Pediatra expõe os mitos e verdades sobre amamentação e bebida alcoólica
A coluna conversou sobre o assunto com a pediatra e neonatologista Fabia Queiroga. A médica respondeu às dúvidas das mamães
atualizado
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Uma questão costuma carregar inúmeras dúvidas e preocupações por parte das mamães nutrizes e aquelas que optaram pelo aleitamento materno: consumir ou não bebida alcoólica durante o período da amamentação? Ao longo do pré-natal, profissionais da saúde ensinam às gestantes que o que é ingerido passa para o bebê por meio do cordão umbilical e interfere no desenvolvimento do feto no útero materno.
Com o nascimento, a recomendação da mãe de cuidar da alimentação continua, pois as substâncias chegam ao organismo do pequeno por meio das mamadas. Matriarca do caçula Joaquim, de 4 meses, a influenciadora digital Duda Portella Amorim publicou Stories no Instagram em que disse degustar uma quantidade de bebidas alcoólicas somente em ocasiões especiais. Ela amamenta o filho. Diante do tema rodeado de tabus, a coluna Claudia Meireles inspirou-se em escrever uma reportagem sobre amamentação e bebida alcoólica.
Para esclarecer o assunto às lactantes (e interessados), conversamos com a pediatra e neonatologista Fabia Queiroga, especialista, também, em síndrome de Down. Antes de responder às perguntas, a médica faz questão de explicar:
“Apesar do consumo de álcool não ser contraindicado na amamentação, não deve receber incentivos e o uso precisa ocorrer com moderação”, sustenta Fabia.
De acordo com a especialista, a tolerância ao álcool na gravidez é zero. Dependendo da periodicidade e da quantidade de ingestão, pode-se gerar efeitos no feto em graus variados de comprometimento. Ao longo do aleitamento, por sua vez, a substância química não é totalmente incompatível, embora não deva ser estimulada, avisa a pediatra.
Ingerida de forma moderada e com orientação de intervalos para a amamentação, a bebida alcoólica pode não causar danos à criança. Mas, é de extrema importância as mães estipularem um tempo até darem de mamar. Segundo Fabia, há relatos de alteração de odor e do sabor do leite materno após o consumo das substâncias. Em alguns casos, o bebê tende a recusar temporariamente sugar o seio com a mudança de gosto.
Tempo
Dificilmente a mamãe conseguirá saborear alguma bebida alcoólica assim que o baby chegar ao mundo devido à regularidade da amamentação. “Nos primeiros dias de vida, o bebê mama o seio com frequência muito grande”, reforça a especialista. É necessário que a lactante dê um intervalo de, no mínimo, 2 horas entre o consumo de álcool e a próxima mamada a fim de eliminar toda a substância do organismo.
Fabia explica que quanto maior o volume de álcool ingerido mais tempo o corpo levará para metabolizá-lo e eliminá-lo da corrente sanguínea. “O período de 2 horas equivale para cada drink tomado. No caso, a quantidade de 140 ml para vinho e 340 ml de cerveja. Destilados, considera-se um drink de 42,5 ml”, sugere a médica.
Vale ressaltar que o teor alcoólico dos destilados é maior, por isso, a pausa recomendada para a próxima mamada, dependendo da quantidade de bebida, pode aumentar. “Em relação ao que tomar, o mais importante é o quanto beber, pois a quantidade que vai passar para o leite materno está relacionado ao volume consumido. Temos que levar em conta que o nível de álcool que chega ao leite será diretamente proporcional à dose ingerida”, pondera a especialista.
Nas situações em que as mamães nutrizes avaliarem não poder seguir o intervalo, a orientação é ordenhar o seio antes de tomar a bebida e estocar o leite para oferecer ao bebê quando necessário. A pediatra também aconselha não ingerir substâncias com teor alcoólico sem se alimentar. “Comer durante o consumo reduz o nível de álcool na corrente sanguínea e, consequentemente, no leite”, enfatiza.
Efeitos
Quanto mais a mãe puder adiar a ingestão de álcool, melhor para a saúde do bebê e menos riscos para o organismo dele. Quanto mais jovem for o pequeno, mais imaturo é o funcionamento de alguns órgãos, explica Fabia Queiroga. Por exemplo, o fígado de um neném não trabalha como o de um adulto.
A substância também gera efeitos no corpo da lactante. De acordo com um estudo publicado na New England Journal of Medicine, o álcool tem potencial inibidor sobre a prolactina, hormônio responsável pela produção de leite e, como resultado, pode ocasionar a redução da fonte de nutrição do bebê. Ingerida em excesso, a bebida alcoólica tende a deprimir o sistema nervoso central e deixar a mãe sonolenta e com reflexos retardados.
Se o cenário descrito anteriormente tornar-se realidade ou em caso de embriaguez, a criança sob cuidados da progenitora encontra-se em situação de risco, por isso, a dica é desfrutar de um consumo eventual e de modo planejado. Segundo a pediatra, a ingestão de bebida com teor alcoólico é, sobretudo, desaconselhada a mães com problemas com o uso abusivo de álcool:
“É difícil para essas mães manterem o controle de quantidade, além de que o uso crônico do álcool pode alterar a função do fígado, responsável pelo metabolismo e eliminação da substância ser mais lenta”, orienta Fabia.
Antes de decidirem ingerir bebidas com teor alcoólico, as mães nutrizes precisam saber se não apresentam problemas de saúde que contraindiquem o consumo, como doenças hepáticas ou renais decorrentes ou não da gestação. Também devem avaliar se as medicações manipuladas são compatíveis com as substâncias que contêm álcool. Elas terão de desistir de qualquer gole caso faça uso de antidepressivos, sedativos, anti-histamínicos (antialérgicos) ou alguns tipos de antibióticos.
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