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Moradores do Noroeste se mobilizam em prol de uma quadra destinada aos pets

Eles enfrentam reclamações frequentes devido à circulação de animais de estimação nas áreas de lazer

atualizado

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Brasília (DF), 03/08/2020. Moradores do Noroeste que gostam de se reunir para brincar com seus cachorros em área comum da quadra 309. Foto: Jacqueline Lisboa/Especial Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 03/08/2020. Moradores do Noroeste que gostam de se reunir para brincar com seus cachorros em área comum da quadra 309. Foto: Jacqueline Lisboa/Especial Metrópoles - Foto: null

Os moradores das quadras 109 e 309 do Noroeste se mobilizaram em prol de melhores condições para os animais de estimação nos ambientes de convívio do setor habitacional. Comovidos com o caso do síndico de um prédio no Sudoeste, que ameaçou colocar veneno no jardim do condomínio para evitar que cachorros circulem pelas imediações do local, eles se vêem ainda mais responsabilizados por lutar pelo bem-estar dos pets.

Na ocasião, um vídeo em que o homem discute com mulheres que estavam passeando com seus bichinhos viralizou nas redes sociais. “Se vier cachorro aqui, vai morrer”, diz o síndico na gravação.

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) solicitou ao bloco B da SQSW 103, local em que o fato ocorreu, o acesso às filmagens de câmeras de segurança do prédio como parte das investigações sobre a ameaça feita pelo homem. As partes envolvidas prestaram depoimento na 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro Velho).

De acordo com o delegado-chefe Ricardo Viana, o síndico João Carlos Bruno confirmou que fez a ameaça. Ao Metrópoles, o administrador do condomínio disse que uma mulher andava com as duas cadelas dentro de um parquinho de areia e ele teria lhe pedido para sair do local. Com a recusa, o síndico resolveu fazer a ameaça. “Falei que colocaria, mas só para encher o saco dela. É cheio de criança aqui no prédio, não posso botar veneno”, ressaltou.

No entendimento dele, a área do pilotis do prédio é particular, sendo injustificado qualquer pessoa que não seja moradora passar por ali. “O GDF diz que a área é pública se for lugar de passagem. Aqui não tem caminho para lugar nenhum, só um parquinho e uma horta do prédio”, explicou.

Apesar de confirmar que não colocará veneno na grama, Bruno voltou a dizer que não toleraria mais cachorros circulando pelo parque de areia. “Se trouxerem de novo, eu solto o meu cachorro em cima dos outros. Ele até já arrancou o olho de um outro aí”, disparou.

Impulso para manifestações

Indignado com o ocorrido no Sudoeste, um grupo de moradores do Noroeste juntou forças para manifestar a repulsa contra a falta de atenção com animais de estimação nos condomínios da região. Eles enfrentam, diariamente, uma batalha: de um lado, parte da população pede melhores condições para os bichinhos. Do outro, pessoas reclamam dos cachorros circulando pelo local.

O advogado Luiz Guilherme Ros faz parte de um grupo no WhatsApp com mais de 50 moradores dos condomínios das quadras 107/307 até 111/311. Diariamente, eles se reúnem, às 17h, para brincar com os pets em um gramado. Ele conta que todos almejam um espaço dedicado aos animais como solução dos conflitos entre os habitantes do Noroeste.

Moradores do Noroeste que gostam de se reunir para brincar com seus cachorros em área comum da quadra 309

Para o advogado, a ideia é simples, mas burocrática: cercar uma área verde para que os bichinhos possam correr sob vigilância de seus tutores, mas sem preocupações com as crianças, por exemplo. “As reclamações são de que os cachorros fazem barulho e assustam as crianças”, explica Luiz Guilherme.

Há uma quadra poliesportiva no local. De acordo com os residentes, seria uma alternativa para a recreação, mas, quando isso acontece, o tutor costuma virar alvo de reclamações. “Eles falam que lá não é lugar para cachorro, apesar de ser um local público”, afirma o advogado.

Luiz Guilherme Ros e Floki
Luiz Guilherme Ros e Floki

A polêmica chegou ao limite no último fim de semana, quando o estudante Luciano Dechichi, 15 anos, se envolveu em uma briga na quadra de esportes.

