Grávida, atriz Carol Monte Rosa fala sobre filme que impactou sua vida
Após participar de Por que você não chora?, dirigido por Cibele Amaral, a estrela compartilha desafios e revela futuros projetos
atualizado
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Brasília é o berço de personalidades que encantam o mundo com seus dons e singularidades. É o caso de Carolina Monte Rosa, que também podemos chamar de Carol, atriz nascida na capital que carrega uma interessante bagagem para contar. Sua mais recente conquista foi estrelar o filme Por que você não chora?, de Cibele Amaral. A obra, que debate sobre saúde mental e solidão, estreou neste mês nos cinemas de todo o país e nas plataformas de streaming.
Mãe de Maya, de 2 aninhos, e à espera da princesa Maitê, a artista está em êxtase com o resultado do projeto. Ao interpretar a personagem Jéssica, Carol revela que sua percepção de mundo foi transformada. “Teve um impacto muito grande na minha vida”, declarou. Sobre o roteiro, seu momento atual, vivenciando a maternidade e a carreira como atriz, além dos desafios impostos pela pandemia, você confere a seguir, com a entrevista que Carol Monte Rosa concedeu à Coluna Claudia Meireles:
Por que Você Não Chora?
Saúde mental nunca foi tão abordada como atualmente. De acordo com uma pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e cedida à BBC News Brasil, mais da metade dos brasileiros declararam que o bem-estar mental piorou um pouco ou muito desde o início da pandemia. Não foi à toa que Cibele Amaral resolveu explorar o tema em seu filme de 2020.
Veja o trailer:
Segundo Carol, a diretora tinha a ideia de trabalhar o tema borderline, um transtorno mental caracterizado por humor, comportamentos e relacionamentos instáveis. “Ela é da psicologia e conhece mais a fundo esse universo. Fizemos uns testes e ela viu potencial. Se empolgou e falou: ‘Vamos fazer um filme”, diz a estrela das telinhas.
Carolina interpreta Jéssica, uma estudante de psicologia que vem do interior e precisa acompanhar uma paciente diagnosticada com borderline. “Não vejo filmes sobre isso. Foi uma experiência muito marcante, pois a personagem é muito fechada. Ela tem uma forma específica de se relacionar e de reagir com o mundo e com suas emoções”, afirma.
Filmada no Varjão e no Sudoeste, em Brasília, e no Olhos d’Água (GO), a obra exigiu todo um trabalho em conjunto. “O Patrick, produtor musical, me ajudou com a voz da personagem. Fora todo o dever de casa, foi só chegar no set com as atrizes de peso e entrar em cena. Com o tempo, vi que fui entrando no nível celular da personagem”, relata Carol.
Por que Você Não Chora? abriu o 48º Festival de Gramado como forte concorrente ao prêmio principal, mas só foi lançado ao público neste mês. No elenco, integram outros rostinhos consagrados, como Bárbara Paz, Cristiana Oliveira, Elisa Lucinda, Priscila Camargo, Rodrigo Brassoloto, Erik Doria, Luciana Martuchelli, Valentina Cysne e Maria Paula Fidalgo. Ambientada em uma Brasília cinza e chuvosa, a trama mostra a relação conturbada entre Jéssica e Bárbara, sua paciente experimental.
Conforme o Metrópoles noticiou no início de setembro, o longa mergulha no encontro das protagonistas, como também nas dicotomias existentes entre as personagens: enquanto Bárbara se mostra uma bomba-relógio, há anos debruçada sobre análises e processo de autoconhecimento, Jéssica é séria demais, sabe pouco de si e, ao contrário de sua paciente, vive mergulhada em uma rotina sufocante.
“Jéssica me ensinou muita coisa. Ela se esconde atrás de uma ‘pseudofortaleza’. Ela é muito autossuficiente. Ela esconde muito os sentimentos e não tem consciência disso. Ela entende que a força dela está no distanciamento das pessoas. E a gente vai vendo que isso nada mais é que medo de se expor e de se relacionar”, descreve Carol Monte Rosa. “Ela não se permite viver”, completa.
