Oncologista alerta sobre epidemia de câncer em bate-papo no D Concept
Fernanda Cesar Moura é oncologista no Hospital Sírio Libanês, em Brasília. Pacientes com câncer têm feito terapia capilar com Raquel Tavares
atualizado
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“Cada fio tem a sua força”. Com essa frase, a terapeuta capilar Raquel Tavares, do salão D Concept, explica o que vem a ser o projeto, desenvolvido pelo espaço no Lago Sul, em parceria com a oncologista Fernanda Cesar Moura, do Hospital Sírio Libanês, em Brasília. Devido ao tratamento de quimioterapia, as mulheres diagnosticadas com câncer de mama ou de colo de útero enfrentam a perda de cabelo. Visando ajudá-las, algumas pacientes atendidas pela médica passam a contar com os cuidados da profissional do estúdio de beleza.
Mais do que cuidar do couro cabeludo dessas mulheres, o D Concept ajuda a elevar a autoestima delas e se propõe a ser uma rede de apoio. Não só isso. O espaço de beleza, comandado por Cheila Wobido e Danilo Nyari, se vê na missão de conscientizar as clientes fiéis e novatas sobre a importância do diagnóstico precoce não somente em outubro, mas ao longo de todo ano. Pensando nisso, o salão recebeu, nessa quinta-feira (26/10), um bate-papo conduzido por Fernanda com a presença de convidadas.
Na conversa recheada de avisos, a médica alerta as mulheres em relação à doença e salientou números preocupantes. “Uma a cada oito mulheres terá câncer de mama”, ressalta. Segundo a oncologista, quanto mais uma pessoa vive, maior a chance de ela apresentar a enfermidade. Fernanda defende que o surgimento da patologia está 30% associado ao estilo de vida.
“Depende do estilo de vida, por isso, exercite-se, coma bem, tome todas as vacinas e evite exposição ambiental”, orienta Fernanda Cesar Moura, fundadora da iniciativa Ummas Mulheres. A minoria dos diagnósticos tem ligação genética, conforme salienta a oncologista: “Pelos dados do Inca para 2023 a 2025, em torno de 700 mil novos casos de câncer, sendo o de mama um número muito alto”.
A especialista define os altos índices da doença como uma “epidemia”. Fernanda demonstra preocupação em relação às mulheres trans. Por conta da manipulação de hormônios, a chance desse público feminino ter câncer é 40 vezes maior, entretanto, as pacientes não chegam até o hospital para serem tratadas e cuidadas. “No Brasil, uma pessoa trans morre aos 40 anos, são mortos ou cometem suicídio”, declara. No ponto de vista da médica, deve-se criar ações na rede de saúde dedicadas ao grupo.
Vigilância
A médica pede para as mulheres serem vigilantes ao aparecer qualquer sintoma. “Sentiu um nódulo na mama? A região ficou vermelha? Saiu alguma secreção? Em um sinal desses, é necessário que a paciente seja vista por um especialista”, esclarece. A oncologista aconselha se atentar ao corpo: “Entender o que é normal e o que está diferente para não prolongar uma investigação de câncer ou de outra doença”.
Mais do que esperar surgir um sinal ou sintoma, a oncologista indica fazer os exames preventivos com regularidade a fim de identificar o diagnóstico precocemente. Nome à frente do D Concept, Cheila Wobido cita o caso de uma sobrinha de 32 anos que buscou o médico por estar querendo engravidar. Em uma das consultas, ela descobriu um câncer em estágio inicial. “Isso foi fundamental, porque o diagnóstico tardio muda tudo”, atesta a empresária.
“Perdi minha mãe e todas as minhas tias com câncer. No ano passado, uma sobrinha recebeu o diagnóstico, aos 32 anos. Por vezes, achamos que a doença só aparece depois de uma certa idade e isso é realmente preocupante. Nem sempre levamos a sério a realização dos exames periódicos”, relata Cheila, uma das sócias do D Concept na capital federal.
Acolhimento
Depois de expor dados e dar conselhos, Fernanda Cesar Moura pontua o quanto é essencial acolher as pacientes tanto ouvindo-as quanto recepcionando-as bem. A médica aproveitou para fazer um apontamento: “Tudo pode mudar e eu posso estar do outro lado. Não sei se eu posso ter câncer e, se tiver, como quero ser cuidada? Então, como eu vou cuidar. Isso faz toda a diferença”, reforça.
A oncologista parabeniza o D Concept, em especial, Raquel Tavares. A terapeuta capilar tem tratado o couro cabeludo de duas pacientes de Fernanda e, em breve, cuidará de outras mulheres diagnosticadas com câncer. Segundo a profissional do ramo da beleza, o salão não foca apenas em cabelos. “Nos preocupamos em trazer a autoestima da mulher e que ela tenha uma experiência gostosa aqui dentro”, garante.
“Esse cuidado e olhar atento precisa acontecer além de apenas um mês no ano ou em uma data específica. Nós estamos trazendo esse trabalho de conscientização, autocuidado e sororidade. A campanha do D Concept consiste em falar sobre cada fio ter a sua força. Nós mulheres, cada uma tem uma fortaleza, e que juntas possamos ser esse elo para formarmos uma corrente do bem”, define a terapeuta capilar do D Concept, em Brasília.
Raquel sabe da relevância em abordar e conscientizar sobre a prevenção para o câncer de mama, de colo de útero e outros tipos, mas ela almejava abraçar a causa ao pôr à disposição a própria expertise e conhecimentos. “Decidimos cuidar de algumas pacientes [da médica Fernanda] que passaram por tratamentos com quimioterapia”, rememora. A profissional complementa: “A terapia capilar faz todo esse cuidado profundo de estímulo de crescimento de modulação de estresse e controle de inflamação”.
Após conversar com uma das pacientes de Fernanda que faz terapia capilar, Raquel notou que uma das maiores preocupações das mulheres ao receber o diagnóstico da doença é perder os fios. No ponto de vista da profissional de beleza, o cabelo está associado à força, vida e é “algo extremamente representativo” para o público feminino: “Ver os seus fios indo embora, é como se fosse uma parte de si mesma”.
Preocupação
De acordo com a oncologista, a paciente ao perder os fios fica triste “por inúmeras razões”, por exemplo, desde como é olhada na rua até a forma de ser recebida em algum lugar. Outro tópico abordado pela médica e pela terapeuta capilar envolve as mulheres se sentirem culpadas por se afligir com a queda capilar. Quem passa por essa situação, Fernanda e Raquel deixam o lembrete: “Tudo bem se preocupar com seu cabelo”.
“Estamos aqui para isso. Existem estratégias e cuidados específicos, que também podem ser um suporte de autocuidado e autoestima que te ajudarão a passar por esse processo de forma mais leve”, acrescenta Raquel. A oncologista finaliza salientando o quão importante é oferecer suporte às pacientes diagnosticadas com câncer: “Faz toda a diferença [no tratamento].”
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