O que precisamos saber sobre os séruns de crescimento para cílios?
A coluna conversou com a oftalmologista Clarice Lagares sobre a eficácia desses produtos e os riscos de seu uso. Descubra!
atualizado
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Atualmente, tem sido mais fácil encontrar opções de séruns para crescimento e fortalecimento de cílios no mercado. Diferentes marcas — desde as mais consagradas até as mais acessíveis — têm criado produtos que “prometem” deixar nossos olhares mais marcantes.
Geralmente, os séruns são compostos por ativos como peptídeos, extratos naturais, antioxidantes e aminoácidos. Esses ingredientes, por sua vez, ajudam a nutrir o folículo piloso para um crescimento saudável dos fios, como também melhoram a sua espessura e comprimento. Em muitos deles, é possível aproveitar a função para uso, inclusive, nas sobrancelhas.
Grandes empresas como Lancôme, Mavala, Shiseido, Dior e Dermage produzem o item. A última aposta em ativos como GP4G e pantenol.
Apesar do sucesso desses produtos no mercado, será que existem riscos para a saúde dos olhos?
Em conversa com a Coluna Claudia Meireles, a oftalmologista Clarice Lagares alerta para a aplicação de determinados produtos na área rente aos olhos, como máscaras de cílios ou estimulantes de crescimento dos fios.
Ela antecipa que, visto que o cílio é um folículo piloso, há uma produção de gordura da glândula adjacente a ele. Portanto, a higiene nessa área é fundamental.
“Existe uma condição chamada blefarite, que é uma descamação na base da pálpebra, algo que se pode comparar a uma caspa. Quando ela é bem leve, branda, muitas pessoas não notam. Mas quando se começa a usar alguns tipos de produtos, como rímel ou até esses estimulantes, eles podem irritar e aumentar ainda mais a blefarite”, explica.
Para facilitar a higienização da região, Clarice lembra que há produtos auxiliadores no mercado, como demaquilantes e shampoo neutro infantil. “Este último ajuda bastante a dar um equilíbrio tanto nas bactérias que vivem em harmonia na pele quando na produção de gordura”, fala.
“Caso a pessoa tenha olhos saudáveis e pingue o produto apenas na base, sem deixar cair na parte interna do olho, não tem problema. Mas caso ela seja alérgica a determinados componentes da substância, pode acontecer uma irritação da conjuntiva do paciente, provocando uma conjuntivite química, ou até um processo alérgico”, ressalta a médica.
Conforme grande parte das marcas aponta, os efeitos esperados pela utilização dos séruns são de a partir de três semanas. A desvantagem, no entanto, é que os resultados não são duradouros — muito menos definitivos. “O efeito do sérum é temporário. Não existe nenhum tipo de tratamento que coloque esse crescimento e fortalecimento do fio a longo prazo”, esclarece a oftalmologista.
De acordo com a especialista, os cílios crescem em aproximadamente dois meses, e vão maturando, também, em cerca de dois meses, até caírem. “Quando usamos esses produtos, há uma maior vascularização nos fios que estão nascendo em relação aos peptídeos utilizados. Mas, a partir do momento em que você deixar de usar, o efeito pode ser mantido no máximo até quatro meses. E a tendência é voltar ao que era anteriormente”, afirma Clarice.
Outros tratamentos
Questionada sobre as promessas na internet de produtos naturais que ajudam no crescimento e fortalecimentos dos cílios, a profissional confirma que não se deve cair no engano.
“Não existe nenhum produto natural para ajudar no crescimento apenas com esse foco. O recomendado é a alimentação natural, com fonte de vitaminas, e um equilíbrio entre todos os hábitos de vida saudável, como atividades físicas e exposição solar adequada, para haver um equilíbrio hormonal e de nutrientes a fim de que os fios mantenham uma vida saudável”, frisa.
Respondendo a quem já ouviu falar da aplicação de azeite na área dos cílios para fortalecimento e crescimento dos fios, a médica adverte que essa prática não é recomendada. “Principalmente porque pode cair dentro do olho e provocar uma conjuntivite química ou outros tipos de irritação, inclusive queimadura da córnea. Dependendo da situação, pode até levar à perda da transparência do olho, perda da córnea e, consequentemente, cegar”, defende.
