Por que as pessoas estão cansadas dos preenchimentos faciais?
Especialista em dermatologia natural, Patrícia Silveira explica por que os injetáveis em exagero estão saindo do radar da beleza
atualizado
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Nos dias atuais, os preenchimentos faciais ainda são um tipo de procedimento estético não cirúrgico muito popular, mas a busca pela reversão dos resultados tem sido expressiva. Será que a obsessão pelos injetáveis de ácido hialurônico em exagero está chegando ao fim? Ainda não dá para afirmar, mas certamente uma conscientização de que “menos é mais” tem tomado os consultórios médicos e clínicas pelo mundo.
O fenômeno recebeu o nome de Fadiga de Preenchimentos, como se as pessoas estivessem ficando “cansadas” dos rostos inchados de tantos procedimentos.
Patrícia Silveira, médica especializada em dermatologia natural e fundadora do perfil no Instagram @dermagreen relembra que, quando os preenchimentos faciais de ácido hialurônico chegaram ao Brasil, há cerca de 20 anos, tinham a proposta de amenizar as rugas finas ou de expressão.
“As pessoas viveram muito bem com essa ideia de trazer hidratação à pele ou de amenizar rugas mais profundas, como o bigode chinês e os pés de galinha”, afirma.
Entretanto, com os novos lançamentos, principalmente os mais densos, os Cross-linkados, e com durabilidade maior, surgiu, então, a possibilidade de preencher áreas mais profundas da face. E mais: cresceu, ainda, a busca por remodelação facial, também chamado de MD Codes. Em seguida, veio toda a história da harmonização facial, conforme aponta a médica.
“A remodelação facial implica em você preencher a nível supraósseo (acima do osso) com preenchedores de longa durabilidade. Eles tinham somente a duração de dois anos, e nós sabemos que eles duram, algumas vezes, até cinco anos. Mas a ideia era remodelar a face da pessoa, ou seja, modificar as estruturas, e, assim, também, a anatomia da pessoa. A questão é que as pessoas começaram a se transformar em outras pessoas”, diz Patrícia.
Na opinião da dermatologista, o ácido hialurônico tem um papel muito interessante em indivíduos com alguma “desarmonia facial”, como o queixo muito para dentro ou depressão na face por algum acidente.
Por outro lado, os preenchimentos, com o objetivo estético de remodelar a face, costumam deixar todos com o rosto parecido: quadrado, com a linha da mandíbula superarqueada, a maçã do rosto muito para cima, o nariz afilado e bocas inchadas, a ponto de transformar as pessoas e fazer com que elas percam a identidade. “Eu acho isso perigoso… É uma baixa autoestima muito grande a pessoa não gostar de nada ao se olhar no espelho”, fala a especialista.
A médica acrescenta que há casos mais graves em que indivíduos pedem aos profissionais para se transformarem em outras pessoas. “Isso é mais complicado ainda, no sentido do aspecto emocional. É uma disruptura muito grande com o seu eu”, frisa.
Além de tudo, de acordo com Patrícia, não apenas os pacientes, mas os profissionais da saúde passaram anos achando que essa quantidade alta de preenchimentos era algo “ok”, e que as pessoas podiam, sim, ficar todas parecidas. “Mas ainda bem que isso está mudando”, reconhece.
Outro fator que pode ter interferido no uso dos preenchedores, segundo a médica, são as complicações pós-procedimento. “Profissionais que não tinham técnica e conhecimento de anatomia e que usavam muita quantidade do produto, alguns mais de 20 ampolas de uma só vez no rosto”, exemplifica.
Hoje, as complicações com preenchedores são uma área de especialização na dermatologia, e elas são inúmeras, desde as imediatas, como oclusão de vasos que podem resultar em necrose de pele, cicatrizes, compressão vascular e alergias, como as complicações tardias de sensibilidade, que não são tão graves, mas podem causar infecções ao longo prazo.
“Essas complicações começaram a trazer uma mudança no padrão da utilização e dos critérios desses produtos e na prática da harmonização facial”
Patrícia Silveira
Mas, será que é possível reverter os preenchimentos faciais? Patrícia esclarece que quando esses injetáveis surgiram, não tinha como reverter seus resultados. “Era necessário esperar o tempo resolver e o organismo absorver, ao longo de anos”, justifica. No entanto, atualmente, existe uma enzima chamada Hialuronidase, considerada a “arma secreta” para regressar à aparência anterior.
