Endocrinologista lista 10 motivos para não colocar o chip hormonal
Daniela de Paiva enfatiza a falta de estudos concretos para a indicação do dispositivo e as incertezas sobre seus efeitos colaterais
atualizado
Compartilhar notícia
Os implantes subcutâneos hormonais, conhecidos popularmente como chips da beleza, surgiram no mercado como uma alternativa para “restaurar o equilíbrio do organismo”. Composto, geralmente, de testosterona, estradiol, progesterona e gestrinona, o dispositivo é colocado, muitas vezes, na região do glúteo com o uso de anestesia geral.
Segundo os defensores da ferramenta, o item favorece a perda de gordura e o ganho de massa magra. O tratamento é muito buscado por mulheres de “meia idade”, que sofrem com a redução da produção de estrogênio e progesterona. Essa baixa hormonal pode causar depressão, ondas de calor, ganho de peso, flacidez na pele, lapsos de memória a curto prazo, irritabilidade, entre outros quadros.
Apesar das promessas dos implantes hormonais, muitos especialistas ainda hesitam em recomendá-los às pacientes. É o caso da endocrinologista Daniela de Paiva Amaral, que enfatiza a falta de estudos concretos para a indicação do dispositivo e as incertezas sobre seus efeitos colaterais a longo prazo.
A seguir, a médica lista 10 motivos para não colocar o “chip da beleza”:
1 – Manipulação dos hormônios
De acordo com a especialista, embora a palavra “chip” remeta a algo tecnológico, o implante é, na verdade, um tubinho de silicone que é implantado no tecido subcutâneo.
“Ele é composto por hormônios manipulados. E o grande problema dessa manipulação é que não há garantia da qualidade da procedência dessas substâncias, bem como de doses e de como elas são liberadas na circulação da mulher: se é uma liberação errática, se tem períodos de grande quantidade de hormônio na circulação ou períodos de baixa quantidade desses hormônios”, levanta ela.
2 – Efeitos colaterais indesejados e irreversíveis
Para Daniela, na maioria dos casos, os implantes femininos são compostos por gestrinona, um hormônio de ação androgênica, ou seja, ele aumenta os níveis de testosterona na circulação.
“Com isso, temos os efeitos colaterais indesejados, como aumento de acne, da oleosidade na pele e de pelos, e alguns até irreversíveis, como o engrossamento da voz e a hipertrofia do clitóris”, fala a médica.
3 – Riscos cardiovasculares
Segundo a endocrinologista, efeitos colaterais mais graves já têm sido verificados em mulheres que usam os implantes subcutâneos, como aumento do colesterol LDL, que causa placa nas artérias, e redução do colesterol HDL, que é um protetor. “Com isso, cresce o risco cardiovascular nas mulheres em uso”, alerta.
Leia: Entenda a diferença entre o colesterol bom e o ruim
Também, Daniela cita o aumento de casos de trombose pelo efeito hormonal, o que pode colocar vidas em risco; como também diminuição da densidade mineral óssea, que pode resultar em osteoporose e fraturas por queda no futuro.
4 – Câncer de mama, ovário ou endométrio
Ainda não há estudos de eficácia e segurança que evidenciam os efeitos colaterais dos chips. No entanto, a especialista lembra que eles estão relacionados ao excesso de testosterona, podendo desencadear, até mesmo, câncer de mama e de ovário, ou, pela ação anti progestogênica, o câncer de endométrio.
“Só vamos saber no futuro, quando tiver mais tempo de uso. Os implantes ainda são relativamente recentes na medicina”, fala.
5 – Pesquisas tendenciosas
Daniela reitera que os estudos sobre o tema ainda são pequenos e antigos, e que foram realizados com gestrinona via oral para tratamento de endometriose. Já no modo subcutâneo, essas pesquisas foram feitas pelos próprios idealizadores dos implantes, o que sugere vieses científicos que não garantem segurança e eficácia.
6 – Falso ganho de massa magra
Embora o chip hormonal seja uma aposta para a perda de peso e ganho de massa magra, segundo a médica, isso pode não ocorrer se a mulher não fizer atividade física de força, como musculação, funcional ou crossfit. “Então, nem sempre há ganho de massa magra”, afirma.
7 – Aumento de peso
A endocrinologista comenta que muitas mulheres almejam emagrecer, mas o que ela tem visto são as pacientes, às vezes, ganhando bastante peso. “E há uma procura frequente para tratamento de emagrecimento aqui no consultório”, justifica.
8 – Quesito “libido”
Para a profissional, a libido pode aumentar com o uso dos implantes hormonais, mas não necessariamente. “Sabemos que a libido feminina é multifatorial, ou seja, tem vários fatores envolvidos, e a questão hormonal é só um deles”, diz.
9 – Gestrinona como anabolizante
A médica expõe que, atualmente, a Federação Mundial Antidoping já considera a gestrinona como uma substância anabolizante. “E o Ministério da Saúde no Brasil já solicitou à Anvisa a inclusão da gestrinona na Lista C5, lista das substâncias anabolizantes no país”, acrescenta.
“Em breve, pode ser que teremos uma proibição da comercialização desses implantes hormonais, ou mesmo, indicações bem mais precisas, o que não temos até o momento para o seu uso”, frisa Daniela.
10 – Contracepção não garantida
De acordo com a especialista, os chips não garantem a contracepção nas mulheres que estão em uso e que têm idade fértil. Portanto, elas precisam usar outro método contraceptivo para evitar gravidez.
Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.