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Hipnose no parto: técnica propõe menos dor e rápida recuperação

Entenda como a técnica pode ajudar na hora em que a mamãe for dar à luz. Médicas, hipnoterapeuta e genitora dão depoimentos

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Gestante parto doula enfermeira hospital
1 de 1 Gestante parto doula enfermeira hospital - Foto: Getty Images

O Brasil é o segundo país com o maior número de cesarianas no mundo, taxa quase duas vezes superior à dos Estados Unidos. Segundo dados do Ministério da Saúde, o total de procedimentos pode chegar a até 84% em hospitais particulares. Por outro lado, uma pesquisa de outubro de 2020 realizada pela Healthtech Theia apontou que 51% das grávidas mostravam interesse em realizar um parto normal, mas apenas 32% o fizeram por conta do medo da dor.

Para viver o momento mais emocionante na vida de uma mãe, as mulheres estão procurando formas alternativas para dar à luz. Com o intuito de aliviar esse desconforto tão pavoroso, uma nova proposta tem ganhado simpatizantes e hospitais: a hipnoterapia. Atualmente, o parto por hipnose é a opção que se apresenta como “menos invasiva e de rápida recuperação”.

Mulher parto hospital
Mulheres estão procurando formas alternativas para dar à luz

De acordo com a Revista Americana de Hipnose Clínica, a hipnose é útil para ajudar as mulheres grávidas durante o trabalho de parto e no período pós-parto. Um estudo feito pela publicação revelou que as pacientes que optaram pela prática durante o processo experimental apresentaram menos dores e menor consumo de remédios. Esses relatórios foram comparados com documentos da Divisão de Estatísticas Vitais dos EUA, e as conclusões foram as seguintes: das mães que usaram a hipnoterapia, apenas 17% tiveram que fazer cesariana, uma taxa menor do que os 32% das mulheres que não utilizaram essa técnica.

Antes mesmo de dar à luz Archie, Meghan Markle, segundo a imprensa internacional, já havia optado pela técnica. Fontes próximas à ex-atriz revelaram à revista Vanity Fair que ela planejava um parto normal e, para isso, teria buscado pelo hipnoparto. Na prática, a gestante utiliza técnicas de autohipnose para controlar a dor das contrações, como a de respiração e a de concentração.

Para Michael Arruda, hipnoterapeuta, autor e CEO da OMNI Brasil, o objetivo da prática é dar liberdade às grávidas de escolherem se querem uma parição normal. “A nova técnica irá ajudar de uma maneira em que ela ficará consciente de tudo”, comenta. Ele acrescenta que a mãe ainda conseguirá apreciar o momento com o bebê.

Hipnoterapeuta Michael Arruda
Hipnoterapeuta Michael Arruda

Segundo o especialista, a anestesia é, geralmente, trocada pela hipnose. “A técnica é utilizada com mulheres que preferem partos com menos intervenções, de forma mais natural – o que inclusive já foi comprovado que é melhor, tanto para ela, quanto para o bebê”, opina.

O recomendado é que a gestante tenha um contato com a prática muito antes da hora do nascimento, por meio de exercícios e técnicas específicas. “Dessa forma, quando chega o momento do parto, passar pela hipnose já é algo natural e esperado por ela”, diz Michael.

A técnica é segura?

O profissional afirma que a única chance que haveria de dar errado seria caso a gestante tivesse algum medo ou situação mal esclarecida. “Mas, nesse caso, como é a gestante que procura por um processo de hipnose e começa tudo isso muito antes do parto, então ela tem certeza que dará certo, e isso se torna algo natural para o corpo dela”, diz.

“Então a chance de dar certo é de 100%, pois todo o processo depende única e exclusivamente da entrega da própria pessoa, e aquelas que não estão dispostas a passar por isso sequer chegam a procurar pelo serviço”, defende Michael Arruda.

Há contraindicações?

Para o hipnoterapeuta, não. “Se é um estado completamente natural que passamos todos os dias, não tem como haver contraindicações”, esclarece. Efeitos colaterais que podem surgir são, no máximo, um leve cansaço ou uma pequena dor de cabeça, segundo Michael. “São raros os casos, mas pode acontecer algo bem leve, caso ela esteja em um nível de transe que não está habituada. Mas nada que ela já não sentiria naturalmente com a experiência do parto”, orienta.

