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Experts explicam disfunções hormonais femininas associadas à depressão

A tireoide, o estrogênio/estradiol e o cortisol figuram entre os hormônios que quando estão em desequilíbrio podem influenciar na depressão

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Justin Case/Getty Images
Mulher branca de cabelos ruivos e cacheados está olhando pensativa pela janela, que reflete o seu olhar triste. A imagem representa uma pessoa com depressão - Metrópoles
1 de 1 Mulher branca de cabelos ruivos e cacheados está olhando pensativa pela janela, que reflete o seu olhar triste. A imagem representa uma pessoa com depressão - Metrópoles - Foto: Justin Case/Getty Images

A depressão é um dos problemas de saúde mais comuns em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que mais de 300 milhões de pessoas em todas as idades sofram do transtorno. Estudos ainda mostram que a prevalência é maior entre as mulheres (20%) do que entre os homens (14%).  Além de fatores genéticos, hereditários, químicos e ambientais,alterações hormonais também estão associadas ao transtorno no sexo feminino.

De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, quando os níveis hormonais estão em desequilíbrio, há uma disfunção estrutural nas reações fisiológicas, desencadeando sintomas típicos da depressão, como mudanças de humor, fadiga, distúrbios do sono, baixa libido e falta de motivação.

“Nem sempre os níveis hormonais da mulher passam por avaliações. O médico receita psicofármacos sem considerar que estes sintomas também podem ser decorrentes de disfunções hormonais. Ou seja, as medicações podem atenuar o quadro depressivo, mas o tratamento será comprometido, caso a raiz do problema seja hormonal”, afirma a preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).

Mulher deitada no escuro. Apenas uma listra de luz passa por seus olhos - Metrópoles
Quando os níveis hormonais estão em desequilíbrio, há uma disfunção estrutural nas reações fisiológicas

O sistema endócrino é formado por glândulas que produzem e secretam hormônios, substâncias químicas responsáveis por regular diversos processos no organismo, que vão desde a fome até a libido.

“O problema é quando há desregulação, a exemplo do envelhecimento ou da menopausa, fases em que o corpo passa a produzir menos hormônios”, afirma Claudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Abaixo, confira três hormônios que podem causar sintomas de transtornos depressivos quando estão desequilibrados:

Tireoide

A tireoide é uma glândula situada na parte anterior de nosso pescoço, responsável pela produção dos hormônios T3 (tri-iodotironina) e T4 (tiroxina). Além de controlar o metabolismo, produz uma série de neurotransmissores, como dopamina, serotonina e GABA (ácido gama-aminobutírico), todos envolvidos na regulação do humor. A disfunção tireoidiana faz com que a glândula produza menos hormônio (hipotireoidismo) ou mais hormônio (hipertireoidismo).

A ilustração mostra onde a tireoide está localizada
A tireoide é uma glândula situada na parte anterior de nosso pescoço

“No caso do hipotireoidismo, a baixa produção hormonal gera sintomas como cansaço, sonolência, ganho de peso e falta de ânimo. Já o aumento da produção dos hormônios, no hipertireoidismo, causa aceleração dos batimentos cardíacos, perda de peso, ansiedade e insônia. Nas duas condições, há também quadros de irritabilidade, mudanças repentinas de humor e fadiga crônica”, diz Chang, coordenadora e professora da pós-graduação em Endocrinologia do Instituto Superior de Medicina (ISMD).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a disfunção tireoidiana está diretamente ligada a um terço de todas as depressões, sendo o hipotireoidismo a causa mais comum da doença, atingindo cerca de 50% das mulheres.

Estrogênio/Estradiol

Também chamado de estrógeno, ele é secretado principalmente nos ovários, mas também é produzido em outras partes do corpo, como nas glândulas adrenais. O estradiol, por sua vez, é produzido nas células dos tecidos ovarianos por ação de outro hormônio, o folículo estimulante (FSH). Ele é a principal forma de estrogênio presente nos anos reprodutivos da mulher.

