Embaixadora do Reino Unido revela detalhes da coroação do rei Charles
A embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq, irá à coroação de Charles em Londres. A diplomata conhece o rei e a rainha Camilla
atualizado
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Quase sete décadas desde a coroação da rainha Elizabeth II, em junho de 1953, os britânicos — e o mundo — se preparam, ou melhor, estão prontíssimos para ver Charles sendo cingido, coroado e oficializado como rei da Inglaterra e das nações que compõem a Commonwealth. A majestosa cerimônia será em 6 de maio, na Abadia de Westminster, em Londres.
Com nome na lista dos seletos convidados da solenidade, a embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq, irá acompanhar o evento in loco.
Antes de cruzar o Oceano Atlântico e aterrissar na capital inglesa, a diplomata conversou com a Coluna Claudia Meireles sobre a coroação do rei Charles III. Ela já trabalhou diretamente com membros da família real, a exemplo do próprio monarca, da rainha Camilla e do príncipe Harry. Stephanie contou detalhes da festividade que promete atrair as atenções de todo o globo.
“Eu vou para lá, porque já são 70 anos sem coroação. Será um momento muito importante”, evidencia a embaixadora, que fala português impecavelmente. Por dentro das particularidades da cerimônia, Stephanie compartilhou a respeito de Charles unir o lado tradicional, mas também “trazer elementos olhando para o futuro”. Conforme noticiou a imprensa, a imponente solenidade contará com 2 mil convidados.
Recepção intimista
De acordo com a embaixadora, a programação da coroação começa na noite anterior ao rito religioso. Na sexta-feira (5/5), Charles e Camilla serão anfitriões de uma prestigiada recepção no Palácio de Buckingham, sede da monarquia. O casal receberá os invitados. No rol, estão integrantes da realeza de outros países e chefes de Estados, sendo 100 já confirmados. É o caso do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Esta [recepção] será na noite anterior à coroação. As comemorações no Palácio de Buckingham são maravilhosas. Eu estava lá na recepção para o funeral da rainha”, confidencia Stephanie Al-Qaq. Ela complementa: “O rei estava convidando líderes religiosos, pessoas, por exemplo, da área de sustentabilidade e filantropia. Algo muito importante para [ele] mostrar um pouco da diversidade”.
Carruagens
Na conversa, a diplomata pontuou partes importantes da coroação. Segundo a embaixadora, Charles sairá de carruagem do Palácio de Buckingham para a Abadia de Westminster. Seguindo as tradições, o rei será transportado no veículo anteriormente usado por sua mãe, a saudosa rainha Elizabeth II. Ao chegar no monumental templo, clérigos da Igreja Anglicana darão início aos ritos. “Charles vai entrar e fará todo o elemento formal”, destaca.
Stephanie salientou sobre a carruagem ter sido desenvolvida para o Jubileu de Diamante da falecida rainha Elizabeth, isto é, a celebração de 60 anos de reinado da mãe de Charles em 2012. Para retornar ao Palácio de Buckingham, o rei fará o trajeto em outro veículo. “A carruagem do trajeto de volta, essa sim, é muito mais antiga”, pondera.
Juramento privado
Um dos momentos mais significativos da coroação é quando o monarca precisa tirar todas as capas e símbolos de riqueza para fazer o juramento divino. “Ele tem de fazer um compromisso diante de Deus para proteger a Igreja [Anglicana]. Primeiro, faz esse trato com a Igreja e, depois, com o povo do Reino Unido. Charles é rei dos outros territórios e, por isso, vamos ver esses elementos também”, lista.
Poucas pessoas assistem a essa parte da coroação, mais íntima e privada. Após dar sua palavra, o soberano volta a colocar os ícones de majestade. A celebração religiosa será dirigida pelo atual arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder da Comunhão Anglicana. Inclusive, a embaixadora do Reino Unido conheceu o bispo sênior em um treinamento sobre negociar países: “Gosto muito dele. É uma pessoa maravilhosa e tem experiência nessa área”.
Acredita-se que a missão de coroar Charles será do arcebispo de Canterbury. Principal peça das joias da realeza britânica, a coroa de St. Edward, a ser colocada na cabeça do rei, é cravejada com mais de 400 pedras preciosas. O monarca ficará um curto período de tempo com o majestoso acessório por ser pesado, com 2,23 quilos. O adorno mede 30 centímetros de altura. Já o trono em que o soberano se sentará soma mais de 700 anos.
