Escândalos: psicólogos explicam a problemática de dinheiro e família
Os experts Luiz Mafle e Mara Leme Martins comentam a respeito dos casos de Marlene Engelhorn e Sabine Boghici. Ambos envolvem fortunas
atualizado
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Assistir ao jornal ou navegar pelas redes sociais e se deparar com a notícia, nessa terça-feira (9/8), de que uma austríaca de 30 anos rejeitou a fortuna de R$ 21 bilhões deixada pela avó. Parece inacreditável, mas Marlene Engelhorn recusou receber a bolada de 11 dígitos por acreditar que “não poderia ser realmente feliz” com a farta quantia. Nada como um dia após o outro para surgir algo mais inacreditável. No Brasil, a atriz Sabine Boghici foi presa, nessa quarta-feira (10/8), por dar um golpe milionário na própria mãe, uma idosa de 82 anos.
Não dá para negar que os seres humanos são imprevisíveis. O caso inusitado de Marlene impressionou tanto que a Coluna Claudia Meireles resolveu conversar com dois psicólogos a fim de entender os motivos levados em consideração pela estudante de literatura na hora de não aceitar os bilhões. Quando por aqui se imaginou ter visto de tudo, surge o episódio protagonizado pela modelo e atriz de 48 anos.
Escassez
O rombo cometido por Sabine na mãe atingiu a cifra de R$ 725 milhões em joias, dinheiro e obras de arte. Segundo Luiz Mafle, doutor em psicologia pela PUC Minas e Universidade de Genebra, na Suíça, existe alguma distorção de realidade por parte da modelo. Ele explica que. quando se busca obter muitos bens e valores, provavelmente há o sentimento da falta de algo: “De alguma forma, o dinheiro completaria isso. Há uma crença de escassez”.
“Ela tem a impressão de que falta algo ou teme não ter dinheiro suficiente quando precisar. Também o padrão de vida ou de valores criados são tão elevados que o que se tem no momento se enquadra como insuficiente”, destaca o psicólogo junguiano.
No ponto de vista de Luiz, criar inatingíveis padrões na vida e na própria mente sempre dará a sensação da falta de algo. Ou seja, evocará o sentimento de insatisfação. Trazendo o argumento para a história de Sabine, o especialista esclarece que uma pessoa cogita cometer crimes a fim de conseguir mais dinheiro. Com a ajuda de comparsas, a modelo chegou a agredir e ameaçar matar a mãe, Geneviève Boghici, além de mantê-la sem comida.
Extremos
Conforme enfatiza o doutor em psicologia, os casos de Sabine e Marlene têm “polos opostos do mesmo tema”. “Por um lado, se tem a sensação da escassez que impulsiona a cometer o crime. Do outro, o sentimento de suficiência. Para a pessoa, ela já dispõe do que precisa”, endossa. O expert fala a respeito de todos os temas da vida apresentarem dois limites: “Elas estão vivendo extremos da mesma situação”.
Um dia antes da prisão de Sabine, Marlene Engelhorn “chocou” o mundo ao colocar em prática a máxima “o dinheiro não traz felicidade”. Luiz alega existir estudos que comprovam o contrário. “Pesquisas mostraram que, quando você eleva o ganho de US$ 5 mil por mês para US$ 50 mil, há um acréscimo de felicidade na vida”, salienta. A razão para as pessoas se sentirem mais satisfeitas se resume na frase “nada vai faltar”.
O profissional ressalta que as pessoas, ao conquistarem um aumento de renda, saem de uma zona de desconforto pela sobrevivência para um cenário de considerável luxo. De acordo com o especialista, o “dinheiro aumenta o nível de felicidade, mas não é o único fator”.
Ph.D em psicologia, Mara Leme Martins garante que o sentimento de contentamento e satisfação não resulta de ter uma fortuna, mas sim o uso que se faz do montante. “De fato, o dinheiro não traz felicidade. Entretanto, ele pode gerar muitos momentos felizes não apenas para a pessoa, mas para os que a cercam. Isso pode ser em escala mundial, independente da quantia”, reforça Mara.
Herdeira da empresa química alemã Basf, Marlene anunciou a pretensão de doar 90% da herança. Caso concretize a atitude, a bolada ajudará pessoas em situação de vulnerabilidade.
“Minha avó me deu isso, e eu tenho essa liberdade de usar. Acho que ela ficaria muito feliz, porque tenho algo a fazer com o dinheiro que é muito significativo. É algo bom para mim”, comentou a estudante em entrevista ao portal Der Standard. Ela acrescentou: “O 1% mais rico das famílias austríacas possui quase 40% de todos os ativos. Nas nossas sociedades, a riqueza individual está estruturalmente ligada à pobreza coletiva.”
Recusa
Neta de Traudl Engelhorn-Vechiatto, Marlene continuará milionária, conforme declarou em conversa com a imprensa austríaca. “Estou financeiramente bem porque venho de uma família rica. Eu já tenho uma fortuna, mas isso é pouco comparado ao que ainda vem”, atestou a herdeira. Para Luiz, a austríaca demonstra consciência da decisão: “Ela compreende que o excesso só irá trazer preocupação, extrema visibilidade e riscos”.
O psicólogo ainda diz que Marlene optou por não aceitar o montante de 11 dígitos em razão de poder fazer o que deseja sem precisar do dinheiro. “No caso de Marlene, ela já tem isso em excesso e transborda”, completa.
Na avaliação de Mara, a jovem de 30 anos quis recusar a fortuna por ser um desafio administrá-la. “Ter uma grande soma a ser gerenciada requer grande responsabilidade. O medo em falhar pode trazer um pânico. A pessoa prefere não assumir essa responsabilidade, delegando-a terceiros”, conclui.
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