O que acontece no meu corpo quando eu ignoro a intolerância à lactose?
Quão ruim é realmente comer laticínios se eu tenho a condição? Médica esclarece tim-tim por tim-tim!
atualizado
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De acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, aproximadamente 65% da população mundial têm uma capacidade reduzida de digerir a lactose após a infância.
No Brasil, uma pesquisa do laboratório Genera apontou que mais da metade dos brasileiros (51%) tem tendência genética à intolerância à lactose. Mesmo cientes do diagnóstico e da incapacidade de digerir totalmente o açúcar (lactose) de produtos lácteos, há quem não resista às tentações de se comer sorvetes, chocolates, queijos e outros alimentos ricos no composto químico.
A grande questão é: o quão ruim é realmente comer laticínios se eu sou intolerante à lactose? O que acontece no meu corpo quando eu ignoro essa condição?
Segundo a gastroenterologista e endoscopista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília Thicianie Fauve, a intolerância à lactose ocorre quando o organismo não produz ou produz em quantidade insuficiente a enzima lactase, que serve para quebrar a lactose (açúcar presente no leite e em seus derivados.
“Esse quadro tem se mostrado bastante comum nos dias atuais, tanto pela facilidade no diagnóstico quanto pelo estilo de vida”, explica ela.
A causa da condição pode ser primária, ou seja, congênita ou com o desenvolvimento e os sintomas que se iniciam na infância. Também pode ser secundária, como consequência de doenças intestinais (infecções ou doenças que inflamam o intestino) que acometem grandes áreas da superfície mucosa e que resultam na diminuição da capacidade digestiva, conforme descreve a médica.
O que acontece no corpo quando somos intolerantes e ingerimos laticínios?
Thicianie conta que, ao ingerir algum laticínio, uma pessoa com intolerância à lactose possa a ter sintomas como dor abdominal, flatulência, distensão abdominal, náusea e diarreia — dentro de algumas horas após o consumo de uma refeição contendo o composto químico — e até constipação intestinal.
“Os alimentos com leite ou derivados precisam ser ‘quebrados’ em moléculas menores para uma maior absorção na mucosa intestinal. Quando há intolerância à lactose, esse alimento passará por todo intestino delgado e, quando chegar ao intestino grosso, haverá uma intensa produção de gases e influxo de água para intestino, causando diarreias e cólicas abdominais”, fala a especialista.
“Em alguns indivíduos, além dos sintomas do trato gastrointestinal, é possível o surgimento de sintomas atípicos, como cefaleia (dor de cabeça) ou alterações na pele”, ressalta a profissional.
De acordo com a gastroenterologista, os incômodos podem se manifestar imediatamente após o consumo de leites ou derivados — ou até 6h a 8h, dependendo do tempo de trânsito intestinal.
Para Thicianie, não há risco de doenças graves, nem neoplasia (tumor), nos pacientes com consumo de lactose, mesmo com intolerância. Entretanto, a longo prazo, os sintomas podem se tornar mais intensos e o paciente pode sofrer com sintomas crônicos, além do desequilíbrio da microbiota intestinal, chamado de disbiose.
Como reduzir os efeitos colaterais?
Caso o indivíduo faça um consumo alto de laticínios e sinta os efeitos logo em seguida, a especialista se pronuncia: “Algumas medicações são recomendadas para diminuir esses efeitos indesejados após consumo dos produtos, como analgésicos, antiespasmódicos e antigases e procinéticos, orientado pelo seu médico”.
Desfrute dos lácteos sem perrengue
Uma das soluções para quem não abre mão das refeições preparadas com leite é apostar nos produtos à venda no comércio com a tarja “sem lactose”. A médica comenta que eles nada mais são do que itens com a enzima lactase na sua composição. “Eles podem ser consumidos em alguns pacientes sem nenhum problema”, diz.
Outra sugestão é ingerir a enzima lactase em forma medicamentosa junto com a refeição. Ela é encontrada nas farmácias. “O tempo da enzima e a ação vai depender do qual tipo de produto lácteo está associado, além do tempo de esvaziamento gástrico e de trânsito delgado e colônico. Mas, em média, ela tem duração de 15 a 30 minutos”, afirma a profissional.
Como descobrir se eu tenho a condição?
Segundo a gastroenterologista, o diagnóstico é clínico. E alguns testes podem detectá-lo, como exame de sangue, teste respiratório e biópsia intestinal.
Como diferenciar a intolerância à lactose da Síndrome do Intestino Irritável?
Ambos os diagnósticos, conforme a médica certifica, muitas vezes, estão presentes e um exacerba efeito do outro. “É importante uma boa anamnese, exame físico e exames complementares para diagnóstico diferencial”, destaca.
A Federação Brasileira de Gastroenterologia considera a Síndrome do Intestino Irritável um distúrbio do trato digestivo que provoca dor abdominal e constipação intestinal ou diarreia.
Mas, afinal, existe cura para a intolerância à lactose? A especialista responde que, em alguns casos, como no da intolerância secundaria, é possível tratar a causa e, como consequência, melhorar o quadro.
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