“A substância é aplicada de diferentes maneiras, como no local da injeção do preenchedor, dentro da área onde foi preenchido ou na região próxima, com algumas sessões, tanto para reverter resultados insatisfatórios quanto, também, para tratamento de complicações, como obstrução vascular. Ela pode ser aplicada dentro de algumas horas logo após o procedimento”, expõe.
Há alternativas aos injetáveis?
Para a especialista, substituir um injetável é muito difícil, mas há alguns aparelhos disponíveis no mercado, principalmente o ultrassom micro e macrofocado, que trabalham no estímulo do colágeno. “Quando se fala de preenchimento, também se fala em colágeno”, argumenta.
Patrícia adverte que, se alguém busca por uma substituição do injetável para aumentar o volume do lábio, por exemplo, não encontrará solução. “O que tem que ser visto é a forma, a técnica, como você preenche esse lábio e o resultado final”, comenta.
“Eu adoro o ácido hialurônico. Uso muito pouco no consultório, porque esse não é meu foco. Gosto de preenchedor, faço correções discretas. Eu tenho a premissa que eu não posso colocar na pessoa algo que ela nunca teve, mas resgatar alguma sutileza de jovialidade ali”, declara a dermatologista.
A profissional costuma aderir ao produto para tratar cicatrizes de acne, para para dar um refresh nos lábios ou para disfarçar as olheiras, por exemplo. “O ácido hialurônico tem o seu valor e várias formas de utilização. Para algumas sutilezas, ele é maravilhoso. Mas, de fato, com essa suposta harmonização facial, as pessoas chegaram a um ponto de exagero tremendo, de um olhar estético massificado, beirando a vulgaridade, na minha opinião”, fala.
“Eu acho que os preenchimentos de ácido hialurônico foram mal utilizados para flacidez. Quando você tem um rosto flácido e você não quer fazer uma plástica, ao preenchê-lo com ácido hialurônico, ou seja, volumizar, você tem que, obrigatoriamente, mudar o contorno da face, colocar uma quantidade absurda de produto. Então, as pessoas ficam com aquela cara inchada, quadrada, com um aspecto muito diferente. Se uma pessoa tem flacidez moderada e quer melhorar, de repente, ela vai ter que fazer uma plástica mesmo”
Patrícia Silveira, dermatologista
A problemática apresentada pela especialista em relação aos exageros dos injetáveis se deve ao fato de que alguns indivíduos não sabem a hora a parar. “Você começa a fazer os procedimentos, depois coloca muito mais, e, mais tarde, passa a perder a naturalidade sem perceber. Você se olha todos os dias no espelho e não enxerga essas mudanças de forma tão clara”, afirma.
Qual é o segredo para não errar na dose?
A dica, segundo Patrícia, é ter em mente que não podemos deixar de sermos nós mesmos.
“Se você está querendo o preenchimento para mudar o nariz ou o rosto, não está indo com a premissa de naturalidade. Eu sempre falo para os meus pacientes para esperarmos um mês para ver como isso vai ficar, e se precisar, colocamos mais. Eu costumo aplicar uma quantidade inferior, para que eles se acostumem e tenham tempo para ficar satisfeitos. Quando coloca demais, você tira a possibilidade do paciente de se avaliar e ficar satisfeito com o intermediário. E isso vai muito do profissional que está aplicando”, conta.
A médica completa dizendo que o segredo é melhorar a aparência sem denunciar. E isso é feito com a sutileza da quantidade colocada de ácido hialurônico, e aí está a premissa de que “menos é mais”. “É estar feliz com as suas próprias características. Uma coisa é corrigir uma imperfeição, diferente de harmonizar um rosto que não tem nada de errado”, opina.
No fim das contas, Patrícia enfatiza que os preencheedores têm o seu valor. Eles só precisam ser usados, conforme ela defende, de uma maneira um pouco mais refinada, coerente, com um pouco mais de bom senso.
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