Falas desenterradas de Trump provam ligação com Epstein e Ghislaine Maxwell
O presidente dos EUA apoiou Ghislaine Maxwell, presa acusada de associação aos crimes de Jeffrey Epstein. Há envolvimento do príncipe Andrew
atualizado
Compartilhar notícia
Nessa quarta-feira (22/7), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participou de uma coletiva na Casa Branca em que o assunto principal era o novo coronavírus. No entanto, uma pergunta feita por um repórter do New York Post chamou mais a atenção. O profissional de comunicação questionou o mandatário sobre a ex-namorada e cúmplice do financista pedófilo Jeffrey Epstein, a socialite Ghislaine Maxwell.
“Eu realmente não estou ciente disso”, disse Trump a respeito de Ghislaine, presa pelo vínculo no recrutamento, tráfico e abuso sexual de menores de idade. O presidente acrescentou à fala: “Eu só a desejo bem, francamente”. O apoio do mandatário repercutiu nos jornais norte-americanos, já que a socialite enfrenta seis acusações do Departamento de Justiça dos EUA. O julgamento está marcado para 12 de julho de 2021.
“Apenas vamos nos garantir que não estávamos alucinando coletivamente a essa resposta bizarra à prisão do suposto cúmplice de Jeffrey Epstein”, escreveu Elie Honig, colunista da CNN, em um artigo publicado. Conforme o analista jurídico, Trump poderia ter dito que não comentaria sobre um caso pendente e que a justiça seria cumprida: “Em vez disso, ele decidiu declarar publicamente seu apoio moral a um suposto cúmplice de um traficante sexual acusado”.
Os desdobramentos da fala de Trump não pararam por aí e respingaram no duque de York, o príncipe Andrew. Em 2015, o presidente dos Estados Unidos participou de um evento promovido pela Bloomberg. Lá, concedeu uma entrevista, que foi desenterrada nessa quarta-feira. Na ocasião, questionaram os casos de abuso sexual ocorridos em Little St James, nas Ilhas Virgens Britânicas, onde Epstein tinha uma propriedade.
“Essa ilha era realmente uma fossa, não há dúvida sobre isso, basta perguntar ao príncipe Andrew. Ele vai falar sobre isso”, disse o mandatário em 2015, segundo o jornal britânico Telegraph. O filho da rainha Elizabeth nega ter visitado a ilha, apesar de registros de voos indicarem que esteve no local privado, tendo viajado no jato particular de Jeffrey Epstein.
O príncipe Andrew é acusado por Virginia Giuffre. A vítima afirma ter sido mantida como escrava sexual e traficada por Ghislaine de Nova York para Londres, época em que conheceu o duque de York, aos 17 anos. O membro da família real nega todas as alegações, apesar de um ex-funcionário do financista revelar que o viu diversas vezes na propriedade, inclusive acompanhado da adolescente.
Bons amigos
Ghislaine deixou a Inglaterra após a morte do pai, o magnata da comunicação Robert Maxwell, em 1991, e fixou-se em Nova York. Na cidade, passou a integrar a alta sociedade, círculo social frequentado por Donald Trump e o príncipe Andrew, quando em viagem pelos EUA. Tempos depois, a socialite inseriu o ex-namorado Jeffrey Epstein nos badalados eventos.
“Eu a encontrei [Ghislaine] várias vezes ao longo dos anos, especialmente desde que morei em Palm Beach. Eles [Ghislaine e Jeffrey] moravam em Palm Beach”, reconheceu o presidente durante o questionamento do repórter do New York Post nesta quarta-feira. Não é a primeira vez que Trump se pronuncia publicamente sobre o casal. Em 2002, ele não economizou elogios ao magnata pedófilo em uma entrevista a Landon Thomas Jr., do New York Magazine.
“Conheço Jeff há 15 anos. Cara fantástico. Ele é muito divertido de estar perto. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais jovens”, contou o político. Inclusive, Epstein foi quem apresentou Trump à terceira mulher, Melania Knauss (atualmente com sobrenome Trump), de acordo com o The New York Times.
O presidente dos EUA, o príncipe Andrew, o financista e Ghislaine tornaram-se amigos, tendo sido fotografados juntos em inúmeras festas. Quando o escândalo Epstein ganhou novos capítulos, Trump revelou ter interrompido qualquer contato com o empresário poderoso. “Eu tive uma briga com ele. Não falo com ele há 15 anos. Eu não era fã dele, posso lhe contar”, disse o político em uma coletiva na Casa Branca, em 2019.
Embora também refute a ideia de amizade com o filho da rainha Elizabeth, não foi assim que Trump descreveu o duque de York, pai das princesa Eugenie e Beatrice, em uma entrevista à revista People, em 2000. “Ele não é pretensioso. Ele é muito divertido”, frisou o mandatário à época. Ele acrescentou ainda que sua mulher, Melania Trump, gostou de conversar com o príncipe Andrew. Segundo o FBI, o membro da família real se recusa a colaborar com informações. Os norte-americanos cogitaram até uma extradição da personalidade britânica.
Entenda
O presidente só foi questionado a respeito de Ghislaine Maxwell devido à prisão dela no início do mês. A socialite estava foragida desde o suicídio do ex-namorado Jeffrey Epstein, em agosto de 2019. O financista aguardava julgamento pelo esquema de pirâmide sexual de menores de idade. Ela se escondeu em uma casa na montanha em Bradford, no estado norte-americano de New Hampshire.
Na audiência realizada por videoconferência na terça-feira (14/7), a juíza negou fiança à socialite pelo risco de fuga. Ela era investigada há meses por associação aos crimes cometidos pelo magnata pedófilo. De acordo com as vítimas, Ghislaine participava das ações de aliciamento, tráfico e abusos sexuais das jovens, sob instrução de Jeffrey. Se condenada pelos crimes de perjúrio e colaboração com o tráfico de menores de idade, poderá passar até 35 anos presa.
Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.