Segundo um estudo publicado na revista Menopause, da Sociedade da Menopausa da América do Norte (NAMS), estas substâncias desempenham um papel importante no risco de depressão entre as mulheres, principalmente na menopausa, quando os níveis hormonais diminuem.

Estes hormônios reprodutivos desempenham um papel importante no risco de depressão entre o sexo feminino

Os fatores psicológicos e fisiológicos mais relacionados com a menopausa envolvem nervosismo, insônia, irritabilidade, alteração de humor, labilidade emocional, problemas de memória, ondas de calor, diminuição da libido e predisposição ao estresse.

“Nesta fase, a queda da produção de estrogênio/estradiol gera uma sobrecarga fisiológica e emocional, favorecendo os quadros depressivos”, reforça Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa de São Paulo, especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

Imagem escura reflete a sombra de uma mulher de lado com olhos fechados e triste - Metrópoles
A depressão é mais comum entre as mulheres do que entre o homens

Além disso, segundo ele, quando a perimenopausa (fase com maiores alterações hormonais) se prolonga além do período normal, a vulnerabilidade da mulher aumenta, e o risco de desenvolver depressão é maior. Em mulheres que já tiveram depressão, o transtorno pode retornar.

“Embora a reposição hormonal seja a melhor estratégia do ponto de vista farmacológico, nem todas as mulheres têm indicação ou podem fazer uso da reposição. Alguns aspectos precisam ser observados, como a via de administração hormonal, as doses e os tipos dos hormônios. Tudo isso tem influência nos riscos e na resposta ao tratamento”, aponta o  especialista em infertilidade pela FEBRASGO e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.

Cortisol

Conhecido como o hormônio do estresse ou da “luta ou fuga”, o cortisol é um esteroide produzido pelo córtex adrenal, dentro da glândula adrenal, localizada na parte superior dos rins. Sua liberação ocorre em resposta às situações de estresse e quando há baixa concentração de glicose no sangue.

Segundo pesquisa da Faculdade de Farmácia da UniRV, em níveis normais, o cortisol é essencial para a sensação de bem-estar, tendo papel fundamental como regulador do sono. Mas, quando desequilibrado, pode causar cansaço, fraqueza, dificuldades de raciocínio e aprendizagem, compulsões alimentares, diminuição da imunidade, além de sinalizar o transtorno depressivo.

O cortisol é essencial para a sensação de bem-estar, tendo papel fundamental como regulador do sono

Outra pesquisa da USP mostra que, em pacientes deprimidos, o Hipotálamo Hipófise-Adrenal pode estar alterado, apresentando sua atividade aumentada ou diminuída. Ou seja, o eixo pode estar tanto em hiperatividade (níveis altos de cortisol) quanto em hipoatividade (níveis baixos de cortisol).

“Normalmente, quem tem altas concentrações de cortisol apresenta quadros de transtornos depressivos. Já a hipoatividade pode desencadear tanto uma depressão moderada como crônica”, diz a psiquiatra Danielle Admoni.

Segunda a médica, entre as mulheres que já convivem com o quadro, o cortisol tende a atingir o pico no início da manhã e não diminui ao longo do dia. “Pelo contrário: novos picos podem ocorrer, e a disfunção de cortisol torna o corpo resistente aos seus efeitos positivos, agravando depressão, ansiedade e dificuldade de lidar com o estresse”, elucida a especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Alguns exames podem verificar a situação hormonal da mulher

Quais exames identificam a desordem hormonal?

Por ter causas multifatoriais, a disfunção hormonal não costuma ser evidente. Daí a importância de fazer exames de sangue para saber o que está em desequilíbrio e qual o nível de descontrole para iniciar um protocolo de tratamento.

Os exames indicados são as dosagens de hormônio folículo estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH), hormônio tireoestimulante (TSH), estradiol (E2), prolactina, hormônio paratireoidiano, T3 total, T4 livre e cortisol.

“Quando se verifica os hormônios como parte de uma avaliação abrangente, é possível entender a associação com os sintomas da depressão e partir para um tratamento adequado ao seu diagnóstico”, finaliza Admoni.

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