Ortorexia: saiba o que é esse transtorno alimentar e seus tratamentos
Deficiência nutricional, isolamento social, distúrbios hormonais e complicações psicológicas são alguns dos efeitos trazidos pela condição
atualizado
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Com o passar dos anos, muitas pessoas têm se conscientizado de que a alimentação equilibrada é um fator crucial para a saúde e, consequentemente, para a longevidade. No entanto, a famosa ideia de que “tudo em exagero faz mal” também faz total sentido nesse quesito. O assunto, inclusive, virou pauta entre especialistas.
É chamado de ortorexia o transtorno caracterizado pela obsessão por alimentos saudáveis. De acordo com a nutricionista e psicóloga Cibele Santos Nakao, essa condição se manifesta por meio de um comportamento obsessivo em relação à qualidade e à composição dos ingredientes consumidos, resultando em restrições alimentares extremas e rigidez nas escolhas da comida.
“A pessoa fica obcecada em consumir apenas alimentos que considera ‘saudáveis’, evitando qualquer coisa que veja como ‘não saudável’, inclusive grupos inteiros de macronutrientes, como carboidratos e lipídeos/gorduras”, detalha.
Segundo a profissional, muitas vezes, estão incluídos nessa concepção alimentos processados, produtos com aditivos, açúcar, gorduras e até opções consideradas “saudáveis” pelo senso comum. A especialista chama atenção, portanto, para essa obsessão que controla a vida do ser humano. “A busca pela perfeição alimentar ocorre acima de tudo, afetando todos os âmbitos, desde as interações sociais até a saúde física e emocional”, adverte.
Malefícios
A ortorexia traz malefícios para o indivíduo. Um deles é a perda de peso e deficiências nutricionais, em razão da dieta muito restrita. Cibele lembra, ainda, que o transtorno faz com que a pessoa passe a se isolar e alterar de maneira prejudicial sua capacidade de convivência.
“Na prática clínica, observamos que a desnutrição, problemas gastrointestinais, distúrbios hormonais, complicações psicológicas e impacto na qualidade de vida são desafios que fazem parte da rotina de quem apresenta este transtorno”, acrescenta a nutricionista e psicóloga.
Sinais
Afinal, como identificar a condição?
De acordo com a profissional, é uma linha tênue separar o que é alimentação saudável do que é um comportamento patológico acerca das informações e crenças do que seja uma alimentação saudável para a pessoa.
Diante disso, os principais sintomas de ortorexia, segundo ela, são:
- Preocupação excessiva com a qualidade dos alimentos que serão consumidos e o seu modo de preparo;
- Sentimento de culpa e ansiedade quando se come algo que é considerado pouco saudável;
- Restrições alimentares que aumentam ao longo do tempo;
- Exclusão absoluta de alimentos não considerados “comida de verdade”;
- Consumo apenas de produtos orgânicos, excluindo da dieta alimentos transgênicos e com agrotóxicos;
- Exclusão de vários grupos de alimentos da dieta, principalmente carnes, leite e derivados, gorduras e carboidratos.
Na opinião da especialista, preocupar-se com a qualidade da comida, com atividade física, é inerente ao desenvolvimento saudável do ser humano. O problema é quando a pessoa coloca esse fator acima de qualquer circunstância que não seja saudável na totalidade das demandas humanas. “Isso vai se tornando um problema e, futuramente, um transtorno doentio”, pontua.
Os efeitos da internet no transtorno
A era dos influenciadores digitais, certamente, acarreta na maneira como muitas pessoas pensam e se comportam. Acompanhar perfis nas redes sociais de pessoas que dedicam grande parte do tempo ao estilo de vida fitness, no mínimo, traz algum efeito para cada indivíduo.
Questionada sobre a relação da internet com o surgimento da ortorexia, Cibele acredita que sim, muitos casos têm ligação com as “dietas da moda” e com questões vindas das redes sociais. “Quando uma celebridade ou autoridade social propõe retirar totalmente o glúten de sua rotina alimentar, muitos começam a restringir totalmente mesmo sem acompanhamento para verificar se isso se faz necessário para seu próprio organismo”, exemplifica.
“A ortorexia está associada a uma alta carga emocional, incluindo ansiedade, culpa, estresse e obsessões relacionadas à alimentação. Esses sintomas podem, sim, levar a transtornos de ansiedade, depressão, transtornos de imagem, bulimia e anorexia nervosa, dentre outros”
Cibele Santos Nakao, nutricionista e psicóloga
Como tratar
Segundo a especialista, o tratamento da ortorexia envolve uma abordagem multidisciplinar, com apoio do psicólogo, nutricionista e psiquiatra. A terapia cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, pode ser usada para identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos relacionados à alimentação.
“Tem como objetivo incentivar a pessoa a enfrentar medos alimentares e a reintroduzir gradualmente ingredientes evitados”, argumenta.
Já o acompanhamento nutricional fornece orientações sobre uma dieta saudável e equilibrada, de modo a auxiliar a pessoa a diversificar a refeição, a reintroduzir aos poucos os alimentos que havia excluído, a ampliar o repertório alimentar e melhorar a qualidade nutricional.
“A participação ativa da família e amigos como suporte emocional ajuda o paciente a enfrentar os desafios da alimentação e fornece um ambiente de apoio durante o tratamento”, observa a profissional.
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