Oncologista tira dúvidas sobre câncer de mama, de pele e de colo de útero
Eles são os de maior incidência no público feminino. A médica Ana Carolina Salles tem mestrado em ciências genômicas e biotecnologia
atualizado
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De acordo com levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil terá 625 mil novos casos da doença a cada ano do triênio 2020-2022. O câncer de pele não melanoma é o mais frequente no país e corresponde a mais de 30% de todos os tumores malignos registrados. A instituição prevê 177 mil novos diagnósticos dessa enfermidade somente em 2021. Ao separar a população por sexo, os tipos que mais acometerão as mulheres nos próximo anos são de mama (29,7%) e colo de útero (7,4%), sem contar a condição dermatológica.
Diante dos índices alarmantes, a coluna Claudia Meireles conversou com a oncologista Ana Carolina Salles, integrante do corpo de profissionais do Oncoclínicas Brasília. Especialista em câncer de mama, a médica também trata diversos outros tipos da doença, como ginecológico e de pele. Ambos são os de maior incidência no público feminino. Vale frisar que, a qualquer sinal ou sintoma anormal do corpo, deve-se procurar atendimento clínico.
Câncer de pele não melanoma
Até março, os brasileiros vão aproveitar a temporada ensolarada para colocar o bronze em dia, aumentar o nível de vitamina D e se jogar na piscina ou na praia. Mas nunca é demais destacar que as atividades devem ser realizadas com a pele protegida do sol. De acordo com a médica, os filtros funcionam como uma barreira, principalmente contra os raios ultravioletas UVA e UVB. Nocivas, as duas radiações têm o potencial de danificar o DNA e causar um câncer dermatológico.
Ana Carolina ressalta a necessidade de se atentar à quantidade usada de protetor solar: no rosto, pelo menos uma colher de chá, com reaplicação ao longo do dia. Além de combater algum tipo de câncer dermatológico, os produtos previnem o envelhecimento da pele, ao preservarem o DNA da ação prejudicial dos raios ultravioletas. Entretanto, como saber qual o filtro ideal, considerando que há um leque de opções nas prateleiras? A recomendação da oncologista é “consulte um dermatologista”.
Cada pessoa tem características dermatológicas particulares, como pele oleosa, seca ou doenças. Por esses motivos, deve-se recorrer à expertise do médico especialista. “Há quem tenha melasma, situação que necessita de uma barreira solar ainda maior. Embora tenham à disposição nas farmácias várias marcas, inclusive conhecidas e conceituadas, eu sugiro uma consulta com o dermatologista”, aconselha Ana Carolina.
Seguro?
Recentemente, a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, fez um anúncio sobre a segurança da composição de filtros solares para a pele. A agência federal norte-americana pediu uma averiguação dos ingredientes dos produtos. Questionada a respeito da nota oficial da instituição, a oncologista explicou que a FDA notou a presença de substâncias que poderiam ser tóxicas ao organismo pelo uso frequente do protetor. Segundo Ana Carolina, não há evidências científicas fortes para confirmar o teor do comunicado.
“Minha recomendação segue forte em relação à importância de aplicar o protetor solar todos os dias, independente de ir à praia ou não. Também é indispensável a reaplicação do produto, principalmente antes de uma exposição mais prolongada. Se analisarmos todos os tipos de câncer, quase um terço são de pele. A principal forma de evitá-lo é por meio do uso de protetor solar, além da utilização de bonés e blusas”, garante Ana Carolina, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Câncer de mama
Depois do não melanoma, o câncer de mama é o mais comum nas mulheres. Os principais sinais da doença são o aparecimento de nódulos e alteração na característica da pele dos seios, por exemplo, ficar com aspecto de casca de laranja. “O mamilo de cada mulher tem características próprias, mas, se ele fica retraído, ocorre uma inversão do bico do peito. Tudo isso deve chamar atenção da mulher e fazê-la procurar um especialista. Pode ser um mastologista, oncologista ou especialista em câncer de mama”, esclarece a médica.