A ginecologista e obstetra Adriana El Haje, que também cursou hipnoterapia, confirma a tese. Entretanto, é importante ressaltar que há a possibilidade de uma ab-reação, ou seja, uma reação exagerada da pessoa que a faz perder o controle. “Durante o estado hipnótico, nós podemos voltar a ter reações que tivemos no passado. Podemos lembrar de algo que já aconteceu ou ficar agressivos. Mas tem como contornar na hora. O hipnoterapeuta faz a pessoa voltar ao estado de mais tranquilidade, utilizando a técnica da respiração profunda”, salienta.

Ginecologista e obstetra Adriana El Haje
Ginecologista e obstetra Adriana El Haje
O que os médicos pensam?

O assunto ainda divide opiniões. No Brasil, por exemplo, a abertura para a hipnose nos hospitais é muito pequena, defende Michael. “Médicos e enfermeiras tendem até mesmo a criticar. Só ocorre essa abertura quando o próprio médico é hipnoterapeuta – nesses casos, ele até mesmo incentiva e ajuda no processo de anestesia”, declara.

Já Adriana El Haje conta que a hipnose pode contribuir para o momento da concepção. “Ela funciona como uma ferramenta bastante interessante na hora do parto, porque traz leveza e uma conexão entre a mãe e o bebê”, anuncia.

A especialista menciona a recomendação lançada em 2016 pelo Ministério da Saúde nomeada Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal, que indica a hipnose no trabalho de parição. Trata-se do item 35 da seção 6.3, que aborda estratégias e métodos não farmacológicos de alívio da dor no trabalho de parto. O texto sugere: “A hipnose pode ser oferecida às mulheres que desejarem usar essa técnica durante o trabalho de parto, se houver profissional habilitado para tal”.

Mulher grávida hospital parto
O Ministério da Saúde lançou, em 2016, a Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal

A vantagem, na percepção da obstetra, é poder dar à luz sem o uso de medicamentos. Adriana assume que indica o parto normal às pacientes por ser algo mais fisiológico para o corpo. “É uma forma natural de a mulher dar à luz. É o ápice da gestação. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde recomendam que o bebê ‘escolha o dia para nascer’. É bom acontecer de uma forma espontânea”, diz a médica.

Adriana El Haje conheceu a hipnoterapia e chegou a fazer um curso. Ao concluir, trouxe a prática para seus atendimentos. “Hoje, existem até doulas e enfermeiras obstetras que são hipnoterapeutas. Acredito que a hipnoterapia vai se tornar uma especialidade médica. Há comprovações de sua eficácia. É um caminho sem volta”, opina.

“A hipnose é algo que está sendo trazido agora. Tem poucos profissionais na área, mas eu vejo todos os segmentos realizando, como neurologistas, psiquiatras, entre outros. Ainda há colegas que vão contraindicar. É como aconteceu com a acupuntura. Ninguém acreditava na época”

Ginecologista e obstetra Adriana El Haje

Paula Giani Fonseca, que também é ginecologista e obstetra, acredita que a hipnose tem tudo para funcionar no auxílio da analgesia de parto. “Eu acredito muito no potencial da técnica, mas é importante que a gestante entenda que dar à luz é um processo que ela tem que se preparar, e não algo só naquele momento”, cita.

A médica declara que a prática deixa a mulher mais relaxada ou com uma compreensão melhor do motivo daquela dor. “Outros mecanismos tiram a dor, como os medicamentos. A hipnose apenas ameniza. O que muda é a forma da gestante de vivenciar aquilo”, fala.

Paula Giani
Ginecologista e obstetra Paula Giani

Diante disso, Paula salienta a importância de um plano B para o momento da parição. “Se a paciente não optar pela medicação, ela pode se desestabilizar emocionalmente e, aquela dor que antes era tolerável começa a ficar insuportável, sendo difícil resgatar o controle emocional”, anuncia.

Por fim, para a hipnose dar certo, segundo a obstetra, vai depender da aceitação da gestante. “Não adianta você empurrar essa ideia goela abaixo para aquelas pessoas que não acreditam. O que pesa é a individualidade de cada um’’, pensa.

“A hipnose só funciona quando houver um acordo entre as duas partes. A pessoa tem que entender que o hipnoterapeuta está oferecendo e um método que vai precisar mexer com a mente dela e trazê-la para um foco, para aquilo que se está trabalhando no momento”, salienta Adriana El Haje.

