Especialista analisa caso Larissa Manoela e ressalta malefícios do trabalho infantil
No Dia da Infância, especialista em desenvolvimento infantil afirma que crianças não deveriam trabalhar — mesmo em carreiras artísticas
atualizado
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No campo artístico, o brilho e o glamour costumam esconder as dificuldades por trás dos holofotes. É muito comum crianças talentosas roubarem a cena em filmes, programas de televisão e na música, mas pouco se fala dos malefícios invisíveis de começar uma carreira artística cedo. Essa discussão veio à tona após a repercussão do caso Larissa Manoela e seus pais.
Nesta quinta-feira (24/8), é comemorado o Dia da Infância, data criada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para refletir sobre a importância dos primeiros anos na formação das futuras gerações.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos da Criança, elaborada em 1924, em Genebra, as crianças devem ter acesso a direitos básicos como alimentação, educação, saúde, lazer, liberdade e ambiente familiar e de sociedade, além de serem protegidas de exploração e negligência.
Embora a fama precoce possa parecer um sonho, ela vem acompanhada de desafios e perigos que podem afetar o bem-estar físico e mental desses jovens talentos. A Coluna Claudia Meireles conversou com Telma Abrahão, especialista em Neurociência e Desenvolvimento Infantil. Segundo a especialista, “crianças não deveriam trabalhar”, mesmo em carreiras artísticas.
“A infância é época de brincar, aprender e se desenvolver sem ter preocupações com atividades profissionais e todos os detalhes que envolve um trabalho, especialmente no mundo digital ou na TV”, explica Telma Abrahão.
A profissional detalha que as experiências da infância têm um papel crucial no desenvolvimento cerebral dos pequenos. “A criança ainda está desenvolvendo sua visão de mundo e percepção de valor. Um trabalho que traga exposição nas mídias aumenta a visibilidade, aumentando as chances dela receber críticas e julgamentos, o que pode trazer sentimentos de culpa e de baixa autoestima”, justifica a especialista.
“Os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o bom desenvolvimento do cérebro da e essa fase da vida impacta a saúde física e emocional do futuro adulto. Já percebeu como todos nós temos marcas ou lembranças da infância? É sobre isso”, analisa Telma Abrahão
Impacto na saúde mental e emocional
O mundo do entretenimento faz com que artistas mirins estejam nos holofotes antes que eles possam compreender as implicações de suas escolhas. E mais: engloba longas horas de trabalho e uma atenção constante da mídia.
“Quando a produção de conteúdo é uma obrigação, a criança passa a não ter tanto tempo livre para brincar, estudar e até para o tédio, que tem sua importância”, conta a especialista em desenvolvimento infantil.
A neurocientista também analisa que práticas de atividades coerentes com a idade e o estabelecimento de conexões emocionais reais, são fundamentais para o desenvolvimento das crianças de maneira saudável. Evitando adultos mentalmente doentes no futuro.
“Quando uma atividade se transforma em uma obrigação, a criança se dedica a focar no que está fazendo e isso pode se tornar uma maneira pela qual mede o seu próprio valor, o quanto ela se vê como boa ou ruim e até mesmo o quanto ela acredita merecer ser amada”, ensina.
Telma Abrahão enfatiza a importância dos pais estarem preparados para proteger os miniartistas. Em recente entrevista, a cantora Sandy explicou que, por ter vivido uma infância exposta, escolheu não mostrar o filho, deixando que ele decida se quer ou não aparecer, quando for adulto.
A profissional em infância concorda com a decisão de Sandy. “Mais importante do que idade mínima é o preparo dos pais para proteger os filhos emocionalmente de toda a exposição. A criança é totalmente dependente, ela ainda não pode tomar as próprias decisões. Essa responsabilidade por zelar e cuidar da imagem da criança, da formação da personalidade, oferecer um bem-estar no ambiente onde ela vive, protegê-la de críticas que possam afetar a autoestima, é dos pais”, analisa.
Artistas que começaram a carreira na infância
A lista de artistas que começaram a carreira ainda criança é longa, e a atriz Larissa Manoela não é a única que enfrentou problemas com os pais no gerenciamento de carreira.
O protagonista do clássico filme Esqueceram de Mim, Macaulay Culkin, teve uma relação conturbada com os pais. Ele foi obrigado a trabalhar exaustivamente e sem direito a férias. Recentemente, o artista passou por problemas com o uso de drogas. Especialistas acreditam que a infância em meio às câmeras contribuiu com esse quadro.
A cantora Britney Spears, que começou a carreira aos 10 anos, tem um dos casos mais famosos de celebridades com problemas com os pais. O pai da artista, Jamie Spears, tinha a tutela de Britney e controlava tanto sua vida pessoal quanto financeira.
Casos de sucesso também existem, como da dupla Sandy e Junior, filhos de Xororó e Noely, e da apresentadora Maisa, que falou sobre o assunto no podcast PodDelas. “Os meus pais me ajudam. Meu pai fez administração, ele cuida de toda essa parte, mas a gente também tem um escritório que cuida disso”, detalha Maisa.
Ainda sobre o trabalho infantil, a especialista em desenvolvimento infantil conclui: “O trabalho infantil é uma questão séria e que precisa ser colocado na balança pelos pais. Eles desempenham um papel crucial na garantia do bem-estar de seus filhos e é importante lembrar que o que acontece na infância não fica na infância, mas impactará a vida e a saúde desse futuro adulto.”
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