Girar o globo terrestre e apontar em um lugar fazendo o objeto parar. Em seguida, abrir os olhos e ver em qual país o dedo “estacionou”. Enquanto algumas pessoas alimentam o sonho de conhecer um único destino custe o que custar, a brasileira Nataly Gabrielly compartilha do desejo — e está na missão — de visitar 195 nações do mundo, com um adendo: em tempo recorde a fim de entrar para o Guinness Book.

Paulistana da Zona Leste, Nataly disputa o recorde mundial para ser a mulher mais rápida a visitar todos os países do planeta Terra e ser a primeira brasileira negra a conquistar o feito.

Mais do que alcançar o título, a jornalista, influenciadora digital e mente criativa do perfil do Instagram Viaje Sem Limites delimitou como objetivo abrir portas e caminhos para que mais pessoas desfrutem de boas oportunidades de viagens assim como ela.

“Todo mundo tem um recorde, para conquistar, né? Seus sonhos, seja na carreira, seja na família. Tem sido uma missão muito honrosa e sou muito grata pela chance que eu estou tendo”, reforça Nataly em entrevista à Coluna Claudia Meireles. Na vida de viajante desde 2013, ela é uma nômade digital e, no final de 2019, começou a pesquisar para fazer a volta ao mundo na corrida contra o relógio.

“A conta não bate”

Quando começou a busca para concretizar o propósito de desbravar os cantinhos do globo, uma “interrogação” pairou sobre a paulistana.

“Vi que no mundo com 8 bilhões de pessoas, somente 150 visitaram todos os países. Desse total, a maioria é europeu e estadunidense, sendo grande parte homem. Descobri que só tinha uma mulher negra a fazer esse tipo de viagem. Se formos ver o cenário, a conta não bate”, contesta.

Segundo Nataly, a então mulher negra a pisar em todas as nações do planeta é de origem uganda-americana e, até completar a volta ao globo, durou mais de 30 anos por fazer o tour ao longo da vida. Entretanto, a jornalista brasileira compete pelo título na categoria velocidade com uma norte-americana. A concorrente finalizou a “prova” em um ano e meio.

“Pensei assim: ‘Já tenho o desejo de visitar os países, porque não aproveito e disputo o recorde. Quero levá-lo para o Brasil”, rememora.

Sonhos realizados

Antes de começar a turnê, Nataly Gabrielly fantasiava conhecer a Noruega. Atualmente, a nômade digital pode dizer que realizou o sonho. “Passei alguns dias no norte do país, na região de Senja. Fiz um tour para caçar a aurora boreal, fenômeno incrível com aquelas luzes dançantes no céu”, recorda. No fim do ano passado, ela também conheceu a Islândia e não economizou nos elogios ao destino nórdico.

“A Islândia é um paraíso de belezas naturais, fenômenos, montanhas, vulcão, águas termais e piscinas naturais. Um contraste incrível saber que existe vida em um lugar que já foi praticamente lava [de vulcão], sabe? É bastante interessante visitar esses destinos meio exóticos, não muito comuns, principalmente para nós, brasileiros, que preferimos lugares mais conhecidos na Europa e nos Estados Unidos. Tem sido incrível para mim”, garante.

Top 5

Até à época em que foi entrevistada, em dezembro do ano passado, Nataly tinha feito um Top 5 dos destinos visitados favoritos.

“Difícil escolher somente cinco países, mas o primeiro é a Suíça. Tive oportunidade de visitar as partes italiana e alemã de lá. Na área alemã, ficam os Alpes e fui em Grindelwald de trem. O Ministério do Turismo deles me apoiou, ajudou e patrocinou com bilhetes ilimitados para eu poder andar e me locomover. Fui de ponta a ponta vendo as paisagens incríveis”, recorda.

Na segunda posição, a idealizadora do perfil Viaje Sem Limites elegeu Malta: “Destino muito legal também, bem ali no Mediterrâneo, cercado por mares, praia, piscina e tem os cliffs, as rochas e o verde. Um contraste bem bacana”.

Na colocação seguinte aparece Israel. A nação conquistou cada cantinho do coração de Nataly. “Tenho um amor muito grande pelo país. Andar por Jerusalém e saber que tantas histórias aconteceram ali”, defende.

Protagoniza o Top 4 da paulistana a Geórgia: “Faz fronteira com a Rússia, Armênia e Azerbaijão. Destino que eu passei uns dias também para dar uma descansada e conheci pessoas incríveis, custo de vida bom e comida boa e barata”. Para o quinto lugar, a influenciadora citou Laos pela experiência de alugar uma “motinha” e conduzir 200 quilômetros durante dois dias em uma viagem parando pela estrada.

