Gloria Pires sobre a filha Cleo (ex-Pires): “Tem que ser feliz”
Em entrevista para a coluna, a estrela de Éramos Seis fala sobre família, revisita passado e analisa trabalho
atualizado
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Rio de Janeiro (RJ) – Se, na TV, Gloria Pires dá vida à sofrida e guerreira Lola na novela Éramos Seis, da TV Globo – que tem lhe trazido lembranças especialíssimas de um passado distante ao lado de seus pais –, a atriz é puro êxtase fora da telinha. E fala abertamente do orgulho que sente pelas mulheres decididas e cheias de personalidade que as filhas Cleo e Antonia se tornaram.
Também mãe de Ana e Bento, ela garante: dará sempre todo apoio aos quatro rebentos. Isso independe do que resolverem ser profissionalmente ou fazer de suas vidas.
Confira, abaixo, uma entrevista exclusiva com uma de nossas maiores estrelas.
Como está sendo fazer a Lola em Éramos Seis? Você chegou a assistir à versão de 1994, com a Irene Ravache nesse mesmo papel?
Eu li o livro, e ele é bem mais triste e pesado do que a novela, que tem um lado de humor, de romance. Para mim, é uma emoção, porque é uma novela icônica.
Tenho recebido um feedback incrível das pessoas que assistiram à versão de 1994. É interessante, porque eu sinto na nossa própria equipe uma sensação de honra em participar desse projeto, de dar vida, mais uma vez, a essa história.
A novela tem proporcionado fortes lembranças pessoais?
Nessa novela, os álbuns de família estão sendo muito companheiros, e isso me emociona muito. Meu pai e a minha mãe nasceram nos anos 1920. Eu me lembro do meu pai contando as coisas, os detalhes. Ele sempre foi muito detalhista e, ao passear pela cidade cenográfica, fico me lembrando das coisas que me dizia. Identifico a chapelaria, as sacadas, a postura das moças, os carros… Tudo isso que ele me contava – e me fazia viajar – estou vendo na cidade cenográfica. Então, o coração está na mão o tempo todo.
Como você está construindo sua versão da Lola?
Minha Lola não é uma mãe boazinha, mas é amorosa, procura compreender e ajudar seus filhos. É também uma esposa dedicada, que honra muito esse casamento. O fato de ter adquirido a casa é um peso enorme para essa família, que vai fazer de tudo para honrar esse compromisso e ter o imóvel no fim da vida.
A casa é uma personagem também. A Lola está dentro desse ambiente, onde todos são envolvidos pelo amor e pelo prazer de estarem juntos, driblando todas as dificuldades da vida.
Como é contracenar com estes jovens atores que interpretam seus filhos?
Eles são excelentes! Eu já conhecia o Xande [Valois, intérprete de Carlos]. Nós já tínhamos feito Babilônia (2015). Mas os outros – Davi [de Oliveira], Pedro [Sol] e Maria Júlia [Maju Lima] – eu não conhecia. Estou encantada com eles!
É a primeira vez que eu e o [Antonio] Calloni estamos fazendo um casal, e tem sido uma delícia. A Kelzy [Ecard] é uma atriz que admiro há anos, e agora interpretamos melhores amigas. Estou muito feliz mesmo.
O que a mãezona da novela tem em comum com a Gloria da vida real?
O que toda mãe tem. Claro que ninguém é perfeito, ninguém tem uma fórmula, uma receita para seguir. O primeiro filho talvez seja algo mais sofrido, pois existe uma inexperiência. Costumo dizer que o primeiro filho é a faculdade, é a dureza [risos]. Estamos aprendendo, junto ao filho, a ser mãe. Mas é isso. Não tem grandes arroubos, não tem atos heroicos, a não ser os pequenos atos heroicos de todos os dias.
Recentemente, suas filhas Cleo e Antonia foram entrevistadas no Conversa com Bial, da Globo, e muita gente elogiou a educação delas. O que sentiu?
Imagine como eu fiquei! Depois, para dormir, foi uma loucura [risos].
Como é a relação com suas filhas? Afinal, você criou duas grandes mulheres.
Sim, com certeza! Elas são motivo de enorme orgulho para mim. A coragem e a autenticidade delas são marcantes.
Os haters costumam pegar muito pesado com a Cleo nas redes sociais. Como você lida com isso sendo mãe?
Eu acho a atitude dela perfeita. A Cleo tem que ser feliz. Acho que todo mundo precisa se encontrar. Eu nunca tive a expectativa de o que meus filhos iriam ser, porque é tão difícil acharmos o caminho próprio. Eu a aplaudo, assim como a Antonia, a Ana e o Bento no que escolherem ser profissionalmente e na vida que decidirem ter. Apoio total a todos eles!
Como é sua relação com a costura, atividade da Lola?
Eu tenho a maior ligação com a costura, porque minha mãe fazia coisas para mim e minha irmã. O tempo inteiro em que ela estava na máquina de costura, eu estava junto. Isso me traz muitas lembranças, e eu adoro!
Eu sei fazer bordado e aprendi a fazer tricô para a novela, o que também é uma delícia e já virou um vício. É difícil, mas depois que você pega é uma loucura. Não quer largar mais.
Você mencionou o impacto que a compra da casa tem no dia a dia da família da Lola. Você ou seus pais tiveram essa dificuldade no início da vida, de comprar uma casa e tentar manter uma vida estável?
Eu sou filha de ator [o humorista Antônio Carlos Pires, falecido em 200]. Artista, agora, está muito melhor. Por exemplo, temos a Interart Brasil, uma associação de gestão coletiva dos artistas do audiovisual. Isso não existia.
O artista, antigamente, nem sequer podia assinar a carteira como tal. Era como comerciário ou como prostituta. Não tínhamos nossa profissão regulamentada e nem reconhecida. Então, eu e minha família tivemos uma vida difícil, sim. Muito difícil. Mas sempre com um olhar para a metade cheia da garrafa. Uma maneira de ver a vida com positividade, com fé… Não só ver, mas fazer! Suar a camisa e ir em busca do objetivo. Minha família sempre foi assim.
Eu identifico isso na Lola. Com todas as dificuldades que a família dela passa, a incompreensão do marido, a frustração dele quando não é reconhecido pelo patrão… A maneira dela de lidar com esses assuntos é um comportamento que eu via na minha casa. A Lola tem essa coisa positiva, de olhar para o futuro e buscar uma solução.