A atriz acrescenta que, depois de incorporar a personagem, passou a se questionar muito sobre onde está, quais são suas rigidezes e seus prazeres e, ainda, a forma de educar suas filhas. “Como mulher, nós vemos muito essa coisa que vem de geração em geração de não poder chorar e de ser muito perfeitinha. Hoje, digo para minha filha que é normal chorar e colocar os sentimentos para fora”, fala.
Alcance
O tema da obra de Cibele Amaral foi além da indústria cinematográfica e abraçou esferas acadêmicas e médicas, por exemplo. “Nós tivemos uma série de lives e debates com a Universidade de São Paulo e com várias instituições de psicologia. O respaldo dos médicos foi impressionante. Eles disseram que esse assunto é muito real e que essas personagens existem, sim”, adianta a artista.
“Há muitas Jéssicas por aí. Elas são pessoas invisíveis que, muitas vezes, passam batido, mas que carregam todo um mundo lá dentro. Por isso, é importante cuidarmos um do outro, e cuidar de quem cuida também. As pessoas não buscam apoio, e quando você vê já é tarde demais”
Carolina Monte Rosa
Segundo a famosa, o público que assistiu ao filme tem dado um excelente feedback. “Eles ficaram muito tocados. Eu recebo muitas mensagens sobre isso… Gente que falou que foi fazer terapia por causa do longa, ou que se identificou com a personagem mas não sabe por que”, celebra a atriz.
Carol se sente feliz em ter participado de um projeto tão importante. “É muito gratificante, como artista, porque há projetos que são mais focados no entretenimento. Mas quando você faz um papel como esse, você toca as pessoas, traz sentimentos à tona. E essa troca com o público é muito legal”, conta.
Setembro Amarelo
Setembro foi o mês escolhido para a campanha de prevenção ao suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM), com o objetivo de prevenir e reduzir as intercorrências no Brasil. A temática, segundo Carol, vale ser abordada como uma forma de auxílio às pessoas que lidam com transtornos mentais. “Quando eu li o roteiro, vi que era algo muito complicado. Mas a própria Cibele teve muito respeito e consciência ao fazer esse trabalho”, comenta.
De acordo com Carolina, a cineasta entrou em contato com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e descobriu que o suicídio, antes, era tabu e não podia ser abordado, pois poderia gerar um gatilho em alguém. Agora, a própria organização reconhece que deixar de falar sobre isso não resolve o problema. “Existe uma forma correta de abordar o tema, como coisas que você pode fazer, falar do Centro de Valorização da Vida, através do telefone 188”, pontua.
Carreira artística
Carolina Monte Rosa é formada em jornalismo e administração. Sua carreira como atriz começou nos Estados Unidos, onde cursou e se especializou na área. “Meu caminho foi o contrário dos outros atores. Eu fiquei em Brasília até tarde, saí com uns 24 anos. Normalmente, as pessoas saem daqui mais cedo”, compartilha ela.
A brasiliense residiu em Baltimore e Los Angeles. “Fiz um mestrado na Johns Hopkins, estudei a técnica de atuação Meisner no Elizabeth Mestnik Acting Studio e estudei um pouco dessa técnica também em Nova York. Foram vários cursos lá”, diz.
Após sete anos morando fora, Carol retornou ao país natal e criou uma base na capital federal. Todavia, por dois anos, ela viajava a São Paulo semanalmente. “Peguei um curso também com o Fernando Leal. Foi muito interessante porque eu conheci o mercado no Brasil”, revela. A atriz encontrou uma agente e começou a fazer contatos.
Para a intérprete, o mercado artístico de Brasília é muito diferente do de São Paulo. “Brasília exige de você mais proatividade, no sentido de que você também tem que produzir seus próprios projetos. Você tem que começar a escrever, dirigir, produzir, se experimentar em outras áreas… Não dá para ficar esperando os testes”, garante.