A oncologista orienta as mulheres a fazerem o autoexame, no mínimo, uma vez ao mês: “Observem a própria mama para que não sejam surpreendidas com a doença em um estado mais avançado. Cuidem-se. Um período interessante para o autoexame é alguns dias depois da menstruação. Geralmente, o tecido mamário fica mais flácido”. Ana Carolina explica que a enfermidade não é comum aparecer em adolescentes e jovens, porém, os especialistas notam um aumento da incidência de câncer de mama em mulheres abaixo de 35 anos.
O principal fator de risco para o câncer de mama é o estradiol, hormônio feminino. “Por isso, as mulheres têm maior incidência da doença do que homens”, certifica a especialista. Existem outros elementos que contribuem, como a obesidade e o histórico familiar, conforme explica Ana Carolina Salles: “Há mutações genéticas hereditárias. Esses casos correspondem a mais ou menos um 10% do total”. Enquanto as condições anteriores são comprovadas com embasamento científico, outras decorrem de informações equivocadas, por exemplo, usar sutiã apertado. “Mito, não é verdade”, afirma.
Câncer de colo de útero
O câncer de colo de útero é o quarto tipo mais incidente nas mulheres. Na fase inicial, não apresenta sintomas. Mas como descobrir o diagnóstico nessa situação? A resposta é o exame papanicolau, que funciona como um rastreio da doença. O teste ficou conhecido pela seguinte pergunta: “Você já fez a sua prevenção este ano?”. O especialista coleta o material durante a consulta. Segundo a médica, quando esse tipo de câncer está em fase avançada, podem surgir alguns sintomas. Servem de alerta dor e sangramento durante o ato sexual.
O principal fator de risco para o câncer de colo de útero é o papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, principalmente os tipos 16 e 18. Ambos aumentam os índices de surgimento da doença. A transmissão ocorre por via sexual, sendo o preservativo uma das formas de se prevenir contra a infecção e, consequentemente, de desenvolver o tipo de câncer. Em relação ao uso de anticoncepcional oral predispor a enfermidade, a oncologista salienta que pode vir a aumentar a possibilidade, a depender de múltiplos fatores.
“Não isoladamente o anticoncepcional oral estaria implicando em grande risco de câncer de colo de útero. Depende do uso do contraceptivo por tempo prolongado e, principalmente, daquelas pacientes que começaram utilizar os medicamentos muito jovens. Deve-se pesar os prós e contras em consulta com o médico. A discussão precisa ser feita com base no histórico familiar, benefícios do contraceptivo e, assim, tomar a decisão individual”, esclarece Ana Carolina, mestre em ciências genômicas e biotecnologia.
Quanto às dúvidas das mulheres retomarem a vida sexual após o diagnóstico de câncer de colo de útero, a oncologista ressalta não haver um tempo determinado. O tema é bastante discutido no consultório de Ana Carolina. Nas consultas, a médica conta às pacientes que não há contraindicação para o ato ao longo do tratamento. Entretanto, elas podem sentir um desconforto, em especial quem passa pela radioterapia combinada com a quimioterapia.
“A radioterapia faz um efeito tóxico às células cancerígenas, mas também ao tecido normal, que fica muito sensível. Sendo assim, a relação sexual neste momento pode não ser prazerosa. Nós conversamos com as pacientes. Temos de respeitar o tempo de cicatrização do corpo de cada mulher”, avalia a médica.
Sobre a especialista
Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Ana Carolina Salles é formada na área pelo Hospital de Base do Distrito Federal. Especialista em câncer de mama, a expert também trata outros tipos da doença, como de pele, ginecológico, sarcomas, cabeça e pescoço. Atualmente, a médica atende pelo Oncoclínicas Brasília. No currículo, a profissional traz o mestrado em ciências genômicas e biotecnologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Desde o ano passado, atua como professora do curso de medicina do UniCEUB.
“Gosto dessa parte de genômica e medicina de precisão. Hoje, representa um grande avanço para a ciência e aos nossos pacientes. Inclusive, cada vez mais, há um tratamento personalizado e focado na questão do DNA e biologia. Qual o defeito genético que aquela pessoa apresenta para ter desenvolvido um câncer? Se temos tratamento e drogas-alvo? Muitos avanços têm surgido nesse sentido”, relatou Ana Carolina. Além da SBOC, ela integra a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e a Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO).
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