Kamala Harris sobre a mãe: “Sou grata à responsável por eu estar aqui”
Filha da indiana Shyamala Gopalan Harris, a vice-presidente eleita dos EUA costuma homenagear a matriarca, sua maior inspiração de vida
atualizado
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“Sou grata à mulher responsável por eu estar aqui hoje, minha mãe, Shyamala Gopalan Harris.” No primeiro discurso à nação dos Estados Unidos como vice-presidente eleita, Kamala Harris reconheceu a importância da mãe no processo de vitória rumo ao trabalho na Casa Branca. Aos 56 anos, a senadora e promotora entrou para a história norte-americana ao se tornar a primeira mulher negra e de ascendência indiana e jamaicana a ocupar o segundo cargo mais alto dos EUA.
Se Kamala é vista como um exemplo de ser humano forte e destemido, por trás de tamanha personalidade impera a figura de Shyamala. Em agosto, a irmã caçula da vice-presidente, Maya Harris, tuitou: “Você não pode saber quem é Kamala Harris sem saber quem era nossa mãe”. A política credita o sucesso de toda a trajetória pessoal e profissional à matriarca. Por vezes, ao longo da carreira e na campanha eleitoral, ela chegou a descrever a progenitora como “a razão de tudo” e “maior fonte de inspiração da minha vida”.
De acordo com a vice-presidente eleita, uma das maiores lições ensinadas pela mãe foi a resiliência, sentimento fundamental para moldar suas crenças. “Sou filha de uma mãe que quebrou todo tipo de barreira. Shyamala Harris não tinha mais que 1,5 m de altura, mas se você a conhecesse, pensaria que ela tinha mais de 2 m. Sou grata a cada dia por ter sido criada por ela”, escreveu, no Instagram. Se estivesse viva, a matriarca apareceria ao lado de Kamala. Ela morreu em 2009 devido a complicações de câncer de cólon.
“Por trás de uma grande mulher, existe outra grande mulher”. A frase traduz a criação de Shyamala dada a Kamala. Como os olhares do mundo estão voltados à vice-presidente dos EUA, a coluna Claudia Meireles foi a fundo na história da matriarca para desvendar quem é a filha. “Não há título ou honra na terra que vou valorizar mais do que diga que sou filha de Shyamala Golapan Harris”, escreveu a vice-presidente no livro The truths we hold: an american journey (As verdades que defendemos: uma jornada americana, em tradução do inglês).
Cientista
No discurso, Kamala chegou a dizer que a mãe, ao sair sozinha da Índia, aos 19 anos, talvez não tivesse vislumbrado a filha conquistar a vice-presidência dos EUA. No entanto, ela acreditava que esses momentos virariam realidade em solo norte-americano.
De família de classe média, a matriarca nasceu na cidade indiana de Madras (atual Chennai). Ao graduar-se na Universidade de Delhi, Shyamala desafiou as probabilidades e decidiu estudar na Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde recebeu o título de doutora em nutrição e endocrinologia.
Com a qualificação de PhD, ela se transformou em uma cientista conceituada em razão de pesquisas sobre o câncer de mama. As descobertas a respeito da doença a fizeram rodar o mundo na companhia das filhas. A indiana atuou na Universidade de Illinois e na Universidade de Wisconsin, ambas nos EUA. Devido ao trabalho, também passou um tempo na França e na Itália, até se fixar no Canadá. Segundo a Breast Cancer Action, o mundo das mulheres afetadas pela enfermidade mudou para melhor graças à atuação de Shyamala Gopalan Harris.
Casamento
Shyamala mudou-se para os Estados Unidos em 1958. Dois anos depois, a cientista conheceu Donald J. Harris em uma reunião de estudantes sobre escritores negros, política e ativismo, conforme relatou o The Mercury News. De origem jamaicana, Donald também fazia doutorado em Berkeley e participava ativamente de movimentos em prol dos direitos civis. Eles se reencontraram em uma manifestação de rua. Os dois casaram-se em 1963 e, juntos, tiveram duas filhas, Kamala e Maya.
As meninas chegaram a frequentar alguns protestos. Do ponto de vista de Kamala, sua mãe fez questão de levá-la como forma de mostrar a importância de lutar por justiça racial e de gênero. “Ela sabia que sua pátria adotiva veria Maya e eu como meninas negras e estava determinada a garantir que nos tornássemos mulheres negras confiantes”, escreveu em seu livro de memórias. Em seu primeiro discurso como companheira da chapa de Joe Biden, a política recordou ir às manifestações em um carrinho de bebê.
Separação
No início dos anos 1970, Donald e Shyamala romperam o casamento, quando Kamala tinha 7 anos. Ao notar que a vida a dois não dava mais certo, a cientista optou pelo divórcio e levou junto as filhas. “Eles não brigavam por dinheiro. A única coisa pela qual eles brigaram foi quem ficaria com os livros”, escreveu em The truths we hold: an american journey. Com a decisão de se separar, a indiana virou uma mãe solteira e, consequentemente, o relacionamento entre as três ficou “incrivelmente próximo”, como definiu a revista Town and Country.
Incentivo
No discurso realizado na Convenção Nacional Democrata de 2020, a então senadora Kamala Harris enfatizou o impacto da matriarca em sua vida até no momento de decidir candidatar-se à Presidência dos Estados Unidos. “Ela era o tipo de mãe que se você chegasse em casa reclamando de algo, dizia: ‘Bem, o que você vai fazer a respeito?’”, confessou em uma postagem no Instagram em 2019. De acordo com a vice-presidente, a coragem e o forte código moral de Shyamala a moldaram como pessoa e política.
“Ela [minha mãe] nos ensinou a sermos conscientes e compassivos com as lutas de todas as pessoas. A acreditar que o serviço público é uma causa nobre e que a luta por justiça é uma responsabilidade compartilhada”, contou a vice-presidente eleita. De acordo com Kamala, a matriarca incentivou as filhas a verem além de si mesmas. Nas universidades por onde passou, ela foi mentora de inúmeros alunos. Alguns estudantes tinham antecedentes semelhantes, como serem os primeiros membros da família a investirem na ciência.
O Los Angeles Times também se aprofundou na vida da mãe da vice-presidente dos Estados Unidos. Na apuração, o jornal descobriu que Shyamala Gopalan Harris era conhecida pela ética profissional e dedicação aos alunos. A pesquisadora precisou se submeter a uma cirurgia nas costas e, em vez de ficar de licença, decidiu trabalhar em um colchão ajustável em seu apartamento diante de uma mar de papéis espalhados ao redor.
Legado
Nos discursos, Kamala afirma sentir falta da mãe. A saudade abre espaço para homenagens e para mostrar o quanto a resiliência de Shyamala influencia sua vida. “Embora sinta falta dela todos os dias, eu a carrego comigo aonde quer que eu vá. Eu penso nas batalhas que ela travou, os valores que me ensinou, seu compromisso de melhorar o atendimento à saúde para todos nós”, escreveu em um artigo no The New York Times, em 2018. Na ocasião, a então senadora abordou a batalha da indiana contra o câncer de cólon.
“Minha mãe me ensinou que servir aos outros dá sentido e propósito à vida. E como eu gostaria que ela estivesse aqui esta noite, mas sei que ela está me olhando de cima. Fico pensando naquela indiana de 25 anos – de 1,5 m de altura – que me deu à luz no Kaiser Hospital, em Oakland, Califórnia”, falou Kamala no discurso de eleita.
Ela acrescentou: “Naquele dia, ela provavelmente nunca poderia ter imaginado que eu estaria diante de vocês agora falando estas palavras: Aceito sua nomeação para ser vice-presidente dos Estados Unidos da América”.
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