Brasília exige de você uma nova perspectiva como artista
Carolina Monte Rosa, atriz
Mãezona
Grávida de 8 meses, Carol está à espera da pequena Maitê, que será parceira de Maya, filha de 2 anos da atriz brasiliense. A chegada da caçula está prevista para outubro, e a mamãe está ansiosa para ver seu rostinho.
A gestação tem sido um momento curioso para a artista, visto que ela percebeu algumas diferenças entre a primeira gravidez e a atual. “Essa gravidez é bem diferente da primeira, porque tinha um cenário de isolamento e as grávidas não podiam fazer nada antes de vacinar. Fiquei muito assustada, precisei de ajuda. Eu estava neurótica com essa coisa. Mas agora com a vacina já estou super tranquila, com todos os cuidados, é claro”, fala.
Carolina também observou outra distinção entre as gestações: “Quando eu fiquei grávida da Maya, eu via cores muito fortes, tinha uma sensação de euforia. E isso reflete ela. Ela é muito colorida e alegre. Na segunda gravidez, estou mais zen, e até ouvindo reggae. Acho que a Maitê vem mais com outra vibe”, brinca a mamãe.
À caçula, Carol deseja um mundo de prazer. “Eu quero que ela seja muito criança. Nós interrompemos algumas fases na nossa vida, com a necessidade de amadurecer, de crescer logo, de ser bem-sucedido… Eu queria dar para as minhas meninas paz e um ambiente harmonioso e lúdico”, almeja.
Tempo de progresso
A pandemia afetou diretamente a indústria do cinema, isso nós já sabemos. Mas a visão de futuro de Carolina Monte Rosa é otimista. Para ela, o cenário artístico vai voltar com força total, visto que o público está carente por arte e os artistas estão sedentos. “Eles ficaram com ideias incubadas, então, acho que vem muita coisa boa por aí”, contempla.
A situação do Brasil e do mundo diante da Covid-19 não foi nada fácil. Enquanto estava reclusa, entretanto, a personalidade optou por acionar ainda mais o lado criativo do cérebro. “Meu momento criativo foi superlegal porque, enquanto estava isolada, eu precisei da arte para sobreviver. Quando eu vi, estava escrevendo um roteiro”, afirma.
Carol antecipa que esse roteiro nasceu após presenciar uma situação que a tocou fortemente. Ela viu um grupo de moradores de rua perto de sua casa e criou um relacionamento com eles. “Era inverno do ano passado, muito frio e no meio de uma pandemia. A maioria em casa, com uma qualidade de vida, graças a Deus. Mas eu via uma família inteira morando ali fora. Isso me tocou de um nível que, talvez, não tivesse tocado antes, ou que eu não estivesse sensível para ver antes”, explica.
Inspirada, a artista costurou uma história que resultou em um curta, com previsão de ser lançado até o fim deste ano. “Acabou que foi muito produtivo ficar ‘trancada’ em casa”, argumenta.
Novos projetos
Outra novidade adiantada pela estrela da atuação é um edital que está prestes a sair. Infelizmente, ela não pode dar detalhes, mas antecipa que será algo ambientado na pandemia, ou seja, contará com uma história universal, em que muitas pessoas irão se identificar. “E ele mostra a trajetória de uma mulher que, ao se confrontar com outra família de uma classe social completamente diferente, passa por todo um processo de autoavaliação e descoberta, além de questionamento de ‘o que é humano?”, complementa.
Segundo Carol, esse será um filme muito existencialista, mas que “traz um pouco de tudo o que vivemos nesse último ano”.
Por fim, será lançado em breve um longa de terror, de William Alves e Zefel Coffe, baseado em um conto de Machado de Assis, o Lucinda. “Eu faço o papel de uma baiana. A obra aborda essa questão da violência contra a mulher. É outro tema também super atual”, fala Carolina.
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