O jovem explicou à coluna Claudia Meireles que estava brincando com seu cachorro no espaço quando percebeu que um homem o filmava. “Isso me incomodou muito. Tanto que fui lá falar com ele e dizer que não queria que ele me expusesse”, defende.

Segundo Luciano, todos que estavam no local se incomodaram com a gravação e acabaram se retirando. “E eu pedi para ele apagar o vídeo, mas ele ignorou, aumentou o tom de voz e apontou o dedo na minha cara. Tive que chamar meu pai e meu irmão, que são maiores de idade, para me ajudarem”, revela. “Sai de lá muito magoado por ter sido diminuído por causa da minha idade. A quadra não tem nenhum aviso que proíbe a entrada com animais”, completa.

Luciano Dechichi
Luciano Dechichi

Luiz Guilherme Ros alega que há áreas livres na altura das quadras 9 para a construção de um parque para cachorros. Ele descobriu, porém, que já entraram com pedido de levantamento de um parque na altura da 6, o que se torna inviável para os tutores. “Do meu prédio, que é na 9, até lá é um quilômetro para ir e outro para voltar. Não dá para fazer isso durante a semana”, anuncia o advogado. “As pessoas não vão se deslocar até lá. Vão continuar se encontrando aqui nesse gramado”, continua.

cachorros brincando

Para o morador, os tutores não conseguem levar o pedido adiante porque o requerimento da instalação do parque na altura da quadra 6 está à frente. “Nós só queremos ser ouvidos”, desabafa.

O funcionário público Luis Paulo Santos é pai de Bingo, um golden retriever manso e brincalhão. Ele destaca o quanto os habitantes do Noroeste gostam de animais e frisa a importância de construir um espaço só para os pets. “Assim como tem espaço para as pessoas, tem que ter um para os cachorros. Deveria ser uma área acessível. Não adianta colocar um parque só na altura da 6. O ideal é ter um espaço nas quadras locais”, diz.

Bingo e Luis Paulo Santos
Bingo e Luis Paulo Santos

A moradora Roseane Jordão declara que os animais são companheiros de vida e merecem ter todos os direitos cabíveis, como bons tratos, cuidados com a saúde, entre outros. “Recentemente, perdi minha companheira de nove anos. Ela era Service Dog e me acompanhava em todos os momentos de minha vida, bons ou ruins… Viveu cada momento da luta que enfrentei ano passado quando fui acometida de câncer de mama. Esteve me acompanhando no hospital durante a cirurgia, me fez companhia em todas as sessões de radioterapia e, após minha recuperação, morreu em meus braços de câncer no cérebro”, recorda, com pesar.

Para elas, as pessoas constroem quadras esportivas, playgrounds, academias inteligentes e não pensam em um espaço cercado para que os pets possam usufruir de momentos de descontração.

Pietra, Roseane Jordão e sua cadela Gucci
Pietra, Roseane Jordão e sua cadela Gucci
cachorro
Julie
cachorro
Penélope
cachorro
Bingo 
homem e dois cachorros
Juca, Bingo e Plynio Maciel

 

Julie e Luís Fernando
Julie e Luís Fernando
Administração

A coluna entrou em contato com a administradora do Plano Piloto, Ilka Teodoro, para saber como está o andamento do pedido de construção do parque. Segundo ela, uma liderança comunitária protocolou essa solicitação e, como o objetivo da entidade é atender a população do DF, haverá uma análise técnica para estudar a viabilidade do projeto, “considerando que não existe uma previsão no planejamento urbanístico da região”, reiterou.

Questionada sobre a possibilidade da estruturação de outras áreas de lazer em cada quadra, a administradora informou que nada impede que isso aconteça. “Isso pode ser analisado. A Administração Regional do Plano Piloto deve pacificar essas disputas. Qualquer cidadão pode gerar demanda para a administração, através do núcleo de protocolo que, hoje, devido à pandemia de coronavírus, está funcionando através do e-mail nupa@planopiloto.df.gov.br”, detalhou.

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