“Cheguei em Laos e fiquei uns dias na na cidade. Depois, fui fazer o loop, espécie de tour em que as pessoas alugam uma moto. Me joguei no trajeto de quase 200 quilômetros. São dois dias na estrada, parando no caminho e se hospedando nas pousadas e nas casas dos locais. Eu não tenho carteira para moto, mas nesses países nem pedem habilitação. Aluguei a moto sem ter experiência. Me encanto por lugares em que saio da minha zona de conforto e topo desafio para poder explorar e compartilhar uma novidade”, acentua.

 

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Uma publicação compartilhada por Nataly Gabrielly 🇧🇷 (@viajesemlimites)

Como uma verdadeira viajante, Nataly quis estender a lista para seis. No caso, ela mencionou a Malásia: “Achei o povo de lá muito simpático e interessante”. Na nação situada no Sudeste Asiático, ela desbravou a ilha de Bornéu, considerada a terceira maior do mundo. “Uma família dirigiu 30 quilômetros me dando carona até a fronteira da Malásia com Brunei. As pessoas locais, que eu tenho encontrado, gostam de compartilhar suas histórias, detalhes da cidade e seu país”.

“São destinos muito legais e sim, eu pretendo voltar para ter mais tempo não somente no lugar, mas também com a população local”, endossa.

Carona com o Talibã

Se viajar para um único destino mil e um perrengues acontecem, dirá dar a volta ao mundo. “Uns foram de gargalhar, outros de chorar. Eu dou risada de algumas cenas, mas que na época foram bem intensas”, rememora. Um dos episódios mais “desafiadores” da turnê pelo globo, Nataly vivenciou no Afeganistão uma aventura inesquecível com o Talibã.

Primeiramente, quando a influenciadora foi tirar o vista na Embaixada do Afeganistão ouviu do diplomata: “Ele falou que seria a primeira mulher a entrar e viajar sozinha dentro do Afeganistão após o retorno do Talibã, depois de 21 anos”. Quando escutou a declaração do embaixador, pensou nos desafios que iria enfrentar principalmente por ser do sexo feminino: “Eu sabia que teria algumas limitações”.

Nataly compartilhou cada instante da viagem pelo destino no Instagram, inclusive a carona que pegou com o Talibã. Sim, você leu certo! A nômade digital recorreu ao transporte gratuito oferecido por membros do grupo extremista por duas vezes. “O pessoal que me acompanha nas redes sociais dá risada até hoje falando que eu zerei a vida por fazer o Talibã de Uber”, relembra.

Como Nataly foi impedida de entrar no Uzbequistão por uma ponte de pedestre do Afeganistão, suplicou ao Talibã para entrar no país em que estava, porém, seu visto era de entrada única. “Comecei a chorar literalmente com passaporte na mão, o hijab na cabeça cobrindo o cabelo e o mochilão. Aparentemente, se for ver pela história, uma pessoa vindo do Afeganistão, com bolsa nas costas, toda de preto e cobrindo o cabelo e o rosto, só deixando o olho para fora, é de assustar? Provavelmente uma terrorista”.

“Eu estava chorando e o Talibã, que hoje é o governo, também o exército do país e que decide as coisas, me viram naquela situação na ponte entre os dois países. Falei: ‘Posso entrar de volta, porque eles não me aceitaram lá’. Os dois homens do Talibã, fixados na ponte, me ajudaram e disseram: ‘Welcome back, sister’ (Seja bem-vinda de volta irmã, em tradução do inglês). Depois, eu comecei a dar risada. O grupo mais temido do mundo me desejou boas-vindas de volta. Totalmente protegida do Talibã”, comenta a viajante aos risos.

A influenciadora digital cultivou o amor por viagens na adolescência. O tour de Nataly pelo globo está conectado a um projeto socioeducacional desenvolvido por ela. O propósito da iniciativa é conseguir bolsa de estudos para jovens brasileiros de baixa renda no exterior. “Por meio da minha história, eu estou conseguindo impactar outras vidas e famílias”, explica. Ela acredita que quem usufruir das oportunidades beneficiará a sociedade ao retornar para o Brasil.

“Entro no Guinness World Record como a mulher mais rápida do mundo a visitar todos os países soberanos [da ONU] e, consequentemente, a primeira brasileira e negra. Serei a primeira, mas não vou ser a última, porque o meu objetivo é abrir portas e caminhos para mais pessoas. Além da viagem, quero compartilhar todo conhecimento e experiências”, finaliza Nataly Gabrielly. A jornalista continua entre embarques e desembarques pelas nações.

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