Médica explica os perigos do efeito sanfona e como evitar o fenômeno
A médica Georgia Zattar esclareceu tópicos importantes sobre o efeito sanfona, ciclo contínuo de engordar e emagrecer
atualizado
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Subir na balança e notar que está com quilos a menos. Entretanto, pouco tempo depois, o peso perdido retorna até maior. Esse fenômeno de engordar logo após emagrecer não é raro, e passou a ser conhecido como efeito sanfona. O ciclo ocorre devido a uma resposta do organismo à perda rápida ou desequilibrada de massa corporal, o que, consequentemente, pode reduzir o metabolismo. Considerado inofensivo, o processo tende a desencadear uma série de doenças, conforme explica Georgia Zattar, médica à frente da clínica Serena, no Paraná.
Especialista em longevidade e performance, Georgia concedeu entrevista à coluna Claudia Meireles a respeito dos perigos do efeito sanfona. Visto como “normal” por estar relacionado à mudança estética, o fenômeno de emagrecer e engordar foi avaliado como um risco à saúde. Uma pesquisa publicada no New England Journal of Medicine comprovou que esse ciclo vicioso aumenta as chances de apresentar problemas cardiovasculares e até morte prematura.
Pacientes com diagnóstico ou predisposição para doenças cardíacas são os mais suscetíveis às complicações do efeito sanfona, principalmente se tiverem níveis altos de colesterol. De acordo com a médica, quando se perde peso em um piscar de olhos, há uma diminuição de músculo e de gordura, porém, quando se recupera os quilos, ganha-se basicamente “massa adiposa”. “Essa condição faz com que o reganho seja mais fácil do que a perda, pois quanto maior a massa muscular, maior o metabolismo”, ressalta.
Alterações
Por alterar o funcionamento do organismo, o efeito sanfona afeta o trabalho hormonal. Georgia esclarece que quando um paciente perde peso e diminui a massa adiposa, há uma redução de leptina, hormônio responsável por promover a saciedade. Produzida pelas células de gordura, a substância age diretamente no funcionamento da tireoide e das gônadas, ou seja, as glândulas sexuais. “Na medida em que se emagrece, o metabolismo fica mais lento e o apetite aumenta”, destaca a expert em longevidade.
Com o fenômeno, outra substância fundamental ao desempenho do corpo passa por uma elevação: a grelina. Produzido por órgãos do sistema digestório, o hormônio é responsável por estimular a sensação de fome quando o estômago está vazio.
Combo de sucesso
Segundo a médica, existem meios para quem deseja evitar o efeito sanfona e garantir estabilização (e os quilos a menos). Georgia Zattar reforça que a resposta está em oferecer os estímulos certos ao corpo. “Essencial definir um estilo de vida saudável, manter o foco e a persistência. Com o aumento da atividade física e adequação alimentar, buscando sempre limitar as calorias e os horários das refeições, já é possível contribuir de 70% a 80% na perda de peso”, recomenda.
O combo exercício e alimentação saudável atua como o melhor remédio para obter sucesso, em longo prazo, na meta de emagrecimento, conforme enfatiza a expert em longevidade. A instrução de Georgia vai de encontro a algumas dicas compartilhadas na web, em especial, em torno do tópico dieta. Regimes “milagrosos” podem causar malefícios ao corpo e à mente. A médica orienta abrir o olho em relação aos planos alimentares restritivos por funcionarem como um impulsionador dos transtornos ligados à comida.
Não existe milagre
“Adotar dietas milagrosas quando há uma insatisfação corporal leva o indivíduo a se submeter a grandes restrições de grupos alimentares, e pode dar início a uma grave compulsão”, sustenta a especialista em medicina esportiva. De acordo com a profissional, os distúrbios mentais têm impacto na manutenção do peso. Não à toa, pacientes em processo de emagrecimento precisam ter consulta com um psicólogo.
Na maioria das vezes, os transtornos alimentares costumam ter as mesmas origens. Nesses quadros, a obesidade se mostra bastante presente, avalia a expert: “Muitos pacientes obesos apresentam, inicialmente, depressão ou ansiedade, o que evolui para um aumento de peso significativo”. Como exemplo, Georgia cita o Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico. Na condição, há o consumo de alimentos em um curto espaço de tempo. A ingestão exagerada de carboidratos contribui para ganhar quilos a mais.
Ao contrário de dicas compartilhadas da internet, a profissional enfatiza a respeito de aderir a um plano alimentar gradual e progressivo. “Nunca recorra àquelas dietas que prometem emagrecer muitos quilos de uma vez. O organismo deve se acostumar com as reduções de comida”, salienta. Nada de procurar dietas na web ou experimentadas por um conhecido. Após uma consulta clínica, o paciente deverá seguir o plano alimentar montado por um profissional e ter o acompanhamento médico.
“Boa parcela desses transtornos não aconteceria se o paciente tivesse um acompanhamento médico frequente”, garante a expert. Depois de analisar o resultado de exames, os profissionais indicam as terapêuticas mais viáveis dependendo do caso. A medicina integrativa pode ajudar, por oferecer uma abordagem mais abrangente, aconselha a médica formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC—PR), em Curitiba.
Evite!
Para evitar o efeito sanfona, deve-se seguir um plano voltado ao tratamento da obesidade, que envolve não apenas o emagrecimento, mas também a manutenção do peso perdido. “Importante explicar ao paciente sobre não ser apenas o reganho, mas sim o rápido reganho, que aumenta o risco para doenças cardiovasculares”, afirma a especialista em performance.
Confira sete dicas de Georgia Zattar para “secar” sem comprometer a saúde:
1 – Priorizar o consumo de alimentos in natura e evitar alimentos ultraprocessados.
2 – Aumentar o consumo de proteína na dieta.
3 – Praticar atividade física regularmente.
4 – Ajustar o ambiente, evitando a compra de alimentos pouco nutritivos e tendo sempre em mãos o que precisa comer. Não saia da dieta montada por um profissional.
5 – Identificar e aprimorar aspectos comportamentais e emocionais que podem sabotar o seu processo de emagrecimento.
6 – Manter o acompanhamento médico e nutricional, mesmo após o emagrecimento.
7 – Lembrar que a manutenção do peso faz parte do tratamento da obesidade e é um processo ativo. Apenas 10% das pessoas conseguem manter-se com os quilos a menos.
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