Temas escolhidos a dedo e músicas inéditas
Outros dois tópicos abordados por Stephanie se referem ao tempo de duração da cerimônia e de uma implementação ordenada pelo rei. “Vai ter a participação de várias religiões e será um pouco diferente da coroação da rainha”, acentua. A diplomata comentou sobre Charles integrar quatro temas e querer deixá-los bastante visíveis em detalhes do evento: “Ele está introduzindo elementos e trouxe a juventude, comunidade, diversidade e sustentabilidade”.
Atendendo à súplica de Charles, a coroação terá novas músicas, feitas especialmente para a ocasião, conforme destaca Stephanie Al-Qaq: “O rei pediu para compor 12 novas canções para serem entoadas e apresentadas durante a cerimônia”. Segundo a embaixadora, o monarca prestará alguma homenagem ao falecido patriarca, o príncipe Philip: “O pai dele era da Grécia. Ele quer fazer algo com a música grega”.
Possível viagem do rei ao Brasil
De acordo com a diplomata, Charles não abre mão de ter uma coroação diversa em vários quesitos. À época em que era príncipe, abordava assuntos relacionados ao clima, biodiversidade e povos indígenas, a exemplo da situação dos Yanomamis. “Realmente, o rei colocará isso dentro do evento por se importar muito com as pessoas”, frisa. Stephanie lembrou sobre o comandante do trono ter sido influenciado nas visitas feitas ao Brasil.
O soberano esteve em solo verde-amarelo por quatro vezes, sendo elas em 1978, 1991, 2002 e 2009. Nas turnês brasileiras, o rei conversou com comunidades tradicionais a respeito de maneiras para proteger a Floresta Amazônica. Enquanto estiver à frente da Embaixada do Reino Unido, Stephanie não medirá esforços em trazer a majestade britânica para uma viagem ao Brasil.
“Eu vou fazer tudo. A visita dele foi tão emblemática. As pessoas que estavam aqui se lembram até hoje”, endossa a diplomata. Em novembro, Stephanie conversou com o monarca. Ela foi a primeira embaixadora com quem Charles falou após se tornar rei. “Uma honra, mas eu estava um pouco nervosa. Cheguei lá, sentei e falei com ele por bastante tempo sobre a situação do Brasil”, rememora.
“Conversamos sobre o Brasil voltar ao palco internacional na área de meio ambiente, clima e biodiversidade; como o Reino Unido pode ajudar o Brasil; e dos compromissos feitos pelo presidente Lula. Falei que o Brasil quer sediar o COP-30 e ele disse: “Ok”. Comentamos a respeito de como o que fizermos nos próximos anos irá direcionar os próximos mil anos. Realmente, há oportunidade no Brasil, mas também há desafios”, reforça.
Stephanie compareceu à cerimônia mais recente de posse do presidente Lula, em janeiro. Na ocasião, levou uma carta pessoal do soberano ao chefe do Poder Executivo. Na avaliação da embaixadora, os brasileiros carregam uma visão austera de Charles um tanto quanto equivocada: “O rei tem um perfil diferente, na realidade. Quando você conversa com ele, fala com uma pessoa normal, que quer te ouvir”.
Em relação a Camilla, a embaixadora a define como “engraçada” e “bem-humorada”: “Ela tem um compromisso muito forte com a família real. O povo do Reino Unido pode ver isso”. Quando Stephanie se dirigiu para conversar com Charles, a rainha consorte se encontrava na sala. A diplomata recordou de uma viagem do líder da monarquia britânica pelo Brasil: “Falavam para o rei ficar em um canto. Ele, então, dizia: ‘Não. Eu quero conversar com essa criança’. E saía”.
Interação divertida com o príncipe Harry
A embaixadora do Reino Unido teve contato com o príncipe Harry. A conexão aconteceu na visita do duque de Sussex ao Brasil, em 2012. À época grávida, Stephanie vivenciou uma situação divertida com o caçula do rei Charles. O integrante da realeza brincou com crianças na praia de Copacabana e fez uma corrida de volta ao Windsor Atlântica Hotel, no Rio de Janeiro. No complexo, ele pediu um sanduíche.
Gestante, Stephanie Al-Qaq também havia solicitado um sanduíche. Quando o garçom trouxe o prato, a diplomata comeu e, em seguida, Harry fez a seguinte brincadeira: “Ele veio e perguntou se eu gostava do sanduíche dele que eu tinha pegado. Comentei sobre ter pedido também. O príncipe foi muito simpático”.
Até então, a embaixadora não acompanhou William e Kate Middleton em turnês, mas ficou ao lado da princesa de Gales no funeral da rainha Elizabeth II, em setembro do ano passado.
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