Já em relação ao óleo de rícino, ela alega que ainda não há rigor científico para esse caso, ou seja, não há validade técnica suficiente para se concluir que o item, de fato, proporciona fortalecimento e crescimento dos fios.
Os óleos, na verdade, agem como uma película nos pelos, deixando-os mais grossos e brilhosos por um determinado momento. “Se a pessoa deseja usar com esse objetivo, tudo bem. Mas ela deve seguir as instruções da embalagem, evitando que o produto entre nos olhos, e observar se não haverá uma reação imediata. Caso tenha, lavar com água e sabão essa região”, informa.
O famoso Latisse — ainda vale?
Antes da existência dos séruns, a “onda do universo da beleza” era o famoso Latisse, que, anteriormente veio como uma medicação para tratar glaucoma, uma doença ocular causada principalmente pela elevação da pressão intraocular.
Contudo, foi observado a longo prazo nos pacientes glaucomatosos que usavam esse colírio um crescimento exacerbado dos cílios. “Esse crescimento dos fios, ne verdade, foi um efeito colateral da substância que está no colírio, a bimatoprosta. Só que o efeito colateral da medicação não é apenas esse. Ela pode causar, também, hiperpigmentação na região das olheiras”, diz.
Por outro lado, o Latisse (cosmético), apesar de usar a mesma substância em sua fórmula, tem uma concentração bem menor, de acordo com Clarice. Entretanto, dependendo da forma como a pessoa usa e do contato com a pele, ela não deixa de estar suscetível a uma alteração da pressão intraocular — e isso vai depender da idade do paciente. “Ele é contraindicado a pessoas que já foram submetidas a cirurgias de catarata, por exemplo, ou que têm algum tipo de lesão subcapsular”, expõe a médica.
Erros mais comuns nos cuidados com os cílios
Mulheres que almejam por cílios longos e volumosos — e que não são adeptas aos séruns fortalecedores —, devem estar atentas, caso costumam realizar alongamentos fio-a-fio em estúdios de beleza. “Um erro muito grande é você fazer o alongamento de cílios em locais que têm uma higienização precária, com pessoas que não têm uma formação adequada e/ou com uso de produtos que podem causar irritação muito grande. Você pode desenvolver, também, blefarite, infecções ou hordéolos (tersol)”, comenta Clarice.
“Eu já recebi muitos pacientes com queimaduras importantes nessa região da pálpebra, e com quebra de toda a parte dos cílios, por conta do uso de determinadas colas que causam muita irritação”, salienta a especialista. “Por outro lado, agora estamos vendo um caminho inverso a essa moda. Muita gente está voltando à parte mais natural e menos artificial em relação aos cílios”, declara.
Dicas sagradas
Para manter a saúde dos fios em dia, a profissional entrega algumas dicas. A primeira e remover toda a maquiagem aplicada no local antes de dormir.
“E se precisar usar esses cosméticos com uma frequência maior do que o habitual, aposte no lubrificante, principalmente quem mora em Brasília, devido ao clima muito seco. Numa era em que as pessoas ficam muito de frente para as telas, isso acaba diminuindo a quantidade de piscadas. A lubrificação já dá uma ajuda boa para diminuir a ardência e vermelhidão do olho”, compartilha.
Outro alerta trazido pela médica é a aplicação de colírios por parte dos maquiadores em suas clientes. “Muitos pingam uma gotinha dizendo que é para limpar. Mas, na verdade, aquele colírio dá uma vasoconstrição no olho, ou seja, o vaso diminui o calibre e a oxigenação. Por isso que os olhos ficam branquinhos no momento. Se feito de forma contínua, será muito prejudicial, pois o ato reduz o porte de oxigênio para a região da córnea, que é um local que não tem vasos sanguíneos, e suas áreas adjacentes”, argumenta.
Outro hábito que deve ser abandonado pelas pessoas que utilizam colírios no geral, segundo Clarice, é emprestar o item para outras pessoas. “E, depois de aberto, vale lembrar que o produto tem um determinado prazo de validade, pois ele já começa a ter exposição”, conta.
O mesmo deve ser feito com as maquiagens, principalmente nos salões de beleza. “Você não sabe como está a saúde ocular da pessoa que passou a mesma máscara de cílios que você. O recomendado seria que cada um tivesse o próprio rímel para evitar esse tipo de transmissão mecânica”, finaliza.
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