhecimento”, explica. Logo, o amigo que está incomodado com as atitudes do outro precisa identificar os seus limites e deixar claro o que não está legal, falando de maneira clara e sem rispidez, para não piorar a situação.
A recomendação, portanto, é “começar expondo o que você não gosta nesse ou naquele comportamento, pedir para seu amigo falar de forma mais afetiva e demonstrar acolhimento e respeito às suas opiniões. Isso estabelece situações de limites funcionais para você e para ele”.
Já do lado do amigo “radioativo”, ressalta Silvia que esse tipo de pessoa nem sempre tem a intenção de se comportar dessa maneira. A dica é a mesma: autoconhecimento. “Avaliar o porquê de manter uma relação assim. Se você se incomoda tanto com o outro, é um começo”, recomenda. “Se houver interesse de ambos em manter essa amizade, resolvendo as intrigas, sigam em frente! Mas tenham em mente que cada uma precisa fazer sua parte para resolver essa situação, que é preciso de 50 por 50 para funcionar”, acrescenta.
Não teve jeito de resolver na conversa, como sair dessa relação tóxica?
Segundo a especialista, se, quando você tentar colocar limites na relação de amizade, sentir que não há preocupação do outro lado ou ainda que a situação piorou, que seu amigo só ficou mais agressivo e invalidou seus argumentos, não tem jeito. “Siga seu caminho e saia o mais educadamente possível da relação, deixando claro que você não está mais disponível para ele e que foi bom enquanto durou, mas vocês precisam seguir caminhos diferentes”, conclui.
Sobre a especialista
Silvia Vasconcelos é psicóloga formada pela Universidade da Amazônia e trabalha há 13 anos com psicoterapia infantil e de casal. Praticante da Gestalt-Terapia, opera como consteladora familiar sistêmica, e é especialista e palestrante em mindfulness.
Para incentivar, principalmente as mulheres, ao empoderamento e crescimento pessoal, a psicóloga criou o Instituto Silvia Vasconcelos, a fim de acolher e discutir as peculiaridades do universo feminino e promover atividades interativas com as pacientes.
Silvia também é criadora e apresentadora do podcast Fala Corajosa, uma parceria com o portal Roma News, no qual atua para desbloquear habilidades emocionais e resgatar a mulher corajosa que existe dentro de cada uma.
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