Investidores de cripto e o colapso do mercado de ativos digitais
O protocolo, que estava entre os 10 maiores do segmento, perdeu 99% do seu valor em apenas três dias, e impactou todo o mercado cripto
atualizado
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O fundo de uma das blockchains mais conhecidas e promissoras do mercado cripto, a Luna, colapsou. Como consequência, o incidente forçou os investidores a juntarem os “caquinhos do cristal quebrado”. O protocolo, que estava entre os 10 maiores do segmento, perdeu 99% do seu valor em apenas três dias, o que impactou todo o mercado cripto.
O histórico das criptomoedas já foi redefinido em várias circunstâncias. Desde a primeira vez, em 2014, quando o que era basicamente a única bolsa de bitcoin do mundo, o Mt. Gox, implodiu após um hack de quase US$ 500 milhões. Desta vez, o colapso do mercado de trilhões de dólares foi causado por uma forte venda de ativos de risco e pela evaporação repentina de um token digital de US$ 40 bilhões chamado Luna. Ele acompanhava a stablecoin TerraUSD (UST) de US$ 16 bilhões.
Em contraste com os tokens Luna flutuantes, cada UST foi projetado para valer um US$ 1. Uma tempestade perfeita de ganância e tecnologia imatura levou a moeda estável a perder sua credibilidade. Entre os dias 7 e 12 deste mês, cerca de US$ 56 bilhões foram para a Lua, para Marte, Plutão. Em outras palavras, evaporaram!
A perda de tanto capital está forçando essa indústria a reavaliar todo o conceito de alavancagem nos mercados de criptomoedas. E também a refletir e ser honesta consigo mesma sobre a inovação estar muitas vezes mascarada de sentença de morte para toda uma categoria de ativos chamados moedas estáveis algorítmicas (algorithmic stablecoins, em tradução do inglês).
Momento de relembrar
Relembrando o contexto do passado, a Grande Recessão de 2008 foi desencadeada por uma bolha imobiliária na qual os empréstimos subprime foram vendidos como novos títulos imaculados. O colapso provocou uma perda de confiança no mercado imobiliário e um efeito dominó nas instituições financeiras com possíveis perdas.
Da mesma forma, acreditava-se que o stablecoin TerraUSD era infalível até a chegada de seu colapso. As perdas foram amplificadas, porque tiveram como plataforma um software que poucos entenderam (aliás, quem entendeu levante a mão e me explique!). Como esse recurso prometeu riquezas rápidas, caiu no gosto de todos os investidores.
Podemos dizer que muito do que estava camuflado como inovação era, de fato, prejuízo vestido de outra coisa. A boa notícia é que a maioria dos investidores não parece estar em pânico, o que deve atuar como um amortecedor para o mercado cripto.
Ironicamente, isso pode ser devido ao fato de que alguns investidores mais antenados já estavam tirando seu dinheiro da mesa quando Luna e Terra caíram.
De acordo com o diretor administrativo de estratégia de mercados globais da JPMorgan Chase, Nikolaos Panigirtzoglou, o mercado teve “uma diminuição de riscos no espaço das criptomoedas mesmo antes do colapso da Terra”. O que isso significa? Os investidores começaram a reduzir as apostas em cripto no fim de 2021.
Notícia boa
Outra notícia positiva para o mercado desses ativos digitais é a crença generalizada de que o crash do protocolo Luna/UST não irá contagiar todo o ecossistema cripto ou sangrará no mundo financeiro tradicional.
Seria bom se essa saga servisse como um conto de advertência sobre o excesso, levando o mercado a formas mais responsáveis de inovação na indústria cripto. Este colapso pode ser um lembrete de como os esquemas de enriquecimento rápido podem sobrecarregar o bom senso.
Quer aprender mais sobre o mercado cripto que está dando o que falar? Continue acompanhando a coluna Claudia Meireles, na qual escreverei semanalmente sobre o tema, e veja mais informações no meu livro Metaverso Simplificado.
(*) Caroline Kalil é consultora de direito digital, investidora de criptomoedas, colecionadora de NFTs com certificação em KYC Blockchain Professional pela Blockchain Council, e blockchain development pela Consensys, além de autora do e-book O Metaverso Simplificado
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