“Nunca gostei de sentir dor”

O pequeno Guilherme nasceu no dia 28 de junho. Sua mamãe, Flavia Monzano, hipnoterapeuta e coach em emagrecimento, aderiu à hipnose para o momento da vinda do herdeiro. Moradora de São Paulo, ela contou com o marido, André Veiga, para realizar a técnica. Além de empresário, ele também é hipnoterapeuta e coach.

Em seu relato à coluna, Flavia conta que desejava um parto normal e o mais natural possível, sem intervenções clínicas. Para isso, ela pensou na hipnose. “A técnica me ajudou a preparar a minha mente para que eu conseguisse passar pelo trabalho de parto e chegar até o final. Foi muito lindo e intenso, fundamental para resistir à dor e enfrentar 20 horas de trabalho de parto e dilatação de 10 centímetros”, confessa. “Sempre fui muito sensível e nunca gostei de sentir dor”, completa.

Flavia Monzano
Flavia Monzano

Flavia, porém, afirma que recorreu à analgesia nos momentos finais de sua parição. Para ela, isso deu um fôlego para fazer a expulsão do bebê. “O médico usou o mínimo de anestesia, que foi suficiente para eu fazer mais força. Deu certo e eu fiquei muito feliz”,

A experiência de Flavia Monzano foi satisfatória. Ela comenta que recomenda a técnica e repetiria na gestação do segundo filho. “Vou fazer novamente, sem dúvidas. A técnica funcionou sim, e pode funcionar para outras mulheres”, pondera. E, àqueles que pensam que a prática emite a consciência, a coach esclarece: “Eu vi o meu parto inteiro. Senti as contrações…”.

Flavia Monzano com o marido, André, e o filho, Guilherme
Flavia Monzano com o marido, André Veiga, e o filho, Guilherme
Gestação como um todo

De acordo com a médica Adriana El Haje, a hipnoterapia abrange toda a gravidez da mulher. “Ela fornece uma gestação mais tranquila, faz com que a grávida entenda suas modificações e ajuda em sintomas como náuseas, vômitos, dores, ansiedade, entre outros”, explica.

Pessoas que possuem medo de engravidar também podem contar com a prática, conforme alega Adriana. “É uma ferramenta para ajudar aquelas a perderem o medo de engravidar”, diz. “A hipnose é uma preparação da paciente, desde o pré-parto até o pós”, conclui. Para a especialista, há vantagens até mesmo para a recuperação. “Elas se sentem mais calmas e tranquilas. Há dados, inclusive, de que a técnica diminui o risco de depressão pós-parto”, alega.

Segundo a obstetra, a mulher se mantém consciente o tempo todo. “A técnica ajuda a mãe na hora do transe com frases, palavras e gatilhos. O hipnoterapeuta vai trazendo informações para a mente da pessoa para atingir o estado profundo de relaxamento”, detalha.

barriga gravidez
Pessoas que possuem medo de engravidar também podem contar com a hipnose

Adriana viu resultados concretos. “Há muita melhoras. A gestante fica muito mais preparada, com muita confiança. O tempo de trabalho de parto diminuiu”, revela.

Afinal, como funciona a hipnose?

Michael Arruda explica que a hipnose é um processo totalmente natural da mente. Uma ideia ou sugestão atravessa a barreira que existe entre o consciente e o subconsciente e, então, a parte mais profunda da mente acaba aceitando essa ideia. “É o que acontece, por exemplo, quando nos emocionamos com um filme que sabemos que não é real — por estarmos muito concentrados, a ideia atravessou essa barreira, nosso subconsciente a aceitou como verdade, e permitiu que a emoção fosse liberada, como se o acontecimento fosse real.

“Com relação ao corpo, nada acontece. É literalmente como ver um filme e se emocionar. Você só se esquece de prestar atenção no corpo, porque está muito focado naquelas cenas. O que pode ocorrer é que os hipnoterapeutas são ensinados a incentivar o cliente a relaxar seu corpo totalmente, para que assim se concentre melhor. Mas nada o impede de se coçar ou até mesmo se levantar, se precisar, por exemplo”

hipnoterapeuta Michael Arruda

Na parição, o estado hipnótico vem com a proposta de desviar o foco da dor.

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