Ministro Gilmar Mendes celebra título de Doutor Honoris Causa em festa
O coquetel para homenagear Gilmar Mendes reuniu autoridades, como ministros do STF, o vice-presidente da República e o PGR, Paulo Gonet
atualizado
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“O conhecimento que eu aprendi, quero repassar”, relata o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Com uma trajetória ímpar na magistratura, o jurista também soma uma carreira acadêmica de renome e reconhecimento. Não à toa, tornou-se o segundo brasileiro a receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Buenos Aires, na Argentina. Ele ganhou a honraria no último dia 31 e, como a condecoração merece uma comemoração à altura, houve um coquetel na noite dessa quarta-feira (11/9), no Lago Sul.
A homenagem ao “professor Gilmar” reuniu autoridades dos Três Poderes. Fizeram questão de prestigiar o Doutor Honoris Causa pela universidade argentina o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin; o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL); presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso; o procurador-geral da República, Paulo Gonet; ministros do STF em peso e do Superior Tribunal de Justiça (STJ); além de desembargadores, procuradores, deputados federais e senadores. Familiares, amigos de longa data e alunos do magistrado marcaram presença na ocasião.
Ao lado da esposa, Guiomar Mendes; dos filhos, Francisco Mendes e Laura Mendes; e de outros parentes — a exemplo dos enteados, genro e nora —, Gilmar foi merecidamente homenageado. “Vocês conhecem o Gilmar há muito tempo e a trajetória dele, como magistrado, mas realmente eu tenho de fazer um registro: a atividade acadêmica [dele] encanta”, discursou a cônjuge do jurista. Quando o marido recebeu a condecoração, a advogada viu como uma “oportunidade em comemorar esse importante momento”.
“Encanto de toda a turma”
Entre os amigos que assumiram o comando do microfone para rememorar episódios ao lado de Gilmar Mendes está o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Os dois somam mais de 41 anos de amizade. “São computadas desde a primeira vez que nós começamos a conversar”, revelou. Ao descrever esse vínculo, o PGR salientou: “Ficamos amigos imediatamente e isso foi, para mim, uma grande satisfação”. Ele relembrou de momentos em conjunto na sala de aula do mestrado na Universidade de Brasília (UnB).
“O Gilmar já vinha de uma experiência de estudos na Alemanha e nós percebíamos isso imediatamente na sala de aula, quando o assunto era mais palpitante, todos nós esperávamos o que o Gilmar ia dizer daquele debate, porque ele conhecia tudo de mais moderno que tinha, sempre trazia um argumento que não ocorria a mais ninguém e sabia expor como poucos”, ressaltou Gonet. O PGR acrescentou: “Ele era o encanto de toda a turma, a satisfação dos professores.”
“Quando conheci o Gilmar, ele já dava aula em uma universidade particular em Brasília, justamente na área de direito das obrigações e teoria geral, o que ele somou depois ao vastíssimo conhecimento de direito constitucional, que foi ganhando e desenvolvendo na Alemanha e no Brasil”, complementou o procurador-geral da República. Paulo Gonet prosseguiu: “Ele já era um grande nome quando era o nosso colega [em sala de aula]”.
“Generosidade intelectual”
Para o PGR, o “professor e ministro Gilmar” é um exemplo, ou melhor, “um espelho em que se mira”. “A história inteira dele foi feita com base nisso, com dedicação ao trabalho, com esforço, com entusiasmo… Outra marca que eu vejo do meu amigo: a generosidade intelectual”, mencionou. Paulo emendou sobre o educador não medir empenho em ensinar. “Ele podia estar cansado ou exausto, se alguém vinha e fazia uma pergunta de direito, o Gilmar se renovava e tratava cada pessoa com entusiasmo”, recorda.
Gonet aproveitou para listar toda a “produção fantástica” de Gilmar Mendes. Ao todo, são mais de 150 artigos publicados em periódicos; 98 livros publicados, organizados ou editados; e 100 capítulos de livros. O procurador-geral da República brincou sobre o ministro do STF ter o “verdadeiro Projeto Tamar”. Ao longo da trajetória, o magistrado recebeu o Prêmio Jabuti duas vezes, entre outras honrarias. Também é membro da Academia Mato-grossense de Letras (AML) e da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Aproximação Brasil e Argentina
Ao iniciar o discurso, Gilmar teceu agradecimentos: “Estamos honrados com a presença de todos e ficamos muito felizes com essa homenagem”. O jurista fez uma linha do tempo até chegar ao título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Buenos Aires. “Esta união curiosamente com a Argentina vem de um projeto de um professor, amigo nosso, que é o professor Peter Härbele, de Bayreuth. Eu traduzi uma obra dele, bastante conhecida entre os acadêmicos brasileiros é A Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição”, contou.
“Ele [Peter Härbele] esteve na Argentina e propugnou que nós discutíssemos mais, que nós brasileiros e argentinos nos aproximássemos. Em uma das declarações dadas pelo professor Raúl Ferreyra, ele disse que nós estamos unidos por conta dos alemães, mas sobretudo devido ao professor Peter Härbele. Ele sugeriu que nós deveríamos estar mais juntos do que estamos”, evocou Gilmar Mendes. O ministro do STF morou uma época na Alemanha, inclusive “viveu” de perto a queda do Muro de Berlim.
Quando voltou ao Brasil, Gilmar Mendes, não mediu esforços para contribuir e melhorar o direito brasileiro. “De alguma forma devo ter dado sorte, senão a mim mesmo, e também aos meus projetos, fiz muitas coisas, reformas legais, o processo constitucional de alguma forma tem a minha digital. A ação declaratória de constitucionalidade nasce de um projeto que existia na Alemanha no controle abstrato, mas eu propus no Brasil”, expôs o magistrado, nascido em Diamantino (MT).
“Maiores pontos do meu currículo”
O jurista relembrou de quando passou a trabalhar no governo, inicialmente no Ministério da Justiça. “Brinco sobre sentir muita honra de ter pertencido e que foi uma escola para mim o governo do Fernando Henrique Cardoso. Eu falo que é um dos maiores pontos do meu currículo”, confessou. Gilmar chegou a trabalhar com Pelé, quando o rei do futebol atuou como ministro do Esporte de FHC, entre os anos de 1995 a 1998. Nessa época, houve a aprovação da Lei Pelé.
Conforme Gilmar compartilhou no discurso, trabalhar lado a lado com o rei do futebol tornou-se uma das maiores experiências vivenciadas pelo ministro do STF ao longo da carreira. “Eu acompanhei a Copa de 1970 pelo rádio, assim como a vitória do Santos como campeão do mundo, também pelo rádio. Nessa época, era um outro mundo. O tempo passou e a vida me colocou no Palácio do Planalto trabalhando na Lei Pelé com o próprio Pelé”, reforçou.
“São coisas muito interessantes, não é? É um presente, uma dádiva de Deus. Quando alguém me pergunta sobre algo de interessante que me ocorreu, falo que tive muitas experiências interessantes. Trabalhei com pessoas interessantes e aprendi muito. Nós aprendemos bastante com as pessoas boas. Isso é importante e eu aprendi muito nesse período”, declarou o professor acadêmico durante a homenagem. Um dos episódios vividos com o rei do futebol fascinou o jurista.
A empatia de Pelé em transformar momentos com gestos de simpatia impactaram tanto Gilmar, que decidiu fazer um “altar” para o jogador no gabinete do Supremo Tribunal Federal. Com inúmeras imagens, o espaço dedicado ao rei do futebol costuma ser motivo de interrogações. “Quando alguém passa no gabinete e vê aquilo que parece ser um altar ao Pelé, questionam o motivo de tantas fotos? Eu digo: ‘Eu fui colega dele’. Então, perguntam: ‘Mas em que posição você jogava?’. Eu tenho que explicar”.
Assista ao vídeo:
O ministro do STF finalizou o discurso com uma menção ao livro Oração aos Moços, de Ruy Barbosa, e ao Evangelho de Mateus na Bíblia sobre amar os inimigos. “Tantas pessoas me conheceram ao longo dessa e longa trajetória que eu fico muito feliz de conseguir poder agradecer a todos e a cada um por esse momento de satisfação. Agradeço imensamente a todos que de alguma forma contribuíram para essa caminhada bastante exitosa e satisfatória. Poder olhar esse caminho e dizer: ‘Poxa, de fato, eu vim de longe’”, encerrou.
“Nosso Pelé”
Assim que Gilmar Mendes terminou a mensagem, o ministro do STF Dias Toffoli pegou o microfone para parabenizar o magistrado e exclamou: “Eu não poderia deixar de falar e aproveitando a deixa, mas sendo bem rápido, e fazendo uma tabelinha com o Gilmar. Só dizer em nome de todos os colegas do Supremo: ‘Você é o nosso Pelé. Que Deus o abençoe e continue sempre assim”.
“Nasceu para ensinar”
Em entrevista à coluna Claudia Meireles, Guiomar Mendes revelou que o marido se realiza muito ao lecionar. “A atividade acadêmica renova as forças do Gilmar. Muitas vezes, ele tem de passar em três, quatro lugares, à noite e quando chega cansado, precisa dar aulas de manhã cedo. No intervalo, ele me liga e eu o pergunto: ‘Como está?’. A resposta dele é que lidar, ensinar e o contato com os alunos renova a alma”, reiterou a advogada. Ela completa: “Ele nasceu para ensinar”.
O Doutor Honoris Causa pela Universidade de Buenos Aires também falou com a coluna. “Estou muito feliz. A vida pública é mais visível, a passagem por cargos de carreira pública, mas ter uma carreira acadêmica tem importância para mim”, evidenciou. Aos estudantes de direito, Gilmar Mendes deu alguns conselhos: “Estudem muito, leiam muito, abram a cabeça para fora do direito. Tentem aprender línguas. É o que eu falo para os meus alunos. Se possível, façam intercâmbios. Façam cooperação. A minha vida foi construída assim.”
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Buffet: